domingo, 23 de dezembro de 2012

Futuro

Dias bons. É o que eu espero de agora em diante. Dias de luz, dias de paciência e maior compaixão. Acredito que a paciência não seja apenas um substantivo corriqueiro, vai muito além disso, a paciência é uma necessidade mundana e urgente.

Assim como a compaixão, tão conhecida e tão pouco exercitada. Espero por dias melhores, espero grandes coisas. Tenho em mim um desejo enorme de tornar infinita essa teimosia que me é característica.

Teimo em querer demais do mundo. Querer demais dos outros. Querer demais de mim. Teimo em permanecer fiel e seguir à risca tal intuito. Quero e teimo e não julgo nada disso desnecessário. É preciso enxergar a linha do horizonte e querer e teimar, mesmo desconhecendo o que há além de seus limites.

Cada novo dia é um novo ciclo que se inicia. Despertamos habitualmente e, partindo do pressuposto de que isso é um fato, algo inevitável, por quê não se adequar às possíveis bênçãos que uma linda manhã pode nos proporcionar? Viver é mais que um compromisso, é algo esplêndido e sua prática deve ser levada à exaustão. Viver é bom. Viver intensamente é ainda melhor.

Desperto, mesmo que contra a minha vontade, abro os olhos e pronto. Nada é mais do mesmo. Bom dia, dia. Futuro, como conhecemos. Planejamento, obstinação, um conjunto de fatores e ideais de longo prazo. Como fazer dar certo? Como atingir meus objetivos? Como chegar naquele lugar? O tal do lá, do qual tanto escuto falar.

O caminho é o fim, mais que chegar. E assim compreendo cada vez mais minha existência, minha missão. Seguir em frente. Vida que segue. Bonito esse saber,  de que o fechar dos olhos não significa propriamente morrer. Hora cerrados, hora bem abertos. Nem sempre obedecendo às normas naturais. Não seria devanear demais pensar que às vezes enxergamos mais sem utilizá-los.

Um lindo dia, com aroma de alegria e uma leve brisa de boas intenções. É o que desejo para amanhã. É o que desejo para todos os próximos dias da minha vida. É o que desejo para amanhã e para todos os próximos dias da sua vida. Afinal, estamos todos juntos. Partilhamos de um todo, somos apenas um. Onipresença, mais que um adjetivo, uma crença, possível realidade, provável finalidade, união.

Para esses tantos dias ainda tão desconhecidos.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Presente

Esta pode ser a última noite das nossas vidas, para quê se preocupar? Amanhã poderemos nos dar ao luxo de sequer despertar.

Últimos instantes, quem poderá nos certificar? Aproveitemos os minutos que ainda temos. Não há o que temer, nem devemos nos conter, viver é isso. Olhos fechados à beira do precipício.

Adrenalina. Batimentos no compasso de uma escola de samba. Mãos trêmulas, pernas bambas. O mundo por acabar... e é só de amor que quero me embriagar.

Não existe ontem, não existe amanhã. Existe o agora, este raro e exato momento de amor vertendo de nossos corações. Instante, onde vivemos, segundo após segundo. Presente, como o nome já diz.

Um sussurro induz à máxima ventura. Então fecho meus olhos e acaricio seu corpo. Penso na luz. Sua vida junto à minha transborda sinceridade, felicidade pura. Amizade e muito mais do que isso. Celebrações e vibrações intensas.

Dois corpos dançando a dança de um novo ciclo que se inicia. Loucos por inteiro, protagonistas de um capítulo mágico na espiral do tempo. Sem medo de amar, sem medo do que há por vir. Indiferentes aos olhos alheios, sem medo da vida, que agora, se revela plena.

para minha protegida.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Passado

Olá querido, como tem passado? Escrevo este conjunto de palavras de maneira a agradecer por tudo que sou e que talvez possa me considerar hoje. São vinte e cinco anos e mais um tanto, quase vinte e seis. Quase vinte e seis anos de vida. Nove mil, quatrocentos e quarenta e nove dias de uma busca incessante, que, com o vigoroso e inevitável passar do tempo, trouxera-me até aqui.

Não tenho memória de elefante para detalhar cada um desses tantos dias, mas lembro-me de casos e contextos diversos, momentos únicos, fases e épocas impossíveis de se explicar, até porque, não existe sentido algum em explicar qualquer coisa dentre essas tantas coisas que fizeram-me chegar onde estou.

O que fica, de fato, cada vez mais evidente, é a bagagem acumulada. As experiências, as mudanças muitas, os caminhos trilhados, assim como todos os seus desvios, quase sempre, de ímpeto. Nada do que fui, deixei de ser, apenas convivo com a realidade de que hoje sou uma pessoa completamente diferente da qual era há quinze anos. O que permanece, e disso não tenho a menor dúvida, é a essência.

Como saber que aquela criança ingênua viria a se transformar no que me transformei? Quem poderia dizer, há quinze anos, que estaria eu, fazendo o que faço agora? Seguindo o caminho que sigo, crente das crenças às quais acredito, cultivando valores aos quais julgo indispensáveis? Quem poderia dizer que aquele menino franzino seria quem sou hoje?

Uma busca incessante. Uma procura sem fim. Um correr atrás sem findar de fôlego. Para chegar onde cheguei e não encontrar as tais respostas que faço a mim mesmo desde o dia em que nasci. Talvez seja este o magnífico sentido da vida, viver de meias certezas.

Afinal, que graça teria tal estadia, não fossem as expectativas, os tombos doloridos, o aprendizado contínuo e as grandes surpresas? Que graça teria viver, sem morrer de amores e dúvidas, sem o peso na consciência, sem a dor de cotovelo e todos aqueles sorrisos sinceros? Que graça teria respirar, não fossem os suspiros, os arrepios, a saudade e todas aquelas lágrimas para hidratar nossas bochechas?

Apenas vivendo para perceber e ousar responder. E viver requer uma certa dose de paciência. É preciso tempo. Tempo que nos fez presentes, mesmo que diferentes e separados, em pontos simultâneos na imensa linha dos desavisados. Inclusive aqui, agora, onde o mundo não acaba, para o delírio dos desesperados. Tempo que não pediu passagem, quando viu, passou, e se passou, virou passado.

Tempo que só tenho a agradecer, enfim...  muito obrigado!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Minha Casa

Numa dessas tantas ruas perdidas pelo emaranhado da cidade, existe uma casa. Uma casa construída muito antes de eu pensar em nascer. Uma casa em meio à verticalidade dos prédios e construções cada vez mais altas. Mas isso não vem ao caso, vou ater-me à velha casa e suas janelas rústicas e suas portas rústicas e sua rusticidade inteiriça.  

Essa é uma casa de chão sujo, porcelana italiana gasta e imunda. Onde piso, onde caminho, onde trafego em perfeita harmonia. Uma casa de chão sujo e paredes sujas. Descascadas pelo tempo, pedaços de tinta que teimam não permanecer junto à estrutura. Uma casa de chão sujo, paredes com camadas de tinta pendurada e goteiras no velho telhado de telhas quebradas, por onde o sol raspa e adentra os mais variados aposentos.

Aqui não me sinto sozinho. Esse é um lugar ao qual posso chamar de lar. Como se cada centímetro desse imenso quadrado me completasse de maneira singular. Como se a sacada do quarto fosse uma espécie de trampolim para a eternidade. O que não escapa de ser, de fato. Basta debruçar-me em seu parapeito para avistar a imensidão cósmica de uma noite maravilhosamente estrelada.

Milhares de histórias, de um bocado de gente diferente, ligadas apenas pela sua presença. Aqui, aprendi a ser homem. Aqui aprendi a amar. Fora aqui que aprendi a esquecer e a perdoar. Nessa boa e velha casa, aprendi a cozinhar, a escrever e a suspeitar, de coisas que pudessem não ser tão incríveis do lado de fora, como eram em seu interior.

Aqui vivi boa parte da minha vida. E daqui levarei lembranças para todo o resto dela. Percebo o olho brilhar e se banhar de lágrimas a cada trecho deste texto. E sinto que estejam longe de ser lágrimas vãs. Sei que mais uma etapa está se encerrando, e que meu tempo aqui será cada vez mais curto. Bom saber que anos e mais anos de convivência criaram um respeito mútuo e uma boa quantidade de lembranças inesquecíveis. Textos infindáveis, fotografias diversas, muita coisa pra contar.

Grato por tudo, inverto o jogo e faço dessa pequena folha de papel, seu trampolim, para uma eternidade gloriosa, descrita por alguém que amou, acertou e errou diversas vezes sob seu olhar de alvenaria. Quem diria, minha casinha, quem diria.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Raios Ultravioleta

Uma bela manhã, raios de sol cortam o vento e ardem em minha pele branca. Caminho pela areia, ninguém ao meu redor. Molho meus pés na espuma das ondas, o frio da água é um verdadeiro alento para o calor infernal.

Plena quarta-feira, e eu aqui refletindo profundamente. Praia, esse é o nome que demos para tal conjunto de fatores. Água, areia e sal. Água, areia e sol. Demonstração gratuita de grandeza, exibição impecável de uma natureza que busca a cada dia um pingo, para não dizer uma gota, de sobrevida.  

Respeito sua existência, faço um minuto de silêncio. Sinto um imenso pesar, queria que tal local permanecesse deserto. Pelo conjunto de pegadas, percebo não poder levar tal devaneio à diante. Muitas pessoas gostam de se refrescar à beira mar. E se aqui agora estou, não posso simplesmente proibir que outros também estejam.

Mas não há ninguém. Estou só. E isso é muito interessante, de uma maneira bastante peculiar. Atrás de mim, toneladas e toneladas de concreto. Arranha-céus mal localizados, repletos de gente e mais gente e mais concreto. Olho novamente para todos os lados, duas pessoas há alguns bons metros de distância, apenas.

Descuidado, estou sem protetor solar. Minuto a minuto percebo a alvura de minha tez dar lugar a um rosa cada vez menos tímido. Paulistano vai à praia para sofrer as conseqüências. Isso provavelmente irá me incomodar e muito, mas não dou tanta importância, prossigo junto às minha ideias, não me movo um centímetro sequer.

Sou pequeno, diante de tanto conteúdo. O mundo é grande e eu não sei se dou conta. Fico pensando no porquê de estar aqui. Como cheguei, de que maneira vim parar justamente nesse pedacinho de chão. Deve haver um bom motivo. Talvez, por força do destino, estava escrito em algum lugar, que na manhã dessa quarta, não poderia estar em qualquer outro. É aqui e agora. E provavelmente não haveria de estar fazendo outra coisa. Eu, meu caderno e minha caneta, escrevendo uma porção de abstrações desconexas. Ou quem sabe, muito bem conectadas.

Não trouxe meu celular. E por falar em conexões, creio que não existam ondas de sinais wi-fi nesse pouquinho de chão.  Nem preciso. Faço questão de não ser encontrado. Às vezes o ser humano carece de tais situações. A solidão não deve ser encarada como um momento de tristeza ou raciocínios vãos. A solidão e o silêncio são de imensa serventia, quando se quer chegar a algum lugar, mesmo que dentro de si próprio.

Minhas conclusões são várias. Penso em diversas outras possibilidades. Me energizo com o passar do tempo e agora de pé, trilho o caminho de volta. Hora de retornar ao mundo real, ao qual me acostumei. Hora de arder à beira do asfalto, hora de dizer adeus ao contraste radiante de água, areia e sal. Hora de partir. São dez horas e ainda não comi.

A única vantagem de toda esta concretude, nesse momento, é a padaria de esquina e seus pãezinhos na chapa. Nada melhor que um pão na chapa e um cafezinho. Bom dia.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Como Namorar Uma Equatoriana?

Ela não conhece a minha cidade. Veio uma vez e ficou pasma com o ritmo da metrópole. Disse um monte de bobagens e riu da minha cara, bairrista que só. Andou de cabo à rabo e conheceu tudo o que havia de interessante dentro do circuito cultural paulistano. Eu nunca fui para lá, nunca pensei em ir e ainda não planejo embarcar num vôo livre rumo à terra dos panamás (sim, os tais chapéus vêm de lá).

Ela não sabia o que era samba, tampouco feijoada. Nunca havia bebido cachaça ou fumado um cigarrinho tupiniquim. Dançou numa roda em praça pública, distribuiu abraços, viveu a alegria da selva de pedra e fitou-me com olhos satisfeitos. Há quem diga que a primeira impressão é a que fica. Depende, nesse caso, prefiro dizer que a segunda fora capaz de prevalecer.

Sua língua e minha língua travaram batalhas incríveis. Em todos os sentidos. Uma língua difícil de comparar, difícil de compreender, mas incrivelmente fácil de se beijar. E isso fizemos até demais, tanto, que depois de certo ponto, não havia qualquer necessidade de se comunicar de outra forma. Utilizávamos nossas bocas parar sinalizar qualquer desejo, qualquer ensejo, qualquer lampejo de tudo o que fosse possível.

La chica hablaba con un poquito de dificultad, pero, para mí, no havía problema ninguno. Como disse anteriormente, não fazíamos mímicas. Se não fosse capaz de interpretar perfeitamente seus códigos, sabia que, por mais que pareça loucura, um beijo traria toda a cura necessária para o sucesso de tal interlocução.

Ela dizia "hola" e eu logo pensava besteira. Ela repetia e eu apenas ria. Era hola pra cá, hola pra lá, e eu só conseguia pensar na tal marca de camisinha. Enfim, como namorar uma equatoriana? Ando pensando seriamente a respeito. Não consigo vislumbrar uma vida em solo quichua, também não a vejo tomando chuva pela terra da garoa.

Talvez não seja a melhor hora para tal devaneio, mas, puta que pariu, desembarcarei em Guayaquil?

domingo, 9 de dezembro de 2012

Trilogia de Amor

II - Sobre o Encontrar

Tenho uma mania estranha, dessas que as pessoas têm e não comentam com ninguém. Não considero uma mania bizarra e nem tanto incomum, porém, não a comunico por aí nem a exponho em outdoors. Falo sozinho, confabulo comigo mesmo durante horas. Falo, rio, choro e falo mais um pouco, como se somente eu fosse capaz de entender a mim mesmo. E acredito que isso não soe como uma bobagem infundada.

Quem mais pode saber de mim, além de mim mesmo? O que vêem e o que sabem é apenas o que está na vitrine da minha vida. O interior é meu. Por mais que cogitem, não podem afirmar. E digo isso apenas para fins de constatação. Ninguém me conhece o suficiente para julgar, juiz de mim mesmo, esse sou eu. E sou porque posso.

Numa dessas conversas pessoais, dei-me conta de um incômodo. Silêncio e solidão em demasia. Falar consigo mesmo pode parecer sinal de loucura, quando se percebe o fato de estar se tornando rotina. Tanta gente por aí, tanta gente por aí.

Um recado, um pedido de socorro, uma visita, um oi, um abraço, um beijo, uma bela noite de amor e sono. Outro recado, outra visita, outro oi, desta vez sem abraço, direto ao ponto. Belíssimas noites de amor e sono. Guardei meu grilo falante na gaveta. Agora podia falar o quanto quisesse, pois mais do que qualquer outra coisa, descolei um ouvido.

Um ouvido paciente e gostoso de morder. Idas e vindas, espaços que parecem intermináveis, preenchimentos fantásticos. Qualquer segundo ao seu lado parece uma década. O tempo corre  contra nós. Uma semana tem a triste duração de um dia. E pela lógica matemática, um mês com ela parece durar quatro. Quatro dias. Que sejam então, quatro dias de amor e brilho nos olhos.

Amantes não ligam para o tempo.

Em certos momentos, o silêncio e a solidão me presenteiam de maneira interessante. Quando menos se espera, algo incrível acontece. A vida é, de fato, a grande arte do encontro.  Como quando uma tela em branco encontra a beleza das cores, eu a encontrei. Inesperadamente surpreendente e inexplicavelmente tardia.

Seus caminhos levaram um bom tempo para cruzar com os meus. Antes tarde do que nunca. Agradeço ao destino pela lembrança. Encontrei alguém capaz de encontrar a mim. Isso soa muito suficiente e satisfatório, não vejo outro sentido para a existência humana, senão viver de encontros, duradouros ou não.

Amantes não ligam para o tempo.

Quem liga para o tempo é desligado da vida.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Manual de Reparos

Que tanto complicada fora tal intenção. Querer chegar em certo lugar, sem saber como, sem ideia qualquer ou itinerários psico-latejantes. Segui a linha da consciência e perpetuei meus pés em sua estrada. Hora senti medo, hora absoluta coragem. Para tais intentos é preciso uma pitada de cada qual.

Verdade que não segui um caminho solitário. Verdade que me escondi de muitos, e a outros tantos, deixei-me levar profundamente. Saboreei das novidades como um diabo faminto. Em goles generosos, embriaguei-me do novo. Enchi a cara, ressacas inesperadas em companhias surpreendentemente boas. Há um quê de inesperado em tais situações. Virtuosismos de lado, abraços demorados e tão ternos quanto um coração de mãe.

Se você parar para ouvir, aquilo que de fato faz parte do que se pensa, verá que nem tudo é algo a se desperdiçar. Tempo, tempo, tempo. Minutos que enlaçam minhas mãos em seus cabelos. A existência carece de tais sinceridades. Arrepios, sustos, amor e ventura. Delícia é tragar a vida sem pressa, e se possível, diariamente.

Agora eu sei o tanto que perdi, o tanto que me fiz recluso às mazelas de um querer preguiçoso, às influências negativas e coisas do gênero. Despertei de um pesadelo, livrei-me de vampiros sugadores de sangue e agora percebo o tanto que tenho a meu favor, caminho de pedras, pedregulhos, mourões, buracos e curvas intensamente deslizantes.

Não saber para onde ir pode parecer fraqueza, e que bela coisa é essa. Enquanto os que se julgam sabidos do assunto seguem por caminhos trágicos, sigo meu caminho de dúvidas e meias certezas. Sigo o caminho do bem. Faço planos como quem bebe um copo d'água. A simplicidade reside em minha alegoria principal. Abram alas que estou passando.

Leve como uma pluma, revigorado. Sem peso na consciência, acolho os botões de flor que agora se fazem presente em minha estadia terrena. Livre e espontaneamente feliz, colho os frutos que plantei em outras épocas. Sabe aquelas fases da vida, em que tudo parece sorrir para você? Pois é. Tenho exercitado minhas mandíbulas como há muito não fazia. Sorrio de volta para tudo e todos. E isso, faço a todo momento.

Coisa linda é viver a vida sem qualquer pesar, sem amarras, sem se privar daquilo que se quer, seja isso do agrado alheio ou não. Que me importa o que os outros pensam? Quando morrer, morrerei sozinho, afinal, ninguém dividirá comigo o calor abundante de uma tábua crematória. Ou será que estou errado? Estou certo que não.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Primeiro Cio

A minha gata entrou no cio. Sei que já deveria tê-la castrado meses atrás. Não sou o melhor pai para ela, mas, na ausência de uma mãe e sendo incapaz de vislumbrar melhores alternativas, o que me resta são parafusos. Minha gata entrou no cio, pela primeira vez.

Mas afinal, quem está no cio? Pois parece que sou eu. Ando mais preocupado e desorientado que a dita cuja. De fato, ela anda bastante diferente, se eu perdi meus parafusos, ela não se recorda por onde andam as porcas. Geme como uma gata no cio, oras! Não sei o que acontece, mas imagino que não seja das melhores sensações. Um grau de perturbação insano. Creio que ela não faça ideia do que está havendo e portanto, não julgo sua insuportabilidade uma atitude equivocada.

Pior que olhar para a coitada sem ter o que fazer é imaginar esses gatos esfarrapados da vizinhança se aglutinando em torno da minha princesinha. Uma fila de gatos safados, afim de dar uma trepada e nada mais. Porque esses sacanas não arcam com as conseqüências? Já sou pai, e mesmo que péssimo,  terei de superar-me, ou seja, terei de ser pai e avô ao mesmo tempo.

Não imagino um gato comprando fraldas, tampouco ninando sua cria em plena madrugada. Mas seria interessantíssimo poder dividir com o verdadeiro progenitor a responsabilidade pelos filhotes, que serão, a meu ver, diversos, dado o número de pretendentes que compõe a fila aqui no bairro. São gatos e mais gatos, amontoados, surtados, tarados, loucos e perseverantes. Lutando entre si, como lutadores de luta gato-romana, por uma mísera micro-vagina felina.

Há algo de muito habitual e familiar nessa constatação, mas, deixo isso para uma próxima oportunidade. Gatos, eternos cuspidores de pelos... Quem um dia poderá compreendê-los?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Leitura Incompleta


Acabei meu livro, outro dentre tantos que li esse ano. Acabei de ler pensando numa continuação. Detesto quando um livro termina e me deixa com aquele gostinho de quero mais. Porque de fato, quero muito mais. Acabei de ler meu livro e não me julgo capaz de escrever a tal desejada sequencia. Isso me incomoda, até certo ponto, mas não acredito que esse pensamento permaneça por muito mais tempo.

Última página de uma história de amor incrivelmente suja. Fico imaginando como alguém pode ter escrito algo tão sublime e tão pavoroso ao mesmo tempo. Uma linguística impecável, recheada de frases de impacto e sacadas interessantes. Um festival de bobagens e palavrões dos quais não seria capaz de citar em apenas um parágrafo.

Fechei a contracapa, acabei minha leitura. Uma imensa aventura pela criatividade de Charles Bukowski, aquele fanfarrão. Criatividade, insanidade, vadiagem pura. Uma putaria exemplar, queria ser ele, detestaria ser ele. Amor e ódio, o cara desperta em mim inúmeras psiquês. Finalizei o tal livro e nem sei por quê. Deveria ter deixado a leitura incompleta.

Leitura incompleta. Se reclamo de finalizar os textos aos quais leio, pelo simples fato de terminá-los, ou pelo fato de, em algumas vezes, ir de encontro ao final proposto por seu autor. Por quê não? Interromper um livro no fim pode significar, pelo menos para mim, possibilidades infinitas, uma chuva de possíveis finais, aos quais, vou imaginando com o passar dos capítulos.

É isso. Um livro sem fim. Como não pensei nisso antes? Começo e meio. Final para quê? Para que os outros possam dizer, ei, li seu último escrito, só não compreendi o fim, acho que poderia ter sido assim, acho que poderia ter sido assado. Assim? Assado? Estou cansado disso tudo. Meus livros não terão fim, quer queira, quer...

domingo, 2 de dezembro de 2012

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Musa Inspiradora


Se agora aqui escrevo, escrevo por ela e pra ela. Somente. Pode parecer algo inconsequente,  que seja, mas teimo na teimosia de falar de tudo aquilo que um dia senti e vivi ao seu lado. Não que eu queira me banhar de nostalgia, porém, é impossível esquecer de todos aqueles dias, todos aqueles magníficos dias.

Os sorrisos brotavam sem pressa, tímidos, aguardando o momento certo de sorrir em sintonia. Olhos nos olhos, quanto tempo levou para que fizéssemos apenas um, os olhares que a tanto se seguravam. De repente éramos dois loucos sorrindo e se olhando, meio que mergulhando afundo em nossas almas.

Tudo começou numa noite. Uma noite inesquecível.

Dias e dias de amor louco e desmedido. Eu me recordo de cada segundo vivido em sua companhia, cada palavra, toda aquela alegria. Coisas de um verão que ficou pra trás. Fruto de ímpeto, amor que não perdoa ninguém. Quando tem que ser, tem, e é. Acontece, faz parte e virou parte de um capítulo primoroso de nossas histórias.

Tudo acabou numa noite. Na porta daquele ônibus...

Ela subiu. Partiu. Me disse algo de que jamais serei capaz de esquecer. Três palavras para a eternidade. Três palavras de total sinceridade, que me fizeram tremer na base. Eu, que me considerava homem feito, agora era apenas um garoto chorando de saudade, apertando o peito, ai que maldade...

Quantas peças o destino nos prega. Hora ele traz, hora ele leva. E para a minha tristeza, ela fora embora para longe. Fora embora para nunca mais. Quem sabe. Fora embora dali, mas não conseguiu ir embora de mim. Ela, que é responsável por esse cara aqui, afinal, não é segredo para ninguém o fato dela ter (e como não) me cativado.

Tudo acabou num fim que nunca se fez verdadeiro.

Não me sinto no direito de dizer que a tenho, pois não a tenho. Mas me sinto no imenso direito de dizer que a tenho, sim, em meus infindos pensamentos. A tenho em meu coração de menino tolo. Em minha memória feliz e saudável, de antes de toda a tormenta que me arrastou para sei lá onde.

Ela é minha melhor saudade. Ela é minha melhor tristeza. Ela é a melhor coisa que poderia ter acontecido na minha vida. E disso, amigos, tenho certeza que ela sabe muito bem. Se não faz ideia de que é incrível, está cansada de saber que incrível é esse amor que por ela ainda sinto. E como sinto... e como sinto...

De tudo que vale a pena
De tudo que necessitamos

Ela tem um pouco.

Pois, que se tivesse tudo,
Não seria Ela, seria mundo.

domingo, 25 de novembro de 2012

Filme Pornô

Hoje eu vi um filme pornô. Assisti do começo ao fim. Roteiro memorável, sexo selvagem num navio pirata. Detalhe. Um navio pirata coberto de mulheres incrivelmente gostosas e um capitão imenso. Não, não. Não pode ser possível. Apenas um capitão para toda essa tripulação.

Num cotidiano abastado de mulheres sedentas e homens sarados, fico pensando onde é que poderia me encaixar. Em que gênero de sacanagem poderia atuar? Com que espécie de atrizes seria capaz de contracenar? Engraçado pensar nisso como possibilidade, mesmo que remota.

Xoxotas gigantes e pirocas dantescas.

Não nasci para isso e vou me acostumando com essa realidade. Mas certas horas me bate tal vontade. Trepar sem qualquer compromisso. Oi, tudo bem, bora trepar? Tchau, valeu! Mandou bem! Até a próxima! E aí diretor, pegou tudo? Deu um close na gozada? Fez aquela tomada? Como me saí?

Bucetas carnívoras e picas homéricas.

Trepando sem compromisso e ganhando dinheiro com isso. Tem muita gente ganhando muito dinheiro com isso. Um mar de gente ganhando muito dinheiro com isso e andando pelas ruas sem que ninguém seja capaz de perceber que está a trombar um astro do universo pornográfico. Poderia se tratar de mim. Poderia se tratar de você.

Oi, você trepa? E fatura com isso?

Não sei. Posso estar dizendo um festival de bobagens. Litros e mais litros de esperma desperdiçados diariamente. Assassinatos involuntários. Cúmplices de cachês elevados. Estão pagando pra trepar com a Cadillac! E eu aqui atrás desse computador. Estão gastando uma nota pra comer a bunda da Gretchen! E eu aqui, cheio de amor...

Cheio de amor pra vender. Porque amor para dar não combina com a alma do negócio. Não desse. E como diria Bukowski... Toalha no chão, desisto antes de começar... Se doze macacos alados não conseguem trepar sossegados, quem sou eu para julgar.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Muito Mais

Primeiro foi o meu amor. Alegando motivos inadiáveis e inaudíveis ao primeiro contato com meus ouvidos. Juntou suas coisas, deu-me um beijo demorado, um abraço apertado, desceu as escadas com pressa e bateu a porta com uma firmeza invejável.

Na seqüência, partiram juntos o brilho nos olhos e a alegria de viver. Foram embora sem mais nem menos. Deixaram-me à mercê. Tudo bem, não tenho capacidade de manter ninguém ao meu lado. Aprendi cedo a ser sozinho no mundo. Pobre diabo...

Pensei não poder perder nada mais. Ledo engano, ingenuidade, perdi minha identidade, meu senso, meu físico, minha verdade. Percebi não estar diante de mim defronte ao espelho. Quem é você? Perguntei-me diversas e diversas vezes.

Digo perguntei-me. Pois já não pergunto-me mais.

Agora quem se vai é o cigarro. Vício antigo, prazer diário. Objeto tragável, fez-me refém por anos e, por mais que quisesse permanecer, desta vez, fora minha a iniciativa de abandoná-lo. Tchau amigo. Vá queimar em outras bocas. Vá rolar em outros bueiros. Vá feder em outros dedos...   

Estou diante de uma nova oportunidade. Não sou cobra, talvez por isso tenha adquirido um novo par de asas. Voar, voar. O céu é o limite. Longe daqui, longe de tudo. Vícios agora fazem parte de um passado não muito distante. É o tal do desapego.

Não vou mais lamentar. Não há razões pertinentes para isso. Vou comemorar, estou vivo, estou pronto. Preparado para tudo, temendo nada. Quero um gole a mais de vida, um trago de felicidade, algumas piteiras no cinzeiro, eu quero amar de verdade, não procuro adversidade, eu quero mais, eu quero muito mais.

sábado, 27 de outubro de 2012

A Rainha do Deserto

Sem mais delongas, ela chega e me abraça. Nada consegue superar o calor de seu corpo, de seus braços entrelaçados a mim. Melhor cartão de visita não existe. Não digo nada, ninguém diz nada. O silêncio diz tudo o que há para ser dito entre nós. Um momento de troca, um momento de paz e de repente, nada mais importa.

Ela repara em cada simples alteração feita em meu quarto, nos quadros a menos nas paredes, nos penduricalhos novos espalhados por pregos recém batidos, nas roupas jogadas para todos os lados, nos montes de bitucas de cigarro e garrafas alcoólicas perdidas pelo chão. A cara é outra, mas o lugar é o mesmo de sempre, e isso soa perfeitamente suficiente para fazê-la permanecer.

A estadia é rápida, ela não veio para ficar. De passagem pela minha vida, deixa saudade a cada minuto que passa e aproxima sua partida. Não me contenho, quando menos percebo, estou acariciando seus longos e negros fios de cabelo.

Minhas mãos percorrem seu corpo e arrepiam sua pele. Sem nenhum compromisso, nos entregamos ao calor da noite e esquecemos os ponteiros. Esquecemos absolutamente tudo. Incrível como nada parece ser relevante diante de sua presença. Prosseguimos em sintonia, enquanto o tempo se encarrega de pintar de branco o escuro do céu.

Olhos nos olhos, palavras voam pelos ares de uma manhã indescritivelmente recompensadora. Agradeço por tudo. Finjo não estar ciente da sua iminente debandada, sorrio por um breve período, disfarçando a tristeza que me consome.

Ela é maravilhosamente linda. E sua beleza é capaz de me fazer perder a noção por completo. Ela é maravilhosamente cheia de vida, e por mais que nem se dê conta, consegue me invadir e me fazer feliz por alguns instantes. Ela é a rainha do deserto dos meus sonhos, deserto onde desperto a cada vez que fecho os olhos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

domingo, 30 de setembro de 2012

Aurora

Aurora é linda. Aurora é a mulher da minha vida. Aurora é quem vem me despertar todo santo dia. Não há qualquer possibilidade de viver sem Aurora. Sua ausência significa o fim. Para mim e para todos. Aurora é por demais requisitada.

Pontual, de horários incrivelmente estabelecidos, jamais falha com os ponteiros. Aurora resplandece intensa. Diurna, não é daquelas que se entregam às noites vagabundas das cidades grandes, muito menos ao divertido marasmo das pequenas.

Aurora encerra a melancolia de uma madrugada sem maiores pretensões. Impossível viver sem seus cuidados. Aurora enxuga lágrimas e cobre os corpos despidos (dos amantes) de luz e magia. Ah, e isso ela faz como ninguém.

Aurora, Aurora, como eu queria.
Beijar tua boca até findar o dia,
Beijar-te toda, sem me queimar.

Da tua pele fazer pousada,
Cerrar os olhos em plena madrugada,
E avistar-te assim que o sol raiar.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Primavera

Poucos sabem o quanto eu penei, o quanto aguardei. Levei um bom tempo esperando pelas flores, que timidamente e preguiçosamente, brotavam aos poucos, esplêndidas como poesia, a cada raiar de dia.

Como numa espécie de dança, vi suas pétalas desabrocharem e seu brilho radiante se misturar com a luz do sol. Luz que agora invade meu quarto pelas frestas da janela, se aconchegando num fio intenso e arrebatador, fio que me desperta, me esquenta e me introduz à uma nova manhã.

E num momento tão conturbado como esse, onde penso estar diante das questões mais sem respostas da história, elas simplesmente se revelam, como quem vem para salvar a minha vida e me trazer um pouco mais de alento.

Como o vento, que sopra o indesejável aroma das lamentações, a mais bonita das estações chega para cobrir-me de amor e lembrar-me de que é preciso persistir. Plantar tudo aquilo que se espera colher e aguardar, com a paciência mais paciente possível. Nossos sonhos são frutos, conseqüências daquilo que depositamos na terra.

Nossos sonhos são como a beleza das flores, que anunciam, para o meu imenso deleite, mais uma primavera.

As flores voltaram. 
As flores voltaram. 

Bonitas...
Bonitas como sempre.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Kind Of Blue

Uma dose de cachaça. Uma não, duas. Duas não, três. Como já dizia o meu fígado, melhor se empapuçar de uma vez. Quanto mais, melhor. Vou bebericando devagar, não tenho pressa. Para um bêbado notívago como eu, goles curtos, são, por essência, a alma do negócio.

Um bom jazz nas caixas de som. Incrível a capacidade desses quatro caras com alguns bons instrumentos nas mãos. A batida me atinge, domina meus sentidos e me chama pra dançar. Não digo que danço, por que sou daqueles que se mexe de qualquer jeito. Gosto de balançar, por assim dizer.

Mais uma dose. É claro que estou afim. Tenho prazer em ficar de porre. Não vejo mal algum em acordar sem ter idéia da porção exata de sangue que corre em minha corrente alcoólica. Ou vice versa, vai muito do ponto de vista.

A noite pede um pouco mais de adrenalina. As ruas só não são perfeitas porque carecem de trilha sonora constante. Prefiro o interior do estabelecimento. Quente, escuro, repleto de gente desconhecida, pinga envelhecida e boa música.

Endureço, me faço de difícil, mas, não resisto. Caminho pelo baixo Augusta como que passeia por um parque de diversões. Não deixa de ser, e é esse o xis da questão. Para os bons aventureiros, um cardápio ilimitado. Para um reles transeunte, como eu, um neon atrás do outro. Letreiros de puteiros são incrivelmente criativos.

Passo na porta de alguns, olho para o interior, tentando encontrar uma espécie de amostra grátis. Grátis? Nem uma espiadela. Nesse mundo, qualquer segundo vale muito. Sigo meu caminho pela madrugada.

São Paulo é grande. A noite é grande. É tudo tão grande quando se percebe pequeno como um grão de areia. Fazer parte do contexto, estar nas entrelinhas de destinos improváveis. Tudo pode acontecer. Tudo pode acontecer.

E enquanto não acontece, desce mais uma aí pra mim. Sim, sim. A saideira. Difícil ver as coisas deste ângulo. Corpo rodando, cabeça levemente inclinada para o lado. Melhor ir embora enquanto há tempo. Outro gole na branquinha e fim de papo. Se quiser, deixo meu número anotado num guardanapo.

domingo, 23 de setembro de 2012

O Som do Silêncio

Percebo o cair da noite enquanto fumo meu cigarro, mais um dia que se encerra, outro findar de luz que me apavora e me despe por completo. Estou nu. Distante de conceitos alheios e de meus ideais tolos e absurdamente utópicos.

A chuva veio para lavar as ruas, as telhas da antiga casa, veio para lavar minha alma. Doce ilusão. A chuva deu o ar da graça e logo se pôs a seguir seu caminho, deixando um frio intenso e inesperado.

Observo a cidade dormir, enquanto a temperatura baixa e congela lentamente meu corpo. Nunca a solidão pareceu tão perturbadora.  As janelas ao redor apagadas, nenhum sinal de vida caminhando pelas calçadas. Acredito estar, de fato, completamente sozinho.

Procuro um caminho de estrelas, que me levem para um lugar onde eu possa flutuar e me abster de tal sensação. A lua. Grito por ela, mas ela não me escuta. A distância é muita e, mesmo que eu quisesse, jamais poderia estabelecer qualquer tipo de contato.

Tem alguém aí? Alguém! Minhas pernas tremem, mal consigo mover os pés. Hipotermia não me apetece, estou totalmente submisso. Mas, ao que tudo indica, não existe calor que dê conta de tal compromisso. Derreter o gelo que me transforma em pedra neste exato momento.

Gelo em meus olhos. E olhos gelados não se movem. Não posso observar o raiar do dia que se aproxima. Minha boca se calou há algum tempo. Estou estático. Constatação tão óbvia quanto um tilintar de copos em dia de ano novo.

Na festa funerária à qual me aproximo, a ausência de ruídos atordoa e se faz extremamente ensurdecedora. Como um cadáver louco eu me movo em pensamento. Imóvel, porém capaz de dançar ao som do silêncio.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O Furtar dos Olhos

Paredes brancas evidenciam o óbvio. Vazio. Monocromo. Ausência absoluta de cor. Para ser mais específico, ausência absoluta. E ponto. Assim como a arte, a vida caracteriza-se por qualquer coisa que vá de encontro ao lapso de  uma tela em branco.

Fotografias antigas, de épocas gloriosas, de uma juventude abastada que jamais voltará. Quadros espalhados, penduricalhos de decoração, artigos de preenchimento superficial, para curar a dor da solidão que verte em plangência interminável e irremediável.

Uma rachadura parece quebrar o ciclo de inexistência da pálida estrutura. Um rio de extensão curta, embutido na imensidão do quarto. Águas de um mundo repleto de devaneios, inalcançáveis ou não,  águas turbulentas, onde penso ser capaz de flutuar.

Fecho os olhos, imagino um leque de cores vibrantes, universos inteiros rabiscados, litros de inspiração e criatividade. O difícil é abri-los e não encontrar nada além do mesmo. Porém, pigmentos são como sonhos e dependem de minhas pinceladas aleatórias.

Desperto.

Para minha surpresa, nada mais parece ser como antes. Tudo se tingiu de negro. Não há mais paredes brancas. Sinto-me completamente cego. Como se houvesse tido meus olhos furtados durante o sono.

Tento, em vão, rabiscar um futuro de alegria e contemplação. Entretanto, não sou capaz de enxergar o que faço, não sei se escrevo certo, não percebo a coerência dos fatos, se traço linhas tortas ou apenas garranchos perdidos e angustiados.

Meu dia virou noite.

As cores se foram. Sinto falta da cândida parede e de suas infindas possibilidades. Se ao menos pudesse ver. Se ao menos pudesse observar, mesmo que por uma última vez, o horizonte distante dos meus anseios. Meu reflexo num espelho qualquer, minha identidade.

A verdade é que me perdi na negritude de uma noite que não deveria ter fim. Acordei sem querer acordar e não consigo pregar os olhos. Preciso dormir. Preciso insistir, lutar contra a cegueira dessa tristeza ininterrupta.

Preciso descansar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Erro Nº 31011987

Não sei dizer ao certo o que está havendo comigo. Sinto querer voltar no tempo. Para um lapso de memória distante, onde meus problemas eram tão insignificantes quanto minha própria existência.

Procuro explicações em filtros esbranquiçados. Dezenas de cigarros alucinados. Adoraria saber rebobinar calendários. Estender horários, parar o relógio nos momentos mais propícios, sem me preocupar com os segundos subseqüentes.

Nostalgia. Dos tempos de amor louco e desmedido. Alegria estampada no rosto, alma pura, banhos de chuva e um baseado para relaxar. Nada poderia ser mais interessante que um fim de tarde à beira mar, ou uma roda de amigos sem maiores pretensões.

A idade traz consigo o peso da mudança. Aquilo que fui ontem já não corresponde ao que sou agora. Amanhã é amanhã e não sou capaz de traçar previsões.

Não tenho medo do futuro, nem de suas incríveis peripécias. A vida vive me pregando peças, e à essa altura, estou mais que calejado. Porém, minhas costas parecem não suportar mais as toneladas de bagagem acumuladas.

Preciso saber que diabos está acontecendo comigo. Sinto querer demais. Quero tanto e tantas coisas, que acabo não chegando a lugar algum. Ando, ando e não caminho um centímetro sequer.

Talvez querer demais seja o preço a se pagar. E eu pago, em absurdas e inúmeras prestações. Querer e não obter. Correr atrás de algo que se julga necessário e não conquistar mais do que simples fragmentos.

Fecho os meus olhos, deito no canto da cama. Espero pelo dia amanhecer, outra chance de ser um pouco melhor. Outra chance de pisotear os argumentos supracitados. Outra chance de alcançar o inalcançável.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Asfixia

E eram minhas,
As pesadas mãos que envolviam
Meu pescoço.

Asfixia, supressão de ar,
Buscar o ar e não encontrar nada.
Nada além de lágrimas...

Foi assim,
Que despedi-me de mim.

Em meus sonhos, eu era um peixe.
Nadando fora d'água.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Luzes Apagadas

As luzes da cidade escondem um céu repleto de constelações. As luzes da cidade escondem absolutamente tudo que se propõe a brilhar. Não existe qualquer possibilidade de ser autêntico o bastante para ofuscar os olhos alheios em um lugar como esse.

O que sobra são partículas de insanidade, vontade tremenda de fazer fogueira, sem ter, de fato, fogo para atear. Há quem tenha, mas a cegueira imposta pela claridade da megalópole procura fazer de tudo para impedir tal ocorrência.

Repulsa, violência, medo. Não há esperança. Céu cinzento, noite e dia, com algumas pequenas brechas de ilusão momentânea. Nada demais.

Olhos abertos. Luzes apagadas. Nenhum sinal de eletricidade. A felicidade reside em situações incrivelmente inesperadas como essa. Queda de energia, estrelas brilhando sobre a selva de pedras e metais retorcidos.

Quem me dera considerar sua ausência um evento maravilhoso. Capitalista iluminado, mero pagador de contas em bancos quase falidos. A cortina de reflexos retoma sua atividade habitual e, como numa espécie de ritual, é possível observar quadradinho por quadradinho se acender, janelas de prédios distantes da minha velha sacada.

Plena madrugada, nem assim. Queria você aqui, perto de mim. Estrela visível e palpável, único corpo que, além de celeste, se veste de amor e se faz possível de enxergar mesmo com os olhos fechados.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Tatuagem

Traços na pele branca, marcas para a eternidade. Como saber se aquilo que se tatua tem simplesmente o poder de perdurar? Permanecer além da imagem? Tatuagem. Sentimento milimetricamente gravado por agulha e tinta.

Dor inexplicavelmente boa. Uma mescla de arrependimento e vontade nenhuma de voltar atrás. É incrível saber que um dia partirei desta para a melhor, levando comigo o trabalho de um bom tatuador, sua técnica, seu perfeccionismo, sua arte.

Em questão de segundos deixo de ser corpo, remeto à inocência de minh'alma e passo a ser tela. Mudança brusca e interessantíssima. Agora sou canvas.  Preenchida cuidadosamente.

Seus olhos, sua bocas, seus perfumes. Seus corpos, nus ou não, viram símbolo para toda a vida. De agora em diante estão em mim. Querendo ou não, fazem parte da minha história. Há quem diga que é preciso tempo para tais revoluções.

Penso não precisar de tempo algum. Preciso apenas da ternura de seus sorrisos, saber que sou capaz de fazê-los brotar de suas faces. Sim. Isso é o que me completa. É o que recarrega minhas energias, é o que me pinta, o que me borda, o que me faz despertar eufórico todo santo dia.

Quer goste, quer não.
Mais uma das eternas loucuras do meu
Coração.

Coisa de pele.
Amor estampado para todo mundo ver.
Eu, você e você.

domingo, 2 de setembro de 2012

Trilogia de Amor

I - Descoberta

Quando dei por mim, estava sem chão. Como numa queda brusca de um prédio de intermináveis andares. Vôo livre,  rumo ao asfalto duro e sujo dessa cidade que me cerca e finge me acolher.

Senti a força do impacto quebrar todos os meus ossos, romper todos os meus ligamentos, desfazer todos os meus elos corporais e meu sangue, se espalhar pela calçada. Arte. Visto de cima, meu momento era incrivelmente expressionista, abstrato.

Estava morto, finalmente.

Quando dei por mim, um sorriso afastou os cantos dos meus lábios, mostrou meus dentes para o mundo e mudou completamente meu ponto de vista. Desta vez, estava no topo do arranha céu, desejando apenas sentir a brisa do vento. Desprendimento. Alegria.

Senti o arrepio se apossar de minha pele, um frio imenso na barriga, um misto comum, porém, inexplicável. Meus olhos, antes abertos, se fecharam. Não se enxerga o que se sente, a felicidade é invisível.

Estava vivo, como sempre.

Meu sangue correndo pelas veias, não pelas vias. Coração batendo acelerado. Braços abertos, mente escancarada, amor batendo à porta. Entre. Entre e não se acanhe, a casa é humilde mas tem espaço de sobra para suas intenções. Demonstrações ininterruptas de carinho e vontade de ser melhor do que ontem.

A delícia de estar vivo é viver sem desejar nada mais do que apenas isso. Descoberta, se dar conta de que nem tudo que termina, por si só e ao pé da letra, tende a acabar de fato comigo. Algumas coisas são fáceis de compreender.

O fim morrer e eu renascer.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A Beleza das Flores

É bom saber que existe o lado de fora. Lugar onde habita o inesperado, o quem sabe, lugar magnífico, paraíso dos sonhos. Nada pode ser mais incerto e curioso que o lado de fora.

Abro minha janela, observo a vida que se apresenta, os raios de sol radiantes e ansiosos por minha pele pálida. Uma cidade inteira que amanhece junto a mim e desfila seu contingente com o passar das horas. Negando a lógica de Nelson Rodrigues, não, não há qualquer hipótese que justifique ser solitário em São Paulo.

Todas as cores possíveis, subdividias em composições mais abstratas que um quadro de Kandinsky. Lindo. A selva de pedra nunca pareceu tão natural.

Flores. Ando vendo flores por toda a cidade. Simplesmente abro os olhos e as vejo. Formas singulares, beleza sem igual, cada qual em sua maravilhosa individualidade, coexistindo perfeitas, uma completando a beleza da outra.

E como são belas as flores da minha vida. Capto seus movimentos milimétricos e as contemplo em danças circulares, junto ao acaso do vento, que sopra.

Pétala que surge, manhã de inverno. Vou do inferno ao céu em questão de segundos. Enfim, a mais bonita delas desabrocha. Sim. Desabrocha e me tira pra dançar. Mesmo sem saber, deixo o corpo ir, a mente se perder... de olhos fechados, junto com você...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Minha Cara Em Outdoors

Fui pego no flagra e não, não pude negar. Todos os jornais do mundo estão a me noticiar, revistas e mais revistas a estampar suas capas com fotos paparazzis incrivelmente reveladoras.

Meu telefone toca ininterruptamente há dias, já fiz o possível para desligá-lo de maneira convincente, mas o som ensurdecedor do ringtone maldito se vira nos trinta para me manter ocupado, tomando susto a cada toque. E não pára por aí, segue um verdadeiro bombardeio, de mensagens de textos, cartas, e-mails e sinais de fumaça.

Para variar um pouco, deram para tocar minha campainha. Tem gente na porta. Faço que não é comigo, nem ligo. Não será surpresa alguma minha casa ser invadida por homossexuais fofoqueiros e desesperados, âncoras desses interessantíssimos programas vespertinos. Uma legião deles saliva ansiosamente por uma vírgula minha, que seja.

Encurralado, perdido. Que venham as reportagens especiais, os programas de auditório e entrevistas, já consigo me ver no cantinho do sofá do Jô, vomitando meu segredo para os mais variados ouvidos. Estão me pegando para Cristo. Meu rosto em camisetas ridículas e imãs de geladeira. Desisto.

Minha cara em outdoors, banners, folders e o caralho à quatro. Dos fundos de bancas de jornal às mídias de sala de espera e elevadores. Sou o primeiro da lista dos trendtopics, virei meme de Facebook. Minha vida escancarada, espalhada pelo Youtube.  

Fui pego de surpresa, descoberto num pulo! Não tenho para onde fugir. Não há como fingir, o mundo todo já sabe. Um rio de paixão vertendo aos sete mares. Um sorriso de orelha a orelha brilhando a face, tanto sentimento, tanto amor desmedido, estupidez pensar que passaria desapercebido.

Não pude evitar. Não posso mais esconder. Conseguiram me pegar, pensando em você.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

De Fora Para Dentro

Belo dia ouvi dizer, que não há o que fazer para evitar - por assim dizer - toda e qualquer espécie de amor platônico. Creio piamente nessa teoria. Levo tudo isso com muito jogo de cintura para não estragar a brincadeira, mas boto fé, se não for algo do tipo, não sei mais o que é.

Admiração longínqua, desconhecimento à beira do absoluto. Como saber se é amor o que se sente, se assim, tão de repente, seu coração passa a bater mais rápido por alguém que ele jamais imaginara? O produto de tal equação é menor, maior ou igual a zero?

Tanta gente no mundo. E o meu olhar profundo foi penetrar logo no seu. Fotografias e textos pessoais, tudo o que sei. Informações adicionais, com o tempo vêm. Ela é daquelas que abrem as janelas quando despertam e olham ansiosamente para fora. Não há limites para suas canções de amor e suas vontades loucas de existir por completo. Ela é fascinante, ou melhor,  há de ser.

Como saber? Posso apostar. Dobro, triplico, quadruplico e quintuplico, se precisar. Suas palavras perdidas, na incrível imensidão da vida, são a deixa para eu entrar. Me diga quem tu és e eu lhe direi com que deves andar. 

Comigo.

Quem sabe... Percepção, apenas. De fora para dentro. 

Seus pulmões exalam arte. Música para os meu ouvidos. Traços em folhas de papel em branco, histórias contadas através de cores intensas, um deleite para meus sentidos. E quando falo de sentidos, ela faz questão de não deixar sequer um escapar.

Curiosidade. É o que ela inspira. Desejo esquecer do mundo por alguns instantes e me afogar em seus braços nunca antes tocados. Anseio ouvir sua voz, sentir sua pele. Estranho como penso nela, como a imagino deitar sobre meu peito, numa noite qualquer do verão mais próximo.

Certo ou errado, cedo ou tarde, equações de respostas tão ausentes quanto a alegria de seu sorriso nesta noite de inverno. Será que sorri? Se sorri, sorri de onde? Nada sei sobre seu paradeiro. Perto de mim ou milhas e milhas distante.

Aí tem coisa. Algo a mais. Algo além daquilo que me trouxe até aqui. Algo a se descobrir, infinitas possibilidades a se arriscar. Algo a mais, vou me deixar levar...

É preciso estar lá, quando a rosa finalmente desabrochar.

sábado, 11 de agosto de 2012

Sobre o Querer

Os dias passam e não têm pena de mim. Memória gloriosa. Lembranças gostosas que não saem da minha cabeça, sorrisos fascinantes, que me enchem de alegria e saudade. Engraçado como são as coisas, o inimaginável tornara-se necessidade. Se eu posso explicar? Não. O poeta ficou mudo. Não há palavras que descrevam tais sensações.

E por falar em sensação, não aprendi a dormir sem seu corpo colado. Nem a viver sem seu ar delicado, sem seus olhos grudados nos meus. Vazio. Vazio imenso. Alguns lapsos momentâneos de felicidade e apenas. Ela surge em meus pensamentos a cada segundo. Vontade louca de invadir seu mundo e calar a boca desse fundo de tristeza.

Querer é fácil. Eu quero, tu queres, ele quer. Nós queremos, vós quereis, eles querem. Presente do indicativo. Verbo irregular. Quero seus abraços, seus braços, suas mãos. Quero sentir seu cheiro, deslizar meus dedos e meus desejos mais íntimos, pelos mínimos detalhes de sua pele. Eu quero o arrepio, dos sussurros de amor madrugada adentro. Da sua boca, todos os beijos que puder. Eu quero tudo. Eu quero absolutamente tudo o que vier.

As noites chegam sem resquícios de piedade. Os minutos se arrastam. Outra tentativa vã, dormir para esquecer, despertar e recordar, que aquilo que passou ainda vai me fazer querer, ainda vai me fazer pensar, ainda vai me fazer sofrer, ainda vai me fazer escolher, ainda vai me fazer gostar.

domingo, 5 de agosto de 2012

Bonita

Bonita é a flor que prende seu cabelo. Delicada, botão de flor que se abre a cada frase, a cada suspiro, a cada arrepio, a cada sorriso. Aroma indecifrável, de mulher nunca antes conquistada.

Olho no olho, boca a boca, confissões à beira do abismo louco de um amor jamais vivido. Sentidos aguçados, atenção redobrada, o desenrolar da noite se mostra um tanto enigmático, instigante. Desejo loucamente beijar sua boca, enquanto a observo. Deve ser amor, há de ser amor.

Minutos voam, as horas simplesmente dobram no relógio. O fim está próximo, mesmo antes de um possível começo. Ledo engano. Uma cama com edredom, vento frio e duas janelas propositalmente abertas. Sim. Dois corpos agora entrelaçados, esquentando outra noite de inverno.

Linda, com seu jeito de menina. Bonita, com seu ar de mulher feita. Somente ela é capaz de satisfazer as fantasias de um menino bobo como eu, enquanto mata minha fome de homem feito e insaciável. Mais uma noite que vai, outra manhã que vem.

Desperto com o brilho dos teus olhos, plenos de satisfação. Guerra e paz, tempestade e calmaria, quem diria, quem diria...

Ela dói de tão bonita,
Como o vermelho da flor e da fita.
Que enlaça seu cabelo,
Moreno de ser e estar.

Ela é um caso a parte,
Dos eternos acasos da vida.
Moça com cabelo enlaçado,
Meu projeto de amor sem medida.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Ah, Mulheres

Eu gosto de mulher
Não, não nasci pra aturar homens
Nasci pra admirar e querer a beleza delas
Afinal,  não existem mulheres feias
Existe gosto, e ao meu gosto, prevalecem as mulheres
Sem desmerecer os coxas, mas...
As mulheres são estonteantes, maravilhosas
Mulheres são mulheres, e isso para mim basta.

Eu gosto de mulher
E gosto de mulheres brincalhonas, companheiras
Eu gosto do gosto dos beijos dados de manhã
E dos beijos roubados tarde da noite
Gosto não, tenho paixão, pelos beijos ganhos de surpresa.
Nesses casos, admito, sou presa fácil de se beijar
Basta chegar, ponto final
Um beijo.

Eu gosto do desejo
Por mulheres do bem, sem necessidades extremas
Eu gosto das mulheres que vestem minhas flanelas velhas
E das mulheres que caminham livre, leve e soltas de moletom.
Gosto das mulheres que fazem piada sem graça
E que morrem de rir ao esquecer o batom.

O amor é lindo
Mas não tão lindo quanto um belo sorriso de mulher
Mulher loira, ruiva, morena, mulher branca, negra, nipônica
Ah, mulheres...

Eu gosto de mulheres simples
Que abraçam sem querer e não soltam até você pedir
Eu gosto de mulheres que tomam conta, mulheres que cuidam
E de mulheres que botam fogo quando necessário
Fogo de mulher é fogo de verdade
Amor na certa ou pura vaidade.

Eu gosto de mulher
E gosto muito de gostar de mulher
Para um homem convicto, nada é mais interessante
Que gostar de mulher, seja esposa, namorada ou amante
Gostar de mulher é como arte, coisa louca de se compreender
Nada de pesquisa científica, gostar de mulher é viver...

E é assim que vou vivendo.

sábado, 28 de julho de 2012

Retrato em Preto e Branco

Ela surge de repente. Olhar profundo, beija meus lábios, percorre meu corpo com suas mãos e sussurra palavras de amor sem maiores exigências. A noite definitivamente está ao meu favor. Seios macios, de pele aveludada, aos quais recuso desgrudar. O toque de minhas mãos causa arrepios em seu corpo, sua respiração altera-se a cada novo deslize.

Ela quer mais e nada pode nos impedir. Uma câmera, uma velha guitarra, um chapéu e um cigarro no canto da boca. Seu corpo nu enquadra-se perfeitamente em minha lente entusiasmada. Clico diversas vezes. Não procuro a perfeição. Nada pode ser mais perfeito que esse momento, preciso dar um jeito de parar o tempo.

Garrafas de cerveja no chão e na sacada da varanda. Bitucas espalhadas por cinzeiros e copos plásticos furados. Alguns manchados de batom vermelho, um contraste alucinante. A bagunça reflete o calor da situação. Nada no lugar. Roupas, objetos, jogados por todos os cantos do quarto mal iluminado.

Beijo seu rosto, abraço seu corpo e negocio com o relógio. Sim, o tempo não pára e aproxima o findar de outra noite. Quase cedo. Sol teimando em surgir pela janela, conspirando em prol da intensidade. Verdade. Jamais senti tamanho desejo de permanecer intacto, como uma estátua renascentista, onde o amor  perpetua-se e inspira.

Ela cede ao cansaço. Nada mais acontece. Pedido atendido. Relógio parado. Apenas  observo seu corpo nu sobre a cama. Nada mais se faz necessário. Nada pode superar tal sensação. Divino cenário. Enquadro mais uma vez e disparo. Linda, dormindo como criança.

Retrato em preto e branco, deliciosa lembrança, de uma noite simplesmente memorável.