domingo, 23 de dezembro de 2012

Futuro

Dias bons. É o que eu espero de agora em diante. Dias de luz, dias de paciência e maior compaixão. Acredito que a paciência não seja apenas um substantivo corriqueiro, vai muito além disso, a paciência é uma necessidade mundana e urgente.

Assim como a compaixão, tão conhecida e tão pouco exercitada. Espero por dias melhores, espero grandes coisas. Tenho em mim um desejo enorme de tornar infinita essa teimosia que me é característica.

Teimo em querer demais do mundo. Querer demais dos outros. Querer demais de mim. Teimo em permanecer fiel e seguir à risca tal intuito. Quero e teimo e não julgo nada disso desnecessário. É preciso enxergar a linha do horizonte e querer e teimar, mesmo desconhecendo o que há além de seus limites.

Cada novo dia é um novo ciclo que se inicia. Despertamos habitualmente e, partindo do pressuposto de que isso é um fato, algo inevitável, por quê não se adequar às possíveis bênçãos que uma linda manhã pode nos proporcionar? Viver é mais que um compromisso, é algo esplêndido e sua prática deve ser levada à exaustão. Viver é bom. Viver intensamente é ainda melhor.

Desperto, mesmo que contra a minha vontade, abro os olhos e pronto. Nada é mais do mesmo. Bom dia, dia. Futuro, como conhecemos. Planejamento, obstinação, um conjunto de fatores e ideais de longo prazo. Como fazer dar certo? Como atingir meus objetivos? Como chegar naquele lugar? O tal do lá, do qual tanto escuto falar.

O caminho é o fim, mais que chegar. E assim compreendo cada vez mais minha existência, minha missão. Seguir em frente. Vida que segue. Bonito esse saber,  de que o fechar dos olhos não significa propriamente morrer. Hora cerrados, hora bem abertos. Nem sempre obedecendo às normas naturais. Não seria devanear demais pensar que às vezes enxergamos mais sem utilizá-los.

Um lindo dia, com aroma de alegria e uma leve brisa de boas intenções. É o que desejo para amanhã. É o que desejo para todos os próximos dias da minha vida. É o que desejo para amanhã e para todos os próximos dias da sua vida. Afinal, estamos todos juntos. Partilhamos de um todo, somos apenas um. Onipresença, mais que um adjetivo, uma crença, possível realidade, provável finalidade, união.

Para esses tantos dias ainda tão desconhecidos.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Presente

Esta pode ser a última noite das nossas vidas, para quê se preocupar? Amanhã poderemos nos dar ao luxo de sequer despertar.

Últimos instantes, quem poderá nos certificar? Aproveitemos os minutos que ainda temos. Não há o que temer, nem devemos nos conter, viver é isso. Olhos fechados à beira do precipício.

Adrenalina. Batimentos no compasso de uma escola de samba. Mãos trêmulas, pernas bambas. O mundo por acabar... e é só de amor que quero me embriagar.

Não existe ontem, não existe amanhã. Existe o agora, este raro e exato momento de amor vertendo de nossos corações. Instante, onde vivemos, segundo após segundo. Presente, como o nome já diz.

Um sussurro induz à máxima ventura. Então fecho meus olhos e acaricio seu corpo. Penso na luz. Sua vida junto à minha transborda sinceridade, felicidade pura. Amizade e muito mais do que isso. Celebrações e vibrações intensas.

Dois corpos dançando a dança de um novo ciclo que se inicia. Loucos por inteiro, protagonistas de um capítulo mágico na espiral do tempo. Sem medo de amar, sem medo do que há por vir. Indiferentes aos olhos alheios, sem medo da vida, que agora, se revela plena.

para minha protegida.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Passado

Olá querido, como tem passado? Escrevo este conjunto de palavras de maneira a agradecer por tudo que sou e que talvez possa me considerar hoje. São vinte e cinco anos e mais um tanto, quase vinte e seis. Quase vinte e seis anos de vida. Nove mil, quatrocentos e quarenta e nove dias de uma busca incessante, que, com o vigoroso e inevitável passar do tempo, trouxera-me até aqui.

Não tenho memória de elefante para detalhar cada um desses tantos dias, mas lembro-me de casos e contextos diversos, momentos únicos, fases e épocas impossíveis de se explicar, até porque, não existe sentido algum em explicar qualquer coisa dentre essas tantas coisas que fizeram-me chegar onde estou.

O que fica, de fato, cada vez mais evidente, é a bagagem acumulada. As experiências, as mudanças muitas, os caminhos trilhados, assim como todos os seus desvios, quase sempre, de ímpeto. Nada do que fui, deixei de ser, apenas convivo com a realidade de que hoje sou uma pessoa completamente diferente da qual era há quinze anos. O que permanece, e disso não tenho a menor dúvida, é a essência.

Como saber que aquela criança ingênua viria a se transformar no que me transformei? Quem poderia dizer, há quinze anos, que estaria eu, fazendo o que faço agora? Seguindo o caminho que sigo, crente das crenças às quais acredito, cultivando valores aos quais julgo indispensáveis? Quem poderia dizer que aquele menino franzino seria quem sou hoje?

Uma busca incessante. Uma procura sem fim. Um correr atrás sem findar de fôlego. Para chegar onde cheguei e não encontrar as tais respostas que faço a mim mesmo desde o dia em que nasci. Talvez seja este o magnífico sentido da vida, viver de meias certezas.

Afinal, que graça teria tal estadia, não fossem as expectativas, os tombos doloridos, o aprendizado contínuo e as grandes surpresas? Que graça teria viver, sem morrer de amores e dúvidas, sem o peso na consciência, sem a dor de cotovelo e todos aqueles sorrisos sinceros? Que graça teria respirar, não fossem os suspiros, os arrepios, a saudade e todas aquelas lágrimas para hidratar nossas bochechas?

Apenas vivendo para perceber e ousar responder. E viver requer uma certa dose de paciência. É preciso tempo. Tempo que nos fez presentes, mesmo que diferentes e separados, em pontos simultâneos na imensa linha dos desavisados. Inclusive aqui, agora, onde o mundo não acaba, para o delírio dos desesperados. Tempo que não pediu passagem, quando viu, passou, e se passou, virou passado.

Tempo que só tenho a agradecer, enfim...  muito obrigado!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Minha Casa

Numa dessas tantas ruas perdidas pelo emaranhado da cidade, existe uma casa. Uma casa construída muito antes de eu pensar em nascer. Uma casa em meio à verticalidade dos prédios e construções cada vez mais altas. Mas isso não vem ao caso, vou ater-me à velha casa e suas janelas rústicas e suas portas rústicas e sua rusticidade inteiriça.  

Essa é uma casa de chão sujo, porcelana italiana gasta e imunda. Onde piso, onde caminho, onde trafego em perfeita harmonia. Uma casa de chão sujo e paredes sujas. Descascadas pelo tempo, pedaços de tinta que teimam não permanecer junto à estrutura. Uma casa de chão sujo, paredes com camadas de tinta pendurada e goteiras no velho telhado de telhas quebradas, por onde o sol raspa e adentra os mais variados aposentos.

Aqui não me sinto sozinho. Esse é um lugar ao qual posso chamar de lar. Como se cada centímetro desse imenso quadrado me completasse de maneira singular. Como se a sacada do quarto fosse uma espécie de trampolim para a eternidade. O que não escapa de ser, de fato. Basta debruçar-me em seu parapeito para avistar a imensidão cósmica de uma noite maravilhosamente estrelada.

Milhares de histórias, de um bocado de gente diferente, ligadas apenas pela sua presença. Aqui, aprendi a ser homem. Aqui aprendi a amar. Fora aqui que aprendi a esquecer e a perdoar. Nessa boa e velha casa, aprendi a cozinhar, a escrever e a suspeitar, de coisas que pudessem não ser tão incríveis do lado de fora, como eram em seu interior.

Aqui vivi boa parte da minha vida. E daqui levarei lembranças para todo o resto dela. Percebo o olho brilhar e se banhar de lágrimas a cada trecho deste texto. E sinto que estejam longe de ser lágrimas vãs. Sei que mais uma etapa está se encerrando, e que meu tempo aqui será cada vez mais curto. Bom saber que anos e mais anos de convivência criaram um respeito mútuo e uma boa quantidade de lembranças inesquecíveis. Textos infindáveis, fotografias diversas, muita coisa pra contar.

Grato por tudo, inverto o jogo e faço dessa pequena folha de papel, seu trampolim, para uma eternidade gloriosa, descrita por alguém que amou, acertou e errou diversas vezes sob seu olhar de alvenaria. Quem diria, minha casinha, quem diria.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Raios Ultravioleta

Uma bela manhã, raios de sol cortam o vento e ardem em minha pele branca. Caminho pela areia, ninguém ao meu redor. Molho meus pés na espuma das ondas, o frio da água é um verdadeiro alento para o calor infernal.

Plena quarta-feira, e eu aqui refletindo profundamente. Praia, esse é o nome que demos para tal conjunto de fatores. Água, areia e sal. Água, areia e sol. Demonstração gratuita de grandeza, exibição impecável de uma natureza que busca a cada dia um pingo, para não dizer uma gota, de sobrevida.  

Respeito sua existência, faço um minuto de silêncio. Sinto um imenso pesar, queria que tal local permanecesse deserto. Pelo conjunto de pegadas, percebo não poder levar tal devaneio à diante. Muitas pessoas gostam de se refrescar à beira mar. E se aqui agora estou, não posso simplesmente proibir que outros também estejam.

Mas não há ninguém. Estou só. E isso é muito interessante, de uma maneira bastante peculiar. Atrás de mim, toneladas e toneladas de concreto. Arranha-céus mal localizados, repletos de gente e mais gente e mais concreto. Olho novamente para todos os lados, duas pessoas há alguns bons metros de distância, apenas.

Descuidado, estou sem protetor solar. Minuto a minuto percebo a alvura de minha tez dar lugar a um rosa cada vez menos tímido. Paulistano vai à praia para sofrer as conseqüências. Isso provavelmente irá me incomodar e muito, mas não dou tanta importância, prossigo junto às minha ideias, não me movo um centímetro sequer.

Sou pequeno, diante de tanto conteúdo. O mundo é grande e eu não sei se dou conta. Fico pensando no porquê de estar aqui. Como cheguei, de que maneira vim parar justamente nesse pedacinho de chão. Deve haver um bom motivo. Talvez, por força do destino, estava escrito em algum lugar, que na manhã dessa quarta, não poderia estar em qualquer outro. É aqui e agora. E provavelmente não haveria de estar fazendo outra coisa. Eu, meu caderno e minha caneta, escrevendo uma porção de abstrações desconexas. Ou quem sabe, muito bem conectadas.

Não trouxe meu celular. E por falar em conexões, creio que não existam ondas de sinais wi-fi nesse pouquinho de chão.  Nem preciso. Faço questão de não ser encontrado. Às vezes o ser humano carece de tais situações. A solidão não deve ser encarada como um momento de tristeza ou raciocínios vãos. A solidão e o silêncio são de imensa serventia, quando se quer chegar a algum lugar, mesmo que dentro de si próprio.

Minhas conclusões são várias. Penso em diversas outras possibilidades. Me energizo com o passar do tempo e agora de pé, trilho o caminho de volta. Hora de retornar ao mundo real, ao qual me acostumei. Hora de arder à beira do asfalto, hora de dizer adeus ao contraste radiante de água, areia e sal. Hora de partir. São dez horas e ainda não comi.

A única vantagem de toda esta concretude, nesse momento, é a padaria de esquina e seus pãezinhos na chapa. Nada melhor que um pão na chapa e um cafezinho. Bom dia.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Como Namorar Uma Equatoriana?

Ela não conhece a minha cidade. Veio uma vez e ficou pasma com o ritmo da metrópole. Disse um monte de bobagens e riu da minha cara, bairrista que só. Andou de cabo à rabo e conheceu tudo o que havia de interessante dentro do circuito cultural paulistano. Eu nunca fui para lá, nunca pensei em ir e ainda não planejo embarcar num vôo livre rumo à terra dos panamás (sim, os tais chapéus vêm de lá).

Ela não sabia o que era samba, tampouco feijoada. Nunca havia bebido cachaça ou fumado um cigarrinho tupiniquim. Dançou numa roda em praça pública, distribuiu abraços, viveu a alegria da selva de pedra e fitou-me com olhos satisfeitos. Há quem diga que a primeira impressão é a que fica. Depende, nesse caso, prefiro dizer que a segunda fora capaz de prevalecer.

Sua língua e minha língua travaram batalhas incríveis. Em todos os sentidos. Uma língua difícil de comparar, difícil de compreender, mas incrivelmente fácil de se beijar. E isso fizemos até demais, tanto, que depois de certo ponto, não havia qualquer necessidade de se comunicar de outra forma. Utilizávamos nossas bocas parar sinalizar qualquer desejo, qualquer ensejo, qualquer lampejo de tudo o que fosse possível.

La chica hablaba con un poquito de dificultad, pero, para mí, no havía problema ninguno. Como disse anteriormente, não fazíamos mímicas. Se não fosse capaz de interpretar perfeitamente seus códigos, sabia que, por mais que pareça loucura, um beijo traria toda a cura necessária para o sucesso de tal interlocução.

Ela dizia "hola" e eu logo pensava besteira. Ela repetia e eu apenas ria. Era hola pra cá, hola pra lá, e eu só conseguia pensar na tal marca de camisinha. Enfim, como namorar uma equatoriana? Ando pensando seriamente a respeito. Não consigo vislumbrar uma vida em solo quichua, também não a vejo tomando chuva pela terra da garoa.

Talvez não seja a melhor hora para tal devaneio, mas, puta que pariu, desembarcarei em Guayaquil?

domingo, 9 de dezembro de 2012

Trilogia de Amor

II - Sobre o Encontrar

Tenho uma mania estranha, dessas que as pessoas têm e não comentam com ninguém. Não considero uma mania bizarra e nem tanto incomum, porém, não a comunico por aí nem a exponho em outdoors. Falo sozinho, confabulo comigo mesmo durante horas. Falo, rio, choro e falo mais um pouco, como se somente eu fosse capaz de entender a mim mesmo. E acredito que isso não soe como uma bobagem infundada.

Quem mais pode saber de mim, além de mim mesmo? O que vêem e o que sabem é apenas o que está na vitrine da minha vida. O interior é meu. Por mais que cogitem, não podem afirmar. E digo isso apenas para fins de constatação. Ninguém me conhece o suficiente para julgar, juiz de mim mesmo, esse sou eu. E sou porque posso.

Numa dessas conversas pessoais, dei-me conta de um incômodo. Silêncio e solidão em demasia. Falar consigo mesmo pode parecer sinal de loucura, quando se percebe o fato de estar se tornando rotina. Tanta gente por aí, tanta gente por aí.

Um recado, um pedido de socorro, uma visita, um oi, um abraço, um beijo, uma bela noite de amor e sono. Outro recado, outra visita, outro oi, desta vez sem abraço, direto ao ponto. Belíssimas noites de amor e sono. Guardei meu grilo falante na gaveta. Agora podia falar o quanto quisesse, pois mais do que qualquer outra coisa, descolei um ouvido.

Um ouvido paciente e gostoso de morder. Idas e vindas, espaços que parecem intermináveis, preenchimentos fantásticos. Qualquer segundo ao seu lado parece uma década. O tempo corre  contra nós. Uma semana tem a triste duração de um dia. E pela lógica matemática, um mês com ela parece durar quatro. Quatro dias. Que sejam então, quatro dias de amor e brilho nos olhos.

Amantes não ligam para o tempo.

Em certos momentos, o silêncio e a solidão me presenteiam de maneira interessante. Quando menos se espera, algo incrível acontece. A vida é, de fato, a grande arte do encontro.  Como quando uma tela em branco encontra a beleza das cores, eu a encontrei. Inesperadamente surpreendente e inexplicavelmente tardia.

Seus caminhos levaram um bom tempo para cruzar com os meus. Antes tarde do que nunca. Agradeço ao destino pela lembrança. Encontrei alguém capaz de encontrar a mim. Isso soa muito suficiente e satisfatório, não vejo outro sentido para a existência humana, senão viver de encontros, duradouros ou não.

Amantes não ligam para o tempo.

Quem liga para o tempo é desligado da vida.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Manual de Reparos

Que tanto complicada fora tal intenção. Querer chegar em certo lugar, sem saber como, sem ideia qualquer ou itinerários psico-latejantes. Segui a linha da consciência e perpetuei meus pés em sua estrada. Hora senti medo, hora absoluta coragem. Para tais intentos é preciso uma pitada de cada qual.

Verdade que não segui um caminho solitário. Verdade que me escondi de muitos, e a outros tantos, deixei-me levar profundamente. Saboreei das novidades como um diabo faminto. Em goles generosos, embriaguei-me do novo. Enchi a cara, ressacas inesperadas em companhias surpreendentemente boas. Há um quê de inesperado em tais situações. Virtuosismos de lado, abraços demorados e tão ternos quanto um coração de mãe.

Se você parar para ouvir, aquilo que de fato faz parte do que se pensa, verá que nem tudo é algo a se desperdiçar. Tempo, tempo, tempo. Minutos que enlaçam minhas mãos em seus cabelos. A existência carece de tais sinceridades. Arrepios, sustos, amor e ventura. Delícia é tragar a vida sem pressa, e se possível, diariamente.

Agora eu sei o tanto que perdi, o tanto que me fiz recluso às mazelas de um querer preguiçoso, às influências negativas e coisas do gênero. Despertei de um pesadelo, livrei-me de vampiros sugadores de sangue e agora percebo o tanto que tenho a meu favor, caminho de pedras, pedregulhos, mourões, buracos e curvas intensamente deslizantes.

Não saber para onde ir pode parecer fraqueza, e que bela coisa é essa. Enquanto os que se julgam sabidos do assunto seguem por caminhos trágicos, sigo meu caminho de dúvidas e meias certezas. Sigo o caminho do bem. Faço planos como quem bebe um copo d'água. A simplicidade reside em minha alegoria principal. Abram alas que estou passando.

Leve como uma pluma, revigorado. Sem peso na consciência, acolho os botões de flor que agora se fazem presente em minha estadia terrena. Livre e espontaneamente feliz, colho os frutos que plantei em outras épocas. Sabe aquelas fases da vida, em que tudo parece sorrir para você? Pois é. Tenho exercitado minhas mandíbulas como há muito não fazia. Sorrio de volta para tudo e todos. E isso, faço a todo momento.

Coisa linda é viver a vida sem qualquer pesar, sem amarras, sem se privar daquilo que se quer, seja isso do agrado alheio ou não. Que me importa o que os outros pensam? Quando morrer, morrerei sozinho, afinal, ninguém dividirá comigo o calor abundante de uma tábua crematória. Ou será que estou errado? Estou certo que não.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Primeiro Cio

A minha gata entrou no cio. Sei que já deveria tê-la castrado meses atrás. Não sou o melhor pai para ela, mas, na ausência de uma mãe e sendo incapaz de vislumbrar melhores alternativas, o que me resta são parafusos. Minha gata entrou no cio, pela primeira vez.

Mas afinal, quem está no cio? Pois parece que sou eu. Ando mais preocupado e desorientado que a dita cuja. De fato, ela anda bastante diferente, se eu perdi meus parafusos, ela não se recorda por onde andam as porcas. Geme como uma gata no cio, oras! Não sei o que acontece, mas imagino que não seja das melhores sensações. Um grau de perturbação insano. Creio que ela não faça ideia do que está havendo e portanto, não julgo sua insuportabilidade uma atitude equivocada.

Pior que olhar para a coitada sem ter o que fazer é imaginar esses gatos esfarrapados da vizinhança se aglutinando em torno da minha princesinha. Uma fila de gatos safados, afim de dar uma trepada e nada mais. Porque esses sacanas não arcam com as conseqüências? Já sou pai, e mesmo que péssimo,  terei de superar-me, ou seja, terei de ser pai e avô ao mesmo tempo.

Não imagino um gato comprando fraldas, tampouco ninando sua cria em plena madrugada. Mas seria interessantíssimo poder dividir com o verdadeiro progenitor a responsabilidade pelos filhotes, que serão, a meu ver, diversos, dado o número de pretendentes que compõe a fila aqui no bairro. São gatos e mais gatos, amontoados, surtados, tarados, loucos e perseverantes. Lutando entre si, como lutadores de luta gato-romana, por uma mísera micro-vagina felina.

Há algo de muito habitual e familiar nessa constatação, mas, deixo isso para uma próxima oportunidade. Gatos, eternos cuspidores de pelos... Quem um dia poderá compreendê-los?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Leitura Incompleta


Acabei meu livro, outro dentre tantos que li esse ano. Acabei de ler pensando numa continuação. Detesto quando um livro termina e me deixa com aquele gostinho de quero mais. Porque de fato, quero muito mais. Acabei de ler meu livro e não me julgo capaz de escrever a tal desejada sequencia. Isso me incomoda, até certo ponto, mas não acredito que esse pensamento permaneça por muito mais tempo.

Última página de uma história de amor incrivelmente suja. Fico imaginando como alguém pode ter escrito algo tão sublime e tão pavoroso ao mesmo tempo. Uma linguística impecável, recheada de frases de impacto e sacadas interessantes. Um festival de bobagens e palavrões dos quais não seria capaz de citar em apenas um parágrafo.

Fechei a contracapa, acabei minha leitura. Uma imensa aventura pela criatividade de Charles Bukowski, aquele fanfarrão. Criatividade, insanidade, vadiagem pura. Uma putaria exemplar, queria ser ele, detestaria ser ele. Amor e ódio, o cara desperta em mim inúmeras psiquês. Finalizei o tal livro e nem sei por quê. Deveria ter deixado a leitura incompleta.

Leitura incompleta. Se reclamo de finalizar os textos aos quais leio, pelo simples fato de terminá-los, ou pelo fato de, em algumas vezes, ir de encontro ao final proposto por seu autor. Por quê não? Interromper um livro no fim pode significar, pelo menos para mim, possibilidades infinitas, uma chuva de possíveis finais, aos quais, vou imaginando com o passar dos capítulos.

É isso. Um livro sem fim. Como não pensei nisso antes? Começo e meio. Final para quê? Para que os outros possam dizer, ei, li seu último escrito, só não compreendi o fim, acho que poderia ter sido assim, acho que poderia ter sido assado. Assim? Assado? Estou cansado disso tudo. Meus livros não terão fim, quer queira, quer...

domingo, 2 de dezembro de 2012