Hoje senti um desejo terrível de
cometer algo um tanto inimaginável. Homicídio, culposo, com intenção total de
matar. A vontade era tanta, e as opções, tão diversificadas, que não seria surpresa
– nem para mim mesmo – realizar, de fato, tal façanha.
Quis triturar seus órgãos;
fatiá-los em pedaços com a ajuda de um cutelo. Quis arrancar seu cérebro, quis
arrancá-lo e servi-lo à moda do chef. Filho da puta! Como eu quis acabar com a sua
vida! Vontade de marcar com fogo toda essa sua insignificância, essa arrogância
escrota, esse ar de superioridade que inferniza a minha rotina.
Hoje poderia ser preso, ser
levado para o xadrez, pouco importaria! Cagando e andando para tudo isso, aceitaria
as algemas sem dar sequer um pio. Baixaria a cabeça e olharia fixamente para os
meus pés e minhas mãos, tingidas de vermelho-crime.
Hoje um fuzil teria caído bem; um
lança-chamas, um canivete, uma pistola de sabão, qualquer porcaria dessas teria
sido utilizada em prol de sua extinção. O mataria aos poucos; o mataria
tortuosa e lentamente; com golpes curtos, tiros em locais específicos, cortes
providenciais. Quanto mais sangue, melhor.
Não haveria ouvido capaz de
ouvi-lo gritar. Na verdade, mesmo que houvesse, não sobraria corda vocal pra exercitar
seu poder de canto de sobrevivência. Sua competência sonora seria inviável,
afinal, estaria – nesse momento – procurando sua língua, pelos cantos de seu
abatedouro-salão-qualquer-lugar-da-casa.
No final das contas, um infarto seria
mais que uma bênção; um sonho de consumo. Sorte a sua que me contentaria com
simples três tapas na cara. Uma finalização-farra, depois de alguns chutes no
saco e um esculacho verbal-psicológico daqueles, dignos de gravar com celular
para publicar no youtube.
Que fique claro - GARÇOM INACREDITÁVEL - pense melhor da próxima vez, quando vier me pedir um couvert de
pães e patês, às dez para as duas.