sexta-feira, 26 de abril de 2013

Meu Paradeiro

Meu paradeiro é uma janela aberta, uma sacada convidativa e a eternidade de uma madrugada de sexta. Ou de sorte, como preferir. No céu, um punhado de estrelas. Nas ruas, um bocado de carros que cintilam artificialmente seus faróis coloridos. 

Meu paradeiro é uma antologia de contextos memoráveis. O colo dos meus pais, o carinho dos avós, os sorrisos dos amigos. Cada trago no cigarro de costume, os copos cheios, os copos vazios. Sem saideira, que hoje é dia de celebrar a delícia da vida!

Meu paradeiro são as ideias mais absurdas e os planos mais malsucedidos do universo. Tento, tento e sigo tentando. O paraíso reserva um lugar especial para os persistentes.

Meu paradeiro é onde Deus quiser. Assim penso, assim pratico. Não acredito em meios caminhos. Meu paradeiro é qualquer lugar, qualquer nova aventura, qualquer beira de estrada ou terra batida. Um guia nas mãos e a mochila nas costas. Vou que vou, cubro as apostas e finalmente chego.

Onde? Onde quer que você esteja. Meu, paradeiro meu.

Meu paradeiro são os teus olhos, teus braços, tuas pernas. Meu paradeiro é a tua boca, teu sexo, tua cama, coberta de amor. O gemido, ao pé do ouvido. As unhas, rasgando a carne. A gota, que escorre por entre os corpos suados. O calor dos embriagados, dos amantes sem qualquer vestígio de culpa.

Meu paradeiro é a manhã seguinte. 
E todas as manhãs subsequentes, às nossas infindáveis noites de amor e fúria.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Noites de Insônia

Vai lá, estou na minha, lutando contra a insônia. Estou na minha, aguardando um fechar de olhos teimoso que só. Espero ansiosamente por Morfeu e seus benditos braços,  espero pelos sonhos mais sugestivos e intrigantes de todos os tempos.

Vai lá, estou aqui, quietinha, debaixo de um edredom macio e confortável. Com minha cabeça apoiada junto ao travesseiro mais aconchegante já criado pela indústria do sono. Aquecida, bem como deve ser nessas noites de frio paulistano.

Quero dormir, quero acordar, porém penso no quanto será incrivelmente difícil sair daqui. Se tais noites são frias, as manhãs são ainda piores. Preguiça monstruosa. Prefiro não dormir, não quero mais fechar meus olhos, castanhos lindos.

Morfeu que se lasque, eu quero é um Earth, Wind & Fire turbinando as caixas de som. Sonhar para quê? Deixo isso para os que não serão capazes de me acompanhar.

Ay Ay Ay Aya... say do you remember!
Ay Ay Ay Aya... dancing in September!
Ay Ay Ay Aya... never was a cloudy day!

Puro lapso. O cansaço é intenso. September que nada, o negócio é Abril, mês do frio. Uma boa dose de um calmante qualquer cairia como uma luva. Por Deus! Tudo me faz recordar o clima, até parece existir uma necessidade meteorológica pré-sono acerca deste momento angustiante.

Rolo para um lado, rolo para o outro. Um garoto perdido me escreve inbox, parece querer estabelecer algum contato. Era só o que me faltava. Um sonâmbulo brincando nas redes sociais em plena madrugada...

Sei é que estou numa cilada. Sonâmbulo que nada!

O que o garoto quer é enviar suas mirabolantes ideias por correio. Ok, aceito a proposta. Que tal uma carta-cafuné ou algo que me deixe completamente entorpecida? Ele gosta.

E eu aguardo. Ele gosta e eu...

                                           ...zZzZzZzZzZzZz.

Mais Que Boas Ideias

Os dias voam como pássaros, e quando dou por mim, o que era ontem virou semana passada. E assim por diante, quase um mês inteiro.

Quase um mês, desde o dia em que a vi subir as escadas correndo, para beijar minha boca e se despedir. Detesto essas coisas. Porém, admito, gosto de despedidas mudas. Nada, nenhuma palavra, apenas gestos que dizem muito.

Quase um mês. Um punhado de dias sem você. E um bocado de dias com você, na cabeça. Acho que a loucura sente um prazer imenso em me visitar. Nunca sei o que fazer nesses casos, fico sonhando acordado e quando durmo, sonho dormindo. Sim, eu sonho pra caralho.

A distância que nos separa é também a que nos une. Distância. Fiel da balança, causa de toda essa saudade, motor da lembrança. E cá estou a escrever para você, lembrando de tudo um pouco.

História curta, nossa vida caberia perfeitamente numa crônica.

Escrevo muito. Escrevo cartas, escrevo músicas. Escrevo cartas e músicas. Escrevo contos, escrevo crônicas. Escrevo contos e crônicas. Escrevo uma porrada cartas e as envio por correio.

A moça do caixa não entende. Mas eu entendo a não compreensão da parte dela. Com tanta tecnologia, por que diabos mandar esse monte de papéis?

Papéis. Mais que simples papéis, ideias. Boas ideias. Mais que boas ideias, inspirações. Inspirações envelopadas. De um coração para o outro.

Mas que coisinha fofa! É bem por aí...

Isso é muito mais que um monte de papéis. Muito mais que esse monte de papéis supracitados. A moça do caixa não entende, mas eu entendo a moça do caixa. Ela não deve receber muitas cartas. Ela deve apenas receber contas.

E contas frustram, os corações endividados.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Uma Mulher Que Escute The Cure

Acho que do ponto de vista masculino, o que está prestes a ser escrito pode parecer um tanto estranho. Coisa de mocinha, alguns pensarão. Melhor que pensem, nossa sociedade está abarrotada de pessoas incapazes de admitir qualquer lapso de sensibilidade.

Robert Smith é um cara safo, desde sempre escreve letras inacreditavelmente originais e fora dos padrões de qualquer mainstream. Eu as escuto desde que me conheço por gente. Letra por letra, acorde por acorde. Suas melodias são para mim algo muito próximo a uma benzetacil, um remédio, um quê de conforto, cura ou Cure, como o nome já diz.

Uma mulher que escute Close To Me, Lovesong, In Between Days. Uma mulher que saiba distinguir Pornography e Disintegration. Não sei o que faria com uma mulher dessas. Fico imaginando aquelas coisas de casal, fim de noite, um som pra rolar e ela com o Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me nas mãos, louca para ouvir Just Like Heaven e sorrir em sequência.

Nunca a encontrei. Talvez nunca a encontre. A vida seria perfeita demais, e não sei se haveria espaço para dois aficionados numa mesma casa, num mesmo quarto. Melhor não. Alguém poderia se machucar.

Os gatos voariam pela janela. Os pratos estatelariam-se pelo  chão. A tampa do vaso amanheceria encharcada. A cama viraria cabide de toalhas molhadas e todos os apetrechos de maquiagem surgiriam sobre a pia do banheiro. Imagine a quantidade de calcinhas penduradas no box. Não, definitivamente não.

Talvez seja esta uma coisa para eu aprender. Expectativas musicais são demais. Já basta tudo aquilo que esperamos a respeito do próximo. Entretanto, sou daqueles que se contentam em saber que a mulher conhece algum álbum dos Smiths.

Caráter? Idoneidade? Ficha limpa? Não me importa! É carinhosa? Vai cuidar de mim? Ela só precisa saber que Heaven Or Las Vegas é o melhor disco do Cocteau Twins.

Hum, melhor deixar pra lá...

Stereo System Psycho

Outro dia li algo sobre pessoas quietas e observadoras. A frase, da qual não me recordo em sua exatidão, refletia uma ideia da qual compartilho: pessoas quietas e observadoras possuem mentes barulhentas.

Sim, me considero um bom observador. Não, não sou o mais falante da turma. E tenho um alvoroço de cabeça, dessas que mais parecem um psycho stereo system.

Sabe aquela mania chata que alguns têm de zapear música? Aquela mania insuportável de não deixar a música chegar ao fim e logo trocar por outra? É assim que compreendo a minha mente, em boa parte dos momentos quando, de fato, paro para analisá-la.

Agora, o que mais me surpreende é que isso não se limita ao que penso. Meus sentimentos são como uma procissão de barcos à deriva. Meus pensamentos são perfeitas ilhas desertas. Vivo flutuando, como a folha que se solta de um galho e vagueia ao capricho de uma brisa qualquer.

Barulho? É o que menos faço. Minha presença é quase sempre despercebida. O grito que não se escuta é cada linha do que escrevo. Palavra por palavra, num silêncio profundo, inapto a fazer com que eu seja ouvido pelo mundo, entretanto, suficientemente capaz de irromper um imenso desejo, de baixar o volume que atordoa meu senso.  

Justo eu, que não compreendo tais tecnologias, justo eu, que nunca tirei carta náutica, justo eu, que tanto amo...

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Compreendendo os Girassóis

Às vezes sinto uma inveja danada desses psicanalistas safados que decifram sonhos com a maior facilidade do mundo. Malditos! Queria muito poder entender como é que fazem isso. Vale qualquer dica, qualquer macete, coisinha básica.

Por que caralho sonhei com girassóis? Que porra isso quer dizer? Acho que nunca irei saber. Ou talvez saiba e não lembre que sei. Whatever, minha paciência é pouca e minha memória nunca fora das melhores.

Sei que gosto, e muito, dessa coisa ensolarada-giratória. Me dá vontade de sorrir e isso parece ser suficiente.

Parece, mas não é. Agora me lembro, da menina linda dos olhos azuis da cor do mar e seus girassóis, aos quais, prometi cuidar. Talvez venha daí o sonho que tive. Que maravilha. Enfim, um lapso de consciência.

Eu amo girassóis. Van Gogh pintou girassóis. Eu amo Van Gogh. Girassóis amam Van Gogh. Van Gogh não me conhece, mas ama girassóis, assim como eu. Há de ser (me perdoem) coisa de lunáticos convictos. Minha orelha direita teme o desenrolar desse texto. 

Talvez agora seja possível compreender melhor tudo isso. A menina linda dos olhos azuis, os psicanalistas safados, o cara sem orelha, a minha orelha aflita, o meu texto sem pé nem cabeça e os girassóis, pendurados em minha parede azul.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Um Dia de Rio no Rio

Hoje eu acordei sob os braços do Redentor. Coisa linda. É diferente, acordar sob os braços do Cristo e sua acolhida celestial. Uau. A ficha vai caindo aos poucos e logo vou dando conta...

Estou de fato no Rio. Sim. Fucking Rio de Janeiro. Essa porra de cidade maravilhosamente misteriosa.

Ok. Pode parecer coisa da minha cabeça, mas no fundo sei que não é. Em alguns momentos não vejo qualquer diferença notável. Uma cacetada de prédios e mais prédios. Nunca compreendi muito bem essa coisa. Uma casa em cima da outra. Um verdadeiro pisoteamento coletivo.

O calor ao qual esperava passou longe. Nuvens carregadas de chuva e um clima um tanto quanto inusitado confundem e decepcionam minhas expectativas.

Alguém precisa de um homem para abrir a garrafa de Mate Leão. Caetano diria Mate Não, Meu Leão, Meu Leãozinho...

A noite cai como uma jaca madura. Ploft. E agora são diversos prédios e pisoteamentos coletivos iluminados. Potes de palmito e azeitonas também precisam ser abertos, mas sem tapa no bumbum do pote.

Olho para os lados e não entendo nada. Porém, gosto e aceito tudo o que se faz visível aos meus olhos e perceptível aos meus sentidos. Bolô parece me odiar. Caralho de gato bipolar, tenho medo.

Me empanturrei de ceviche e banana. Banana fruta e banana torta. Bem bom. A menina linda dos olhos azuis me acolhe incrivelmente melhor que Cristo. Acho que sou um belo de um filho da puta pecador.

Dane-se. A noite é uma criança e me tira para brincar.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O Amor Ao Qual Acredito, O Teu

Eu acredito nessa coisa louca, nesse paraquedas, nesse carinho repentino, nesse agora não antes planejado. Me atrai  - e muito - essa ideia desconcertante da surpresa boa que só traz felicidade.

Tô aqui bem na minha, você bem na sua e do nada estamos na mesma, bem juntos e não pensando em alterar uma vírgula sequer. Desgrudar pra quê, se passamos tanto tempo até então distantes?

Matamos uma saudade de anos e mais anos. Por quanto tempo nossos lábios esperaram até o primeiro beijo? Quanto tempo fora necessário para que seus olhos finalmente fitassem os meus?

Such a long time...

Such a long time...

E o que temos de agora em diante? Nós temos todo o tempo do mundo.