quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Um Abraço & Um Nó

não há qualquer sentido
em subtrações
quando o cálculo, no caso,
diz respeito a dois corações;

um pega,
uma cama,
sexo & chamas.

quatro braços
quatro pernas
um abraço e um nó; nós.

duas bocas,
um só desejo:
mais de um milhão de beijos.

soma, 
multiplica;
amor é mais.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Crônica da Comanda da Morte

Hoje senti um desejo terrível de cometer algo um tanto inimaginável. Homicídio, culposo, com intenção total de matar. A vontade era tanta, e as opções, tão diversificadas, que não seria surpresa – nem para mim mesmo – realizar, de fato, tal façanha.

Quis triturar seus órgãos; fatiá-los em pedaços com a ajuda de um cutelo. Quis arrancar seu cérebro, quis arrancá-lo e servi-lo à moda do chef. Filho da puta! Como eu quis acabar com a sua vida! Vontade de marcar com fogo toda essa sua insignificância, essa arrogância escrota, esse ar de superioridade que inferniza a minha rotina.

Hoje poderia ser preso, ser levado para o xadrez, pouco importaria! Cagando e andando para tudo isso, aceitaria as algemas sem dar sequer um pio. Baixaria a cabeça e olharia fixamente para os meus pés e minhas mãos, tingidas de vermelho-crime.

Hoje um fuzil teria caído bem; um lança-chamas, um canivete, uma pistola de sabão, qualquer porcaria dessas teria sido utilizada em prol de sua extinção. O mataria aos poucos; o mataria tortuosa e lentamente; com golpes curtos, tiros em locais específicos, cortes providenciais. Quanto mais sangue, melhor.

Não haveria ouvido capaz de ouvi-lo gritar. Na verdade, mesmo que houvesse, não sobraria corda vocal pra exercitar seu poder de canto de sobrevivência. Sua competência sonora seria inviável, afinal, estaria – nesse momento – procurando sua língua, pelos cantos de seu abatedouro-salão-qualquer-lugar-da-casa.

No final das contas, um infarto seria mais que uma bênção; um sonho de consumo. Sorte a sua que me contentaria com simples três tapas na cara. Uma finalização-farra, depois de alguns chutes no saco e um esculacho verbal-psicológico daqueles, dignos de gravar com celular para publicar no youtube.  

Que fique claro - GARÇOM INACREDITÁVEL - pense melhor da próxima vez, quando vier me pedir um couvert de pães e patês, às dez para as duas. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Lapso

I

Fazem falta, as crônicas que vinham repentinamente à cabeça; lapsos pensantes despretensiosos. Assim como a fumaça dos cigarros intermináveis e inspiradores. Creio que todo escritor é refém de algo que determine, de alguma maneira, o quê e o quando de suas criações. É como tentar escrever com uma caneta sem tinta.  Está ali, mas não está. Foge aos sentidos, esconde-se por detrás de algo que não sei ao certo como explicar.

II

Meus pés. Não senti meus pés. Em devaneio, voei por aí e tornei a voar, para lá, por aqui e acolá. É bonita essa coisa de sonhar com asas invisíveis (não que seja necessário tornar-se pássaro para alçar voo).  A noite de luar, o brilho das estrelas, a cidade cintilante, o sorriso da menina linda em pleno sono, o balanço das ondas, o amor... ah, o amor.

III

Saudades também (além dos vícios supracitados) do pequeno caderno de micro-sonhos. Saudades da capa dura e do elástico; saudades dos rabiscos aleatórios, das colagens, dos momentos de reflexão e desabafos; saudades das paixões e das constatações sem qualquer intuito de seriedade. Saudades dos sorrisos preciosos; das devoluções; saudades;

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Crime, Castigo, Paz & Recompensa

Ele não leu o Dostoiévski que ela comprou. Pior! Nem ao menos imaginou que aquele pacote lacrado em cima de seu criado mudo poderia ser um Dostoiévski! Porra! Um Dostoiévski! O Dostoiévski que ela comprou no dia do seu aniversário! Ela lembrou a data, saiu, arrematou um baita livro e ele não deu a mínima...

Ela:

Puta que pariu, sabe!? Vai pra casa do caralho! Você não leu o Dostoiévski! Você não leu a porra do Dostoiévski que eu te comprei e ainda quer que eu leve a sério esse relacionamento?

Ele:

Amor! Desculpa! Eu não li o Dostoievsky! É que, quando eu vi aquele Graciliano Ramos por míseros dois reais, eu soube na hora... era a glória, era um ato obrigatório! Amor! Um Graciliano Ramos por dois reais! Eu sou um predestinado, isso é inacreditavelmente inacreditável, absurdo, fantástico!

Ela:

Pau no cu do gato! Eu não quero saber se você tá encantado! Você não leu o Dostoievsky que eu te comprei em troca desse livrinho barato! Infeliz! Bastardo! Bastava ter aberto o pacote!? Não era O Capote (Gogol) mas era um agrado! Não! Você tinha que causar esse estardalhaço! Palhaço! Vontade de cuspir na sua cara! Cretino! Mal agradecido do caralho! Pega esse Graciliano e enfia no rabo!

Terminaram a noite se amando loucamente em baixo dos lençóis. Ele foi pego de surpresa. Inesperadamente, ficou sem reação, por se tratar de uma abordagem no mínimo áspera, dentro de um relacionamento até então estável. Antes de tirar a roupa, ela o fez ler o prefácio. Algumas poucas palavras, antes de um verdadeiro mergulho existencial em suas intimidades, agora, um tanto menos agitadas. Enfim, um feliz aniversário.