Eles se olham como se seus olhos fossem confidentes de outras épocas.
Seus pensamentos se entrelaçam de tal maneira que parecem partir de uma só cabeça.
Seus lábios jamais se encontraram, seus lábios - e essa é que é a verdade -
jamais se manifestaram como realmente deveriam, poucas palavras e apenas.
Um sorriso para quebrar o gelo no
começo da manhã, outro ao lembrar do sorriso dela tarde da noite. É nisso que
ele pensa. E como pensa. Fantasia possibilidades em segredo, algo que jamais
contara a ninguém. Ele a tem sem que ela saiba. E ele sabe, que algo a mais se esconde por detrás de toda
essa alegria. O quê? Pura magia.
Um canto, encanto de sereia, vôo
livre em direção ao mar do desconhecido. Quem é? Quem será? Quem é essa que
teima em não deixar o seu pensar? Ele sabe. O fato é que não se faz necessário
qualquer aprofundamento. Ele simplesmente a tem, repito, em seus pensamentos,
momentos únicos de contemplação. Um êxtase.
Bochechas vermelhas a cada passo
dado em sua direção, mãos trêmulas, ela consegue facilmente paralisá-lo. Ela o
tem em suas mãos. E veja bem, mãos de uma delicadeza notável, mãos que pairam
pelo ar a cada movimento feito no palco. Sim, ela dança, e sua dança faz dançar
cada centímetro dele.
Ele registra tal ação como se em
sua mente houvesse espaço de sobra. Nem aí, faz questão de captar os mais
simples detalhes. E como é linda aquela a quem admira secretamente. Uma flor,
uma flor de semelhanças inexistentes. Sutil, leve, única. E ela dança como a
flor balança ao soprar do vento.
Eles se olham como se seus olhos
fossem confidentes de outras épocas. Ele a tem sem ter e não esconde o sorriso
no rosto ao fechar os olhos e lembrar de seus traços. Registro magnífico,
protegido contra cópias de qualquer tipo. Aquilo é seu e de mais ninguém.
Guardado para sempre na memória, emprestado aos cuidados do tempo.
E o que o tempo tem a ver com
isso? Tudo. Nada. O tempo é o que voa. O tempo é o que leva. O tempo é o que
traz de volta. O tempo age como aquele bom amigo que entrega a hora certa de se
abrir. E ele se abre, desabrocha como rosa e aguarda o cair de mais uma noite,
outra noite, outro devaneio, outra tempestade de amor platônico.
Aquele sorriso. Ah, aquele
sorriso. Se ela soubesse a delícia que é
somente observá-la, teria espelhos espalhados por toda sua casa. Mas deixe que
ele cumpra esse papel, desenhando estrelas no céu pra depois ligar os pontos, formando
seu corpo, mirando olhos nos olhos, imaginando como seria, um dia, sem que ela
o visitasse em suas manhãs de garoto e suas noites de sono.
Um sorriso, para quebrar o gelo
desta tarde que agora o cerca, outro ao lembrar da noite que passara com ela, mesmo que em seus sonhos. E como é bela aquela que faz seu coração disparar,
aquela por quem ele escreve sem mais tardar, como é bela, Isabela.