domingo, 9 de dezembro de 2012

Trilogia de Amor

II - Sobre o Encontrar

Tenho uma mania estranha, dessas que as pessoas têm e não comentam com ninguém. Não considero uma mania bizarra e nem tanto incomum, porém, não a comunico por aí nem a exponho em outdoors. Falo sozinho, confabulo comigo mesmo durante horas. Falo, rio, choro e falo mais um pouco, como se somente eu fosse capaz de entender a mim mesmo. E acredito que isso não soe como uma bobagem infundada.

Quem mais pode saber de mim, além de mim mesmo? O que vêem e o que sabem é apenas o que está na vitrine da minha vida. O interior é meu. Por mais que cogitem, não podem afirmar. E digo isso apenas para fins de constatação. Ninguém me conhece o suficiente para julgar, juiz de mim mesmo, esse sou eu. E sou porque posso.

Numa dessas conversas pessoais, dei-me conta de um incômodo. Silêncio e solidão em demasia. Falar consigo mesmo pode parecer sinal de loucura, quando se percebe o fato de estar se tornando rotina. Tanta gente por aí, tanta gente por aí.

Um recado, um pedido de socorro, uma visita, um oi, um abraço, um beijo, uma bela noite de amor e sono. Outro recado, outra visita, outro oi, desta vez sem abraço, direto ao ponto. Belíssimas noites de amor e sono. Guardei meu grilo falante na gaveta. Agora podia falar o quanto quisesse, pois mais do que qualquer outra coisa, descolei um ouvido.

Um ouvido paciente e gostoso de morder. Idas e vindas, espaços que parecem intermináveis, preenchimentos fantásticos. Qualquer segundo ao seu lado parece uma década. O tempo corre  contra nós. Uma semana tem a triste duração de um dia. E pela lógica matemática, um mês com ela parece durar quatro. Quatro dias. Que sejam então, quatro dias de amor e brilho nos olhos.

Amantes não ligam para o tempo.

Em certos momentos, o silêncio e a solidão me presenteiam de maneira interessante. Quando menos se espera, algo incrível acontece. A vida é, de fato, a grande arte do encontro.  Como quando uma tela em branco encontra a beleza das cores, eu a encontrei. Inesperadamente surpreendente e inexplicavelmente tardia.

Seus caminhos levaram um bom tempo para cruzar com os meus. Antes tarde do que nunca. Agradeço ao destino pela lembrança. Encontrei alguém capaz de encontrar a mim. Isso soa muito suficiente e satisfatório, não vejo outro sentido para a existência humana, senão viver de encontros, duradouros ou não.

Amantes não ligam para o tempo.

Quem liga para o tempo é desligado da vida.