segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Eu Amo Você

O amor não tem idade.

Não segue regras, foge dos conceitos básicos relacionados a carne, como nascimento e morte, o amor não cabe em qualquer ampulheta e não se encontra preso a prazos e calendários.

O amor acontece.
O amor é um evento.

Raro, para quem persiste na idéia de que existem coisas mais importantes do que simplesmente amar. O amor, quando sentido verdadeiramente, é chama que se põe a arder sem avisar e queima sem se preocupar com sua extinção. O amor acontece todos os dias, basta perceber que só é necessário estar vivo para senti-lo e compartilhá-lo.

O amor não tem idade.
O amor não envelhece, o amor rejuvenesce.

Quem ama e diz que ama e não tem medo de amar de forma alguma, pode se considerar parte do ciclo maior da vida que nos cerca, o amor irrestrito, a si mesmo, amor ao próximo, amar o mundo e receber de volta tudo aquilo que se conquista com seu investimento, óbvio, mais amor.

O amor plantado é, definitivamente, o amor colhido.

E digo isso porque sei que, no fim das contas, é a única coisa realmente capaz de mover barreiras, de mudar tudo, de transformar esse mundo e fazer brotar o sorriso mais sincero de todos, fruto de sua maior invenção, a felicidade.

O amor não tem idade.
Quem diz que tem, há de já estar morto.

E eu sei que amo e sou amado, assim como você, que está lendo isso, e que nesse exato momento parou para pensar em alguém muito especial, alguém capaz de fazer você dizer sem qualquer discrição, aquelas três palavrinhas essenciais, tal como o ar à respiração, as três palavrinhas que dão mais vida ao coração...

Eu.
Que sou apenas um dos tantos mais apaixonados.

Amo.
Com todo o amor que há em meu peito.

Você.
Que sem rodeios, me ama de volta com a mesma intensidade.

O amor não tem idade, e está batendo à sua porta.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Duas Putas

















Tem noites em que o melhor a se fazer é dormir, outras nem tanto. Nessas, como de costume, o melhor é não precisar acordar.

Sábado à noite, perto das dez horas, juntei um troco e parti para a Augusta. É de conhecimento de todos que bêbado na Augusta brota mais que manga em mangueira e morcego em Gotham City, portanto, acredito que a minha estada e o meu estado não foram exclusividade alguma daquela noite.

Passei por alguns inferninhos, bebi muita cachaça, fumei meu cigarro, dancei puntz-puntz, dancei forró, subi, desci, sentei, levantei, mijei e caguei naquela porra.

Tudo lindo. Tudo muito bacana. Até a hora de ir embora. Aí você me pergunta: mas por quê? Tava tudo uma merda? Bebeu demais? Passou mal? Junte todas as alternativas e acrescente o fato de eu ter resolvido me embrenhar num ninho de cobra criada justamente as três horas da manhã.

Elke e Havana. Uma sucuri, outra cascavel. Duas putas muito da desgraça, que resolveram se apresentar e oferecer os seus digníssimos serviços para mim. Eu, que sou praticamente um homem casado.

- Sessenta conto a chupeta! – disse a sucuri, passando a mão pelo corpo e fingindo levantar a saia.

- Tô duro! Fica pra próxima!

- Tá durinho é? Que novidade! (risos) É isso o que acontece com quem se depara com duas gostosas como a gente!

- Hum, na certa é! Mas pra isso acontecer comigo, tenho que descer essa caralha toda de volta e beber três vezes mais do que eu já bebi!

- Tá tirando “as donzela” rapá? É viado por acaso? Aqui ó! Oito mil esse silicone, oito mil “esses peito”! – retrucou, revoltada com o meu desinteresse.

- Caralho! Quatro mil cada peito! Dá pra ficar com um só, vender o outro e comprar uma moto! Se eu tivesse uma moto, metia o pé daqui, não subia essa porra toda pra pegar o metrô.

- Tá pobrinho tá? Tem quanto aí? Quinze pila paga uma chupetinha! – disse Havana, entrando na conversa com seu par de seios maiores que a minha cabeça.

- Olha, eu não tô querendo foder ninguém, tô bêbado, sem um puto no bolso e com duas putas penduradas no meu pau! Dá licença vai, vou sair fora!

- Calma aí! Gostei de você! – disse Havana – Não liga para o que ela diz não! Se quiser te dou uma chupada e você não precisa pagar nada!

Quando a esmola é demais o santo desconfia. Sozinho na madruga, bêbado feito um pau d’água e sem dez centavos no bolso, queria mesmo era dar uma bela duma foda pra encerrar a noite, mas não ali. Não com aquelas putas “cadeira de rodas”.

- Agradeço, mas preciso ir embora pra casa. Tô passando mal, não quero vomitar na frente de vocês.

- Olha aqui moleque! Você tá pensando o quê? Que a gente está esperando um príncipe encantado? Que a gente fica plantada aqui esperando um namorado? O negócio aqui é grana! Se não tiver pra pagar, sai fora, e deixa a gente trabalhar!

Era a deixa que eu queria para ir embora, mas, bêbado do jeito que eu estava, sei lá por que razão, resolvi ficar mais um pouco.

- Ok. Há um minuto você queria me chupar de graça, agora voltou a me cobrar! O quê? Gostou foi? Queria dar de graça também? Esse papinho de não quero príncipe encantado não tá colando agora né?

- Você não sabe com quem tá se metendo seu moleque! Logo aparece algum cliente e te bota pra correr daqui!

- É, a procura tá forte por aqui, faz bem uma hora que eu estou falando com vocês e nada de passar alguém.

- Nossos clientes passam de carro! Não são pedestres como você!

- Opa! Valeu! Falou a cheia da grana! Dá licença vai, meu ouvido não merece tudo isso.

- Oito mil cada peito! Oito mil cada peito! Eu sou uma empresária do sexo, o dinheiro que eu tiro aqui com o meu corpo, por dia, dá pra bancar um silicone desses! Duas motos cada peito! Dava pra nós duas fugirmos sobre duas rodas e deixar você aqui falando sozinho!

- Ok! Façam isso! Mas não esqueçam de emprestar essas caras de cu, para eu poder me virar bem no lugar de vocês!

Um carro parou e levou as duas. As duas putas mais escrotas que já vi na minha vida, por sessenta reais, trinta cada uma. E agora, eu era o rei da esquina. Não havia ninguém mais poderoso que eu na travessa da Augusta com a Matias Aires.

Agora, no lado negro da força, definitivamente, eu era o Darth Vader.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mais do Mesmo

Mais do Mesmo


Já me perguntaram trocentas vezes em quem eu votei. Se eu votei, o por quê. Além do por quê, se existe em mim alguma raiz partidária que me faça ser escroto o bastante para votar e, pra não fugir ao hábito, se eu tenho algum problema.

Eu votei sim, não anulei meu voto, não fiz campanha política nem pra um, nem pra outro. Só acredito que um lado dessa moeda seja um tanto mais sujo que o outro, mas isso não quer dizer que eu aceite essa moeda. Prefiro somente jogar com o lado mais limpo, ou menos sujo, tanto faz.

Para findar minhas considerações pós-eleições, votei no azul-amarelo da social democracia, pra não perder o costume. Pra não perder o costume e a minha liberdade de expressão. Pois são os ataques feitos à imprensa e aos meios livres de comunicação, como blogs e demais artifícios que, ao meu ver, tornaram a campanha da candidata da classe operária uma verdadeira maré de dúvidas e medo.

Medo.

Medo de não poder mais vir à público, assim, como venho habitualmente aqui, pra dizer as palavras que insistem sair da minha boca, palavras que se levadas ao pé da letra, não são tão tolas, como você pode ver.

Meu voto não é segredo, nem protesto. Meu voto é um dever, que deveria ter sido coroado com a participação total do eleitorado, porém, vivemos num país onde se trabalha de mais e se folga de menos. O feriado quebrou a perna de ambos os candidatos, mas não as minhas.

Andei cerca de 45 minutos, depois de pegar um metrô abarrotado de gente, subi, desci, subi de novo, virei pra esquerda, pra direita, e ponto, cheguei. Vim, votei, venci. E agora posso me considerar digno da explanação que faço aqui. Quem não vota é idiota.

Se essa é a melhor forma de protesto que vocês conhecem, eu é que pergunto, qual o problema de vocês?

domingo, 31 de outubro de 2010

Cliente Mais

Cliente Mais


Incrível como a gente pode viver cercado de gente por todos os lados e ainda assim, sentir-se solitário.

Nunca parei para pensar nisso. Não de forma profunda. Talvez por isso tenha me surpreendido tanto nessa última semana. Não havia pensado na solidão entre aspas tantas vezes em apenas sete dias.

Minha namorada sai cedo, pra faculdade, junto comigo, volta pra casa e vai direto pro trabalho. Tudo bem, trabalho é bom. Ruim é ver todas as outras pessoas que dividem o teto também irem trabalhar e você ali, sentado na mesa, tomando o café com a colherzinha, pra ver se o tempo corre mais rápido.

Eu nunca pensei que fosse sentir tanta falta do meu antigo emprego como tenho sentido ultimamente.

E só fui capaz de perceber isso quando me peguei desabafando com a caixa do supermercado, depois de passar uma hora andando de um lado pro outro, olhando estante por estante, fileira por fileira, comparando preços e tudo mais, pra no final das contas, voltar pra casa com um pacote de arroz, dois sabonetes e uma coca-cola.

- Boa noite!
- Boa noite!
- Cliente Mais?
- Não, não...
- Nota Fiscal Paulista?
- Também não.

Acho que estava escrito na minha cara. As pessoas quando se sentem infelizes e carentes de um certo diálogo, fazem sempre a mesma cara. Cara de cão sem dono. Mas eu tenho dona, ela só não estava presente naquele momento. Cara de bunda. Cara de “alguém me ajuda” ou cara de merda - pra não dizer outra coisa - também vêm bem a calhar nessas horas.

- Faz tempo que você trabalha aqui?
- Seis anos.
- Engraçado, nunca te vi.
- Acontece. É tanta gente passando compra, com pressa, fica difícil lembrar.
- Pois é. E é bom trabalhar aqui?
- Melhor do que ficar desempregada.
- Eu estou desempregado. Na verdade, faz um mês que eu estou desempregado. Será que depois de um mês sem trabalhar eu já posso me considerar vagabundo?
- Se fosse lá em casa sim. Mas você não tem cara de quem precise muito.
- É né, acho que todo mundo deve pensar assim. Deve ser por isso que ninguém me contrata. Talvez seja o caso de mudar o visual e ir pedir emprego bem maltrapilho, não?
- Maltrapilho atrás de grana é mendigo.
- Mas eu não sou um mendigo. Você simplesmente disse que eu sou boa pinta e que por isso talvez não precise de dinheiro.
- Toma! Leva pra casa, preenche e traz para mim da próxima vez que você vir aqui. Assim você ganha um descontinho nas tuas compras e me conta se conseguiu ou não arranjar um emprego.

O cartão de benefícios do supermercado me garantia, na pior das hipóteses, um retorno ao caixa daquela mulher. Desconto nas compras, para um desempregado, na maioria das vezes soa melhor que uma gozada.

Voltei pra casa, preenchi o formulário e me lembrei da mocinha estranhamente simpática que me acolheu em seu caixa, num fim de noite escroto de um sábado qualquer.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

2º Turno

2º Turno
                E A INESQUECÍVEL ONDA VERDE DO BEM (OU DO BOM?).


- Política. Que porra é essa?

Você sabe me responder? Muita gente não se incomoda nem um pouco em dizer que nunca desperdiçou tempo e neurônio para isso.  Louvados sejam estes, cidadãos de boas intenções e de cérebros engavetados.

Eu respondo. Política é essa merda toda aí, que você vive vendo na televisão. Realidade putrefata e fétida de um meio desonesto e injusto, que visa o lucro, subjugando valores e pessoas, valores pessoais, ideais partidários e promessas tão mentirosas quanto uma nota de três reais.

Lá em Brasília todo mundo apronta e não se fala mais nisso. Ninguém sabe, ninguém viu. Puta que me pariu! Lá em Brasília cueca de couro não é artigo erótico e masoquista, e sim, uma atualização da utilização das cuecas comuns. Cuecão de couro no planalto é coleção nova, da moda do momento que não muda nunca: dinheiro escondido, falcatrua, pilantragem, putaria, sacanagem, pra não dizer FALTA DE VERGONHA NA CARA, BANDIDAGEM!

- Seus safados! Filhos da puta! E o caralho!

Vivo escutando isso. Não importa o lugar, em época de eleição, o papo é sempre o mesmo. Gente indignada nos bares, gente indignada nos elevadores, gente indignada nos trens do metrô. Gente sorridente nos botecos, gente sorridente nas filas dos ônibus, gente sorridente na sarjeta. Porque é assim que se vota nesse país. O pobre, naquele que diz que vai tirá-lo da pobreza e o rico, naquele que diz que vai deixá-lo ainda mais rico. Por isso tanta gente vota num e tanta gente noutro.

Mas o problema, dessa vez, é pura traquinagem. E quem disser que eu tô falando bobagem aqui, não sabe de porra nenhuma.

O problema dessas eleições não são estes dois candidatos. Nem seus partidos. O problema não vem das suas coligações, nem das ligações que tenho recebido (com gravações escrotas dos mentecaptos Dilma e Serra, pedindo esperançosamente, que eu vote em seus respectivos números: 13 e 45). A zica dessas eleições tem nome, cor e número. A surpresinha desse ano obteve nas urnas uma considerável votação, que serviu inclusive, para concretizar um segundo turno.

Alguém me diz... De onde foi que saiu esse tal de Partido Verde?

Estava em casa, num dia desses, pensando na hipótese desse partido consistir apenas de alienígenas perdidos no espaço. Mera invenção de uma mente alucinada. Talvez não estivessem perdidos. E se fossem alienígenas bem intencionados realizando uma missão de paz? Não. E se fossem alienígenas muito mal intencionados, enviados numa missão exploratória de aniquilação do planeta Terra? Clichê demais.

- É. Talvez não sejam mesmo alienígenas.

Porém, creio eu, que para surgir assim do nada e realizar algo até então inimaginável, esses brócolis engravatados deveriam estar em algum lugar super secreto, de certo, tramando essa aparição surpreendente e arrebatadora!

Eu: - Mas que caralho essa eleição né?

Marlon: - Nem me fala sublaime¹, tô puto da vida com tudo isso que está acontecendo. Ninguém se movimenta, ninguém peita, é foda! Nesse país, as pessoas esperam por milagres que deveriam partir delas mesmas. Isso é um absurdo! Comodismo escroto, país de vagabos!

(pausa de quinze segundos para absorção de informação e...)

Eu: - Mas que porra de eleição né sublaime?

Marlon: - Ih, chapou.

(risos)

Quando Marina Silva chegou falando alto, com aquela boca roxa, de raspas de beterraba, pensei comigo mesmo “agora é que fodeu de vez”, porém, fui surpreendido pela mesma durante um sonho, onde ela me dizia algumas palavras. Ela me dizia assim:

Marina: - Passa a bola.

Marina: - Coé playba! Passa logo esse galho!

Marina: - Perninha de grilo é o caralho! Tem mais aí pra fazer um pirócão?

Marina: - Cof! Cof! Cof! Piteira é foda! Piteira me fode o pulmão!

Marina: - De onde? Do Acre!

Marina: - Porra nenhuma, só mato! Dá pra plantar uma pá de sementes dessas lá!

Marina: - Mas você tem o dom dessa tecnologia? Nunca tinha ouvido falar desse tipo de desenvolvimento em estufa!

Marina: - Cargo? Pra qual ministério?

Marina: - É tudo teu sublaime! É tudo nosso! Vamos fumar essa porra toda até acabar!

Marina: - Você não votou no Ricardo Young não, né? Careta bagarai...

Sim. Foi apenas um sonho. Mas quem garante que não seria mais ou menos assim? Essa galera verde defende pontos de vista extremamente à frente. Direita? Esquerda? Não existe um determinado lado para quem promove a ecologia e a expansão dos limites da imaginação. Política atrasada? Não em conceitos. Sim em tempo. Quinze anos a mais de existência e algo maior já teria (e isso é certeza absoluta) sido alcançado e realizado.

Defender a legalização da maconha não é algo digno de um Academy Awards? Para muitos sim. Para muitos ignorantes, não.

Quem não fuma maconha ou é preguiçoso ou está mentindo. Correto Pingueleto?

E quanto ao aborto? Ao pacifismo? Ao poder descentralizado? São apelos que merecem ou não um aprofundamento maior? Um partido que defende tais idéias não pode continuar passando em branco.

Eu não votei no verde. Verde pra mim foi só o botão, que eu apertei cinco vezes no primeiro turno dessa eleição.

Não votei. E não sei se me arrependo ou não. Acredito que os reflexos dessa campanha sejam imensuráveis, partindo do pressuposto de que seus votos não foram poucos e de que suas idéias começaram a ser levadas em consideração, até mesmo pela massa desmiolada que vota em qualquer um que bote leite e pão na sua mesa.

Você que votou no verde: salve a vida de um tucano. Sei não, sei não.

Você que votou no verde: salve-nos da privatização!  Sei não, sei não...

Quem sabe numa outra eleição...

Eu: - Sublaime, se você tivesse votado, quem seria o seu escolhido para a sucessão presidencial?

Marlon: - Não sei. Talvez a Marina.

Eu: - Mas que porra de eleição né!

Marlon: - Fumando de novo irmão? Larga essa porra aí! Dá na minha mão!




* sublaime¹ - deriva de sublesk, que deriva de sobrinho, apelido muito comum em Paraty, cidade natal do Marlon e lugar preferido do cidadão que vos fala. 

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Susto - Pt. II

                                                          SUSTO
                                               Parte II - A CONTINUAÇÃO DA CARALHA.



RUA - NOITE

Ciente do ocorrido no posto de saúde e atento às novas possibilidades de se tomar uma dedada de rabo sensacional, percorremos o caminho de volta prestando muita atenção. Nada poderia piorar um dia tão atípico, pra não dizer escroto.

Marlon: - Quê que foi isso cara? Quase me passaram a faca! Isso porque eu só queria um atestado! Imagina o que não teriam feito se eu realmente precisasse da cirurgia! Iriam arrancar fora o apêndice, o rim, o fígado, a porra toda!

Eu: - É cara, é foda. Mas bem que você poderia ter esperado um pouco mais, deixava lá a porcaria do apêndice.

(risos)

Eu: - Eu consegui meu atestado, porém, não por conta do que eu realmente tinha. Cheguei ao posto com a garganta inflamada e saí com uma obstrução das vias respiratórias, bronquite.

Marlon: - Pelo menos conseguiu o atestado.

Eu: - Sim. Mas não estava nos meus planos fazer aquela inalação. Agora tô andando todo torto, chapadão. Logo mais aparece um guardinha e me leva em cana.

Certos de que isso jamais ocorreria, “preso por praticar nebulização em posto de saúde”, prosseguimos com a caminhada. Do posto até a casa são alguns quarteirões. Alguns quarteirões a mais do que o suficiente pra deixar as pernas bambas.

Marlon: - Tá tocando o telefone. Pera aí um minutinho! Deixa eu atender.

Continuamos andando. Eu prestando atenção na rua e o Marlon levando um papo no celular. Não que eu seja intrometido, mas, não pude deixar de notar a conversa.

Marlon: - Oi! Tudo sim! Acabei de sair do posto de saúde. Tô legal cara, mas o susto foi foda.

(pausa)

Marlon: - Então, tô voltando pra casa com o Vicente.

(pausa)

Marlon: - Mas onde você está? Perto do metrô?

(pausa)

Marlon: - Sei onde é, espera aí na frente que a gente tá chegando. Acho que tem um bar na esquina de cima, encontramos você lá.

(pausa)

Marlon: - Abração cara! Tchau!

Ele encerrou a ligação e olhou para mim, dando risada. Eu não entendi a ironia e segui batendo perna.

Marlon: - Irmão! Vamos apertar o passo. O Pinta tá vindo encontrar a gente.

Eu: - O Pinta?

Marlon: - O Pinta. Liguei pra ele lá do posto.

O Pinta é um daqueles caras que não se pode julgar. Nem classificar. O Pinta é um cidadão contraditório. Tem esse apelido por conta de uma pinta do tamanho de um pinto, na altura do pescoço. Evangélico assumido, vive escondendo o jogo e diz que nunca fumou um baseado. Logo ele, tão mal cuidado, com as pontas dos dedos sempre amareladas.

BOTECO – NOITE

Chegamos no boteco supracitado, pedimos uma cerveja e apenas dois copos. O Pinta também não bebe. Não bebe, não fuma e também não deve foder, logo, reza todo dia, seja o dia santo ou não.

Pinta: - Poxa! Fiquei preocupado! Quer dizer então que quase te deram uma lambida?

Marlon: - Uma lambida? Tá me estranhando pôrra?

Pinta: - Lambida pô! Facada!

Marlon: - Hum! Pois é.

(risos)

Do lado do boteco, coincidentemente ou não, havia uma igreja. Na verdade, um prédio imenso, que só pode ser definido como tal por conta do letreiro gigantesco que havia em sua fachada. Se alguém me dissesse que aquilo era um shopping, eu acreditaria. Mas isso dificilmente sairia da boca do Pinta, que, ao invés de nos acolher em sua amizade e nos acompanhar pra casa, resolveu nos levar para conhecer o empreendimento.

Pinta: - Vocês já entraram na Universal?

Eu: - Eu nunca botei o pé dentro de uma igreja.

Marlon: - Na Universal não.

Pinta: - Maravilha! Venham comigo, quero que vocês conheçam! Vou pedir pro pastor fazer uma oração por vocês! Depois dessa que vocês passaram, vale a pena pedir pelo auxílio do Pai.

Eu: - Já estamos fodidos de qualquer jeito, então... vamos lá.

Chegando lá, me deparei logo de cara com uma barraca branca, daquelas de praia, por onde passavam vários carros em seqüência. Sem entender nada, segui andando, até dar de cara com uma placa, onde havia três círculos coloridos, imitando um semáforo, com as seguintes palavras sob cada um deles: PARE, ORE e SIGA.

Eu: - Que pôrra é essa Pinta?

Pinta: - É o drive-thru da oração! Vocês nunca viram? Passou até no jornal!

Marlon: - E que caralho é isso aí?

Pinta: - É o seguinte, você pára com o seu carro, abre a janela, recebe uma oração (sem ter que sair do carro), doa a quantia que achar justa e segue o seu caminho.

Eu: - Que putaria do cacete! (PENSEI)

Marlon: - Hum, que bacana! (Acredito muito que ele deve ter pensado o mesmo que eu, mas, por se tratar de um cidadão muito educado, o Marlon preferiu dizer tais palavras).

Pinta: - Venham! Vamos entrar!


IGREJA - AINDA DE NOITE

O saguão de entrada da Universal é maior que a minha casa. Só o saguão. Quando entramos e vimos o tamanho da bagaça, sinceramente, ficamos perplexos. Sei lá quantos metros quadrados. Metro quadrado pra caralho!

Pinta: - Pastor Evaldo! Trouxe alguns irmãos junto comigo, eles querem ouvir a palavra do Senhor!

Na hora, pensei em sair correndo, desmaiar, evocar o cramunhão, sei lá, mas não consegui fazer nada. Senti a mão pesada do pastor tocar a minha testa e quase peidei. Segurei firmemente enquanto ouvia o sermão e depois saí de canto, deixando a flatulência se manifestar.

Pinta: - Viu só? Não doeu nada! Essa passagem que o pastor Evaldo leu para vocês é uma das mais importantes da bíblia. Espero que tenha servido para lhes ajudar de alguma maneira.

Eu: - Sim. Se a intenção fosse a libertação dos meus gases tóxicos.  (PENSEI)

Marlon: - Com certeza ajudou Pinta! Eu não freqüento a igreja mas não tenho nada contra, muito bacana você ter nos trazido aqui. (Acredito, que ele tenha pensado em dizer outra coisa. Não sei se peidou também, mas, tenho lá minhas dúvidas quanto ao perfil “evangélico” do Marlon).

Pastor: - Olha! Está começando agora a Terapia do Amor, vocês não querem assistir? É muito interessante, afinal, todos procuram encontrar o verdadeiro amor, e aqui, esse sonho se realiza.

Eu: - Olha, tá ficando tarde, tenho prova amanhã, preciso ir andando.

Pinta: - Mas são oito horas! E amanhã é domingo! Ninguém faz prova no domingo! Vamos! Vocês vão gostar! Eu não me dei ao trabalho de sair de casa pra voltar sem ao menos ter assistido à Terapia do Amor! Vamos!

O Marlon olhou pra mim, eu olhei pro Marlon, e durante essa troca de olhares com certeza pensávamos na mesma coisa, já tínhamos ido longe demais! A idéia era passar o sábado em casa, sem dor de cabeça, sem loja, sem nada.

Marlon: - Eu tô sentindo muita dor na barriga! Preciso ir embora! Seu Evaldo, o senhor me desculpe, mas nós acabamos de sair do posto de saúde, estou com suspeita de apendicite, preciso ir embora.

Pastor: - Apendicite? Só um minuto! Vou fazer uma oração para que você saia dessa o mais rápido possível.

Feita a segunda oração, ainda no saguão de entrada da Universal, ouvimos mais algumas palavras do pastor e começamos a descer a escada.

Pastor: - Ei, tenho uma lembrança para dar a você! Pode levar, será muito útil, vai ajudar a iluminar o seu caminho!

O Marlon pegou a lembrança e finalmente partimos em direção à nossa casa. Chegamos um tanto frustrados. Ele com um DVD do Bispo Edir Macedo e eu com um dos atestados. Como vocês já sabem, o outro não foi liberado (mas o passeio de ambulância vai ficar pra sempre na memória).


FIM (Agora é pra valer!).


(para ler a primeira parte) http://tinyurl.com/7g56bgd 


Água & Sal

Eu odeio esses biscoitos
Cream Crackers.

Acredito, inclusive, que não exista
Nada mais triste em uma prateleira...

...do que ser um Cream Cracker.

Biscoito água e sal.
Farinha, óleo, água e sal.

Água e sal. Puta que pariu.



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

23 Anos

23 Anos

Eu tenho vinte e três anos.

Quando eu nasci, o Brasil era um país muito diferente do que ele é hoje. Não existia internet, celular, aparelho de DVD, nada dessas coisas que rolam por aí. Um computador era artigo de luxo, um telefone móvel, algo muito além da compreensão. Todas as fitas tinham de ser completamente rebobinadas e devolvidas no balcão.

Vinte e três anos e nove meses. Vinte três anos e uma gestação.

São duzentos e oitenta e cinco meses. Duzentas e oitenta e cinco páginas viradas de vinte e três calendários diferentes.

É praticamente impossível calcular quantos dias eu tenho de vida. Quantas vezes eu dormi, quantas vezes eu fingi e quantas vezes eu só cochilei. Também não sei quantas vezes me perdi, quantas vezes eu tentei e quantas vezes acordei. Horário sempre foi um grande problema na minha vida.

Vinte e três anos, uma gestação e mais uns quinze dias.

É possível mudar de vida em quinze dias. É possível se apaixonar em quinze dias. É possível se comprometer infinitas vezes e não cumprir com nada. É possível viajar, ir e voltar, conhecer coisas novas. Geralmente é esse o tempo médio de duração de uma viagem. Quinze dias. Dá até pra aprender inglês durante esse tempo. Tem um monte de cursos por aí afirmando isso. São duas semanas mais um dia. Você pode muito bem ficar sem fazer nada também, e só render no último dia, contanto que renda e muito. É isso que o mundo espera de você.

Não tenho idéia de quantas horas já se passaram.

Um minuto que passa, passa. Vira memória. Imagina só quantos minutos não se passaram desde que eu sentei na frente do antigo artigo de luxo pra escrever essas palavras. Muitos. Ou então, nos milhares, milhões, bilhões ou trilhões de segundos que me trouxeram até aqui.

Um minuto. Vivo escutando isso. Um minuto pra quem opera uma central de telemarketing é tempo suficiente pra resolver um problema, talvez contar uma piada, curtir com a minha cara, vai saber. Para outros, um minuto é um minuto. Sessenta segundos, que passam rápido demais e por conta disso, nem são levados em conta.

Para quem sofre de ejaculação precoce, em um minuto, dá até pra dar uma bela duma gozada.

Hoje, eu vivo num país muito mudado, que não tem inflação, mas que vive de mensalão e corrupção. Opa! Pouco mudou então. Tão logo eu nasci, o então presidente haveria de ser impugnado - algo que antes se chamava impeachment - e de política mesmo só fui ficar sabendo depois de uns quinze anos.

Não que eu goste, ou desgoste. A política é obrigatória. Quem diz que não gosta de política ou que não acompanha, mente. Ou vai querer me dizer que na hora de pagar as contas ou comprar um carro novo você não opta? Cada escolha é uma renúncia, não? O homem é um animal político. Já dizia Aristóteles.

O tempo passa e eu aqui de graça falando um monte.

Há exatos onze minutos eu bati a primeira tecla. Onze minutos é o tempo que eu levo pra ir da minha casa até o metrô. Do metrô, em onze minutos, eu percorro seis ou sete estações, atravesso a cidade. Deve ter muita gente indo de um lado pro outro enquanto eu escrevo isso aqui.

Eu tenho vinte e três anos.

E não fiz nada pra mudar o mundo.

Eu já desperdicei horas, não tentando mudar o mundo, mas tentando mudar a maneira com que as pessoas compreendem o mundo. Já cansei de falar, argumentar. Cuspir e levar cuspida.

O mundo não é mais o mesmo.

Não é mais o mesmo mundo que era há vinte e três anos, nove meses e quinze dias atrás.

Nem será daqui a vinte e três anos, nove meses e quinze dias.

O quê irá mudar? Espero que muita coisa.

Os carros terão asas e a nossa casa será controlada pelo poder da mente. Todas as crianças serão inteligentes, não existirão mais partidos políticos e sim frentes de mudança extremamente vinculadas aos seus propósitos, o verde estará nas ruas e nas cabeças das pessoas, assim como a emissão de poluentes estará totalmente controlada.

Sonhos.

A verdade é cruel e tem de ser dita. Seguindo a linha Marina Silva de raciocínio, nada será feito, e a humanidade sucumbirá, graças ao seu próprio desejo de prosperidade.

O fim está próximo.

Quando eu nasci nada disso se discutia. Eram idéias tolas dos primeiros ambientalistas preocupados que surgiram na Terra. Era balela. Besteira. Pouca bosta. Hoje é tema central de campanhas políticas e independentes por todo os cantos do planeta. Deu pouca atenção pra samambaia? Pro pardal? Nem ligou quando seu peixinho morreu? Então cara! Você é um alienado! Você é um corrompido! Você tá por fora da realidade!

Você não faz parte desse mundo ou faz parte da massa!

E a massa caga.

A massa caga no pau.

A massa corrompe.

A massa manda no pedaço.

A massificação de idéias estapafúrdias e sua disseminação sem qualquer critério, uma vez, nos levou a eleição de um presidente oriundo dessa mesma massa.

A unanimidade é escrota, burra! A ignorância reina onde não existe oposição.

Trinta e quatro minutos.

Trinta e quatro minutos de texto.

Que se eu multiplicar por três dá mais ou menos uma hora e quarenta. Uma hora e quarenta, quase um filme. Um Tropa de Elite II, por quê não? Queria eu ter escrito o roteiro desse filme, salve José Padilha, o cara que resolveu abrir a boca da maneira mais inteligente de todas. Sim. Não fez carreata, não matou ninguém, não participou de debate e pôs à mostra todo o esquema de corrupção das milícias do Rio de Janeiro.

É longe daqui.

O Rio é longe daqui.

Mas a putaria tá em todos os lugares, nas filas dos bancos, nos corredores das escolas, nas bocas das pessoas desonestas e nos bolsos dos mais miseráveis.

Há quatro anos atrás eu tinha dezenove. Era um idiota que não pensava em porra nenhuma além de escrever. Hoje eu sou um idiota que pensa numa caralhada de coisas ao mesmo tempo e que continua só pensando em escrever.

Quatro anos.

Pra quem tem oito é a metade.

Pra quem tem dois, é o dobro.

Pra mim que tenho meus vinte e três, é um bocado de tempo. Tempo pra fazer um bocado de coisas. Coisas que acarretariam num bocado de melhorias. Melhorias que fariam uma baita diferença para as pessoas à margem.

Quatro anos.

Dá ou não dá tempo pra mudar muita coisa?

Se em quarenta minutos eu escrevi isso aqui, e mudei o texto um monte de vezes, será que não dá pra mudar ou pelo menos tentar?

O babaca não é aquele que tenta e erra. E sim o que não tenta por medo de tomar no briôco.  

Errar é humano. Errar duas vezes é foda.

Agora, errar diversas vezes... é estrela vermelha.

Na certa.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Dever Cívico

Dever Cívico


- Tem muita gente fazendo merda.

Sete horas da manhã. Este foi o horário que o meu organismo escolheu para despertar do sono.

- Tem gente fazendo muita merda!

Mal precisei sair da cama para começar a contar as horas novamente. Queria poder dormir um dia inteiro. Queria me ausentar de tudo e dormir por um mês. Queria dormir. O descanso é imprescindível na vida de alguém que tenha a obrigação de votar.

- E tem gente que nem precisa sair da cama pra fazer merda.

Outro dia ouvi um conto que insistia na idéia de que, ao sonhar que era uma galinha chocadeira, o cidadão, um cretino qualquer, cagou a cama inteira.

Mas esse argumento está fora de questão.

- Que porra! Esses filhos da puta não cumprem um terço do que prometem, carcam dinheiro na cueca e eu, como um verdadeiro imbecil, sou obrigado a levantar o rabo pra ir votar.

- Beleza.

Dito e feito. Tomei uma xícara e meia de café, comi um pedaço de pão integral, acendi um cigarro e parti. No bolso, o título e um documento com foto, itens necessários para a realização do ato de cidadania mais escroto do mundo.

- Só com o título não rola? – perguntei ao mesário, logo que cheguei à seção.

- Não. É necessário um documento com foto. Além do título de eleitor, é claro.

- Então o título não serve pra nada!

- Serve para identificar a sua zona eleitoral e a sua seção.

- Eu sei onde é que fica a minha zona e a minha seção, senão não estaria aqui meu amigo.

- Mas nós não. Você precisa se identificar.

- Toma aqui, meu título de eleitor.

- Só com o título não vou poder liberar.

- Então não vou votar. Não vou votar, não vou justificar, muito menos ir até a minha casa buscar a porra do documento com foto e voltar.

- Ok senhor. A decisão é sua.

- Você é muito pouco flexível. Toma aqui a minha carteira de motorista. Tem foto.

- Porque não me apresentou antes?

- Para testá-lo. Queria saber até que ponto você poderia ou não ser um cidadão corruptível.

(risos)

- Pode entrar.

- Obrigado!

Entrei e votei. Não levei nem dois minutos. Saí do colégio e fui tomar uma cerveja, num barzinho logo ao lado. Lá no fundo, bem no fundo, havia uma cadeira vazia, só me esperando. Sentei, pedi a geladinha, acomodei um filtro branco no canto da boca e fiquei aguardando.

- Pronto! Votei! – disse um rapaz ao balconista, antes de lhe pedir um café.

- Votou em quem? Tá difícil de votar esse ano! – retrucou o do balcão.

- Anulei! Pra falar a verdade, anulei todos. Só votei no Tiririca. Que figuraça! Você viu a propaganda eleitoral dele na tevê? Um sarro esse cara! Mas não me leve a mal, é uma forma de protestar contra essa mesmice!

- Entendi. Eu não anulei meus outros votos, mas também fiz questão de votar nele. De alguma forma precisamos nos manifestar!

Incrédulo, assisti a tudo aquilo tomando minha cerveja. Fui embora daquele lugar pensando em como os seres humanos são tão semelhantes e tão diferentes ao mesmo tempo e, o quanto a política brasileira pode ser surpreendente.

- Vão eleger um palhaço. – pensei.

Pensei e indaguei a respeito. Um palhaço na câmara dos deputados. Mais um palhaço escroto no meio de um monte de palhaços escrotos. Brasília é um verdadeiro circo. Fato. Um circo repleto de comediantes caríssimos e chulos, sustentados pelo bolso desse povo “bem de vida”.

Um circo obsceno, um círculo estúpido! Que não permite a utilização do humor, como ferramenta de crítica e livre expressão durante qualquer campanha partidária.

- Partidos? Partidos e repartidos ao meio! Só se for.

Um circo de merda! Que de maneira muito controversa, concede a um palhaço semi-analfabeto a liberdade de fazer suas palhaçadas onde bem entende, dando a este crápula, o direito de concorrer a um dos cargos mais relevantes da política pública desse país.

- O humorista que sacanear, tá fodido! Agora, quanto ao palhaço ser sustentado pelo povo, enquanto conta suas piadas no intervalo do plenário, ninguém faz ou fala qualquer coisa. Obsceno.

- Isso não tem fim.

Não tem nem nunca terá. Afinal, palhaço eleito por outros um milhão e meio de palhaços (ou a família do Tiririca é grande desse jeito?).

É assim mesmo. Voltei pra casa, depois de perder um dia inteiro. Não votei em palhaço, nem armei o picadeiro.

Que Deus tenha piedade de nós.

domingo, 26 de setembro de 2010

Cedo

Cedo
                                                  ANTES FOSSE SEDA.


Hoje eu levantei cedo, dei uma bela espreguiçada, olhei para a fresta da janela e visualizei um raio de luz a incendiar minha vista.

- Bom dia a você dia! Que juntos possamos desfrutar dessas tantas horas! Horas que nos tornam cúmplices um do outro.

Voltei meus olhos para a cama - meu amor dormindo feito um anjo - pensei em suspender seu sono e acordá-la para ver o dia nascer por entre a fresta, mas desencanei logo da idéia.

- Melhor deixá-la como está.

Anestesiado por uma longa noite de descanso, meu corpo parecia estar mais preso à cama do que nunca! Teriam meus setenta e três quilos dobrado durante a noite? Acredito que não, aceito a preguiça e a convido para desfrutar das tantas horas que estariam por vir, junto a mim e ao dia. Mas antes, só um cochilinho bem de leve.

Cerca de cento e vinte três minutos depois, um barulho chato pra caralho, desses capazes de fazer você pensar “como é possível existir um barulho tão irritante assim?” me despertou do sono e me pôs de pé.

Abri a janela da tal fresta e olhei para a rua, na tentativa de encontrar o despertador ambulante. Fato é que sempre que se tenta encontrar a causa de uma coisa dessas você se depara com outras coisas que não condizem com aquilo que você procurava. Por exemplo, barulho de buzina de carro dá no mesmo que mendigo catando lata, ou então música alta... óbvio, um mendigo catando lata! Ou pior ainda, quando tocam a sua campainha e você, imbecil, bota a cabeça pra fora da janela e dá de cara com o desgraçado do mendigo perguntando se você tem lata, porque todas as que estavam jogadas e largadas na porra da rua ele já fez o favor de catar.

Mas isso não vem ao caso.

- Maldita campanha política!

Na real, eu sempre quis construir um ânus (mais conhecido como cu) gigante para poder enfiar todos esses mentecaptos dentro! Lógico, ateando fogo depois! Porque um rabão monstro, cheio de políticos sujos, merece um banho de álcool seguido de um fósforozinho neurótico! Mas também pensei em erguer uma pica imensa pra poder dar seqüência ao ato de revolta e terminar de uma vez por todas com esses picaretas. Porém, creio eu, que o processo criativo de dois artefatos desse porte seja difícil demais e que tome muito do meu precioso tempo. Foda-se então.

PENSOU QUE A HISTÓRIA FOSSE BONITINHA NÉ? BOM DIA PRO DIA E RAIO DE LUZ INCENDIANDO A VISTA, HAHAHA, VAI NESSA... NÃO TEM COMO SER BOM UM DIA QUE COMEÇA COM PROPAGANDA POLÍTICA.

Continuando...

- O cara grava esse jingle estúpido e nunca mais escuta. Mas o idiota do contribuinte aqui escuta, e acorda, e não dorme mais, e fica estressado, e pensa duas vezes se vai levantar a bunda de 146 quilos da cama para votar nesse porqueira desse candidato que começa a cantar às onze horas da manhã!

- Onze horas da manhã! Isso lá são horas de acordar alguém em plena segunda-feira? É inacreditável! Inaceitável!

Desci a escada e me sentei junto à mesa, que estava vazia. Nela sequer uma migalha de pão havia. Fiquei olhando durante alguns minutos para o desenho da toalha e percebi que nada havia nela também. Pelo menos, nada que pudesse ser admirado, com exceção aos respingos de café e às manchas de qualquer coisa que nunca mais sairão dela.

Bom, sso também não vem ao caso.

- Olha só! Outro carro alegórico!

Um carro passou nesse exato instante cantarolando uma musiqueta mais ou menos assim:

- Desse todo mundo gosta! Nesse todo mundo aposta! Vote 34451, Tomaz da Rola Bosta!

Desencanei.

Desencanei de fumar meu cigarro. Desencanei de fazer um café. Desencanei de ir ao banheiro e dar aquela cagada gostosa que só rola de manhã bem cedo. Desencanei de tudo o que me soava importante naquele momento.

- Tomaz da Rola Bosta? Pela puta que me pariu! Isso só pode ser sacanagem, fodinha explícita, tão querendo me tirar de otário!

Voltei pra cama. Meu dia não poderia ter começado assim. Talvez se eu voltasse a dormir, mesmo que por vinte minutos, ao acordar, me depararia com um dia totalmente novo e sem nada do gênero para me atrapalhar.

- Tudo bem com você amor? Olhei pro lado e não te vi, saiu pra comprar cigarro?

- Não.

- Tomou café?

- Não.

- Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu.

- O que foi que houve?

- Acabou o filtro. Não deu pra fazer o café.