Ela surge de repente. Olhar profundo, beija meus lábios, percorre meu
corpo com suas mãos e sussurra palavras de amor sem maiores exigências. A noite
definitivamente está ao meu favor. Seios macios, de pele aveludada, aos quais recuso
desgrudar. O toque de minhas mãos causa arrepios em seu corpo, sua respiração altera-se a cada novo deslize.
Ela quer mais e nada pode nos impedir. Uma câmera, uma velha guitarra,
um chapéu e um cigarro no canto da boca. Seu corpo nu enquadra-se perfeitamente em minha lente entusiasmada. Clico diversas vezes. Não procuro a
perfeição. Nada pode ser mais perfeito que esse momento, preciso dar um jeito de parar o tempo.
Garrafas de cerveja no chão e na sacada da varanda. Bitucas espalhadas
por cinzeiros e copos plásticos furados. Alguns manchados de batom vermelho, um contraste alucinante. A bagunça reflete o calor da situação. Nada no lugar.
Roupas, objetos, jogados por todos os cantos do quarto mal iluminado.
Beijo seu rosto, abraço seu corpo e negocio com o relógio. Sim, o tempo
não pára e aproxima o findar de outra noite. Quase cedo. Sol teimando em surgir
pela janela, conspirando em prol da intensidade. Verdade. Jamais senti tamanho
desejo de permanecer intacto, como uma estátua renascentista, onde o amor perpetua-se e inspira.
Ela cede ao cansaço. Nada mais acontece. Pedido atendido. Relógio
parado. Apenas observo seu corpo nu sobre a
cama. Nada mais se faz necessário. Nada pode superar tal sensação. Divino cenário.
Enquadro mais uma vez e disparo. Linda, dormindo como criança.
Retrato em preto e branco, deliciosa lembrança, de uma noite simplesmente memorável.