sábado, 27 de julho de 2013

Rosa dos Ventos

Que barato, pensar na vida que tive, ao longo desses vinte e seis anos. Uma caminhada intensa desde o começo, uma jornada por arredores diversos, vida cigana, hora ali, hora aqui. Algo que talvez justifique minhas tatuagens. Rosa dos ventos, sou um passageiro e amo sentir aquele frio na barriga que precede qualquer embarque.

Desde cedo assim, mutante, aprendi que o coração deve ser ainda maior que a mochila pendurada nas costas, para fazer caber tudo aquilo que se recebe durante a viagem. E que viagem! Anos e mais anos de incertezas absolutas. Minha vida é um mapa, aberto para toda e qualquer nova possibilidade.

Lembro dos amigos de infância, que não tive. Lembro das raízes, jamais fincadas em terras pelas quais passei. Lembro de tudo que poderia ter sido caso o acaso não fosse tão presente desde os primórdios. Engraçado levar isso em consideração.

Quem eu seria? Se não tivesse deixado a cidade pequeno. Se não tivesse ido ainda menino morar no meio do mato. Quem eu seria? Se não tivesse trocado o pacato pelas ondas de uma praia qualquer. Ou tais ondas por pedras mudas num centro histórico de uma cidade absurda? Quem então, agora eu seria? Se tal rotina não tivesse me levado para os braços de Iemanjá, para as ruas do pelô. Quem seria esse menino lobo que vos fala?

De certo, apenas a ideia de que é isso. É isso que sou. Essa é a minha essência fundamental, é o básico de mim mesmo. Minha identidade, viajante de um corpo que abriga tanta e tanta vontade, de ser sempre mais e mais e além. Praticamente um alien ou coisa do tipo.

Essas palavras resumem o que sou. E talvez mostrem para o mundo a sua melhor faceta, mãe; mulher maravilha, pai e mãe, heroína, desde o meu primeiro dia até o último ponto de qualquer reticência que vier pela vida...

E aí ela diz, que viagem.

E eu respondo, sim, e que viagem!

Minha mãe não precisa de palavrinhas de amor, nunca pediu por isso. A relação, percebam, é das mais malucas, não existe submissão, nem questão hierárquica. Às vezes filho, às vezes irmão. Às vezes pai, às vezes amigo azedo, amigo doce, mas amigo sempre. Mãe é para a vida toda e eu me acostumei com essa ideia logo após o parto.

Minha mãe diz que nasci sorrindo. Também pudera, primeira coisa que vi na vida foram seus olhos olhando para os meus.

Viagem? (...)

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Papéis em Branco

Haverá um dia em nossas vidas, um dia em que olharemos para trás. Um dia que ficará marcado por ser o dia em que abrimos nossas gavetas e reviramos nosso passado. Nesse dia, teremos mais certezas do que dúvidas. Nesse dia, saberemos o que fomos, mais do que sabemos o que somos. Nesse dia, escorrerão lágrimas e a saudade será grande. Talvez não.

O presente, onde nos encontramos, por mais abstrato e confuso que pareça, guarda em si alguns pontos impressionantes. É dele, e somente dele, o poder de preencher os papéis em branco.

Papéis em branco. Papéis preenchidos. Algumas gavetas.

Essa é a vida. Esse é o resumo das nossas vidas. 

Papel e caneta nas mãos. Destinos incertos, amanhãs mais imprevisíveis que a meteorologia paratiense. Um pingo de inspiração num poço de desejos, eis o que parecemos ser. Rascunhos, esboços, rabiscos. Esse é o risco que corremos somente por estarmos vivos. Caminhar junto às horas do dia a dia, junto às possibilidades de um livro prestes a começar. 

sábado, 20 de julho de 2013

Coração de Papel

Eu apenas observo, acho bonito tudo àquilo que desconheço. Ela se diz escura, complexa. Respeito, sei do risco, sei das dificuldades. Apenas finjo não existir qualquer impossibilidade e desejo compreender, por mais estranho que pareça, os bons motivos que talvez existam para que não sorria com frequência.

Adoraria vê-la sorrir mais. Assim como fazê-la sorrir sempre que possível. É nisso que eu acredito, e disso ela já sabe. Meu coração de papel cresce, cresce e só aumenta, ao passo que a desvendo, um pouquinho mais, dia após dia.

Gosto da expectativa, do imprevisível. Do silêncio que permeia nosso diálogo, da simples sensação de presença boa. Desde o bater na janela, ao passeio à la Nietzche pela madrugada. 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ciclo da Vida

A gente nasce, e a partir disso, precisamos de total atenção. E como não somos capazes de saber nem por quê choramos, dispomos de pessoas que, de prontidão, assumem tal responsabilidade e passam a atender todas as nossas necessidades. É o caso das mães, dos pais, dos tios, dos avós e demais agregados.

E a gente cresce substancialmente, ano após ano, e nos tornamos crianças lindas, e brincamos, corremos soltos, sentimos o frescor da melhor época da vida em brisas leves que bagunçam nossos cabelos. Não há qualquer compromisso, somos o que queremos ser, somos heróis de capa vermelha e bonecas de pano amarrotadas.

E a gente segue ficando um pouquinho maior, dia após dia, e vamos gostando de coisas diferentes, passando a observar o mundo de um ângulo totalmente novo, aprendendo que existem caminhos para seguir, coisas importantes para fazer, e outras que simplesmente tendem a ser evitadas. Passamos a furar a orelha, pintar o rosto.

Quando nos damos conta, compramos os primeiros soutiens, as primeiras cuecas boxer, esparramamos amor pelas ruas, pelas redes sociais, vivemos a vida loucamente, com amigos loucos e ressacas memoráveis. Jogamos o tempo para o alto e apenas desejamos ser livres, eternamente jovens. Surgem as primeiras namoradas, os primeiros ficantes e é claro, as primeiras desilusões e dores de cabeça.

O tempo voa e logo tudo muda um pouco de figura. Nos formamos, procuramos os mais variados empregos, desejamos ter mais tempo. Caçamos um buraco qualquer na agenda para tentar ver os amigos e fazemos um esforço tremendo para nos reunirmos com a família nos fins de semana. Qualquer diversão parece um imenso quebra-cabeça. A saudade das brisas leves e dos cabelos bagunçados começam a rondar o cotidiano dos mais novos empreendedores da vida.

E sem que sejamos capazes de perceber, nos despedimos pouco a pouco daqueles que um dia foram fortes o suficiente para que um dia nos tornássemos menos frágeis. O ciclo da vida é uma coisa louca. Nos tornamos fortes o suficiente para cuidar daqueles que enfim, vão seguindo o ritmo dos fios de cabelos esbranquiçados, cada vez mais e mais frágeis.

Se a vida puder ser comparada ao teatro, e eu acredito que possa ser, de fato, vejam, que tudo não passa de uma progressiva inversão de papéis.

Reparem, os avós são os mesmos. Os avós são e sempre serão os mesmos. Os avós já nos recebem velhinhos, e durante os tantos anos que nos acompanham, mudam relativamente pouco. Alguns encolhem, outros perdem a elasticidade da pele, assim como a capacidade de enxergar ou ouvir. Muitos sequer se lembram das brisas leves e qualquer lapso de cabelo bagunçado.

Mas jamais perdem o brilho nos olhos. A magia. Entendam, a dica que eu deixo é simples, para todos nós que temos uma vida inteira pela frente: aproveitem seus avós, suas mães, seus pais, seus tios e demais agregados mais velhos.

Dedico esse texto à minha avó. A pessoa mais valiosa da minha vida, meu maior tesouro. É por ela que escrevo, é por ela que cozinho, é por ela que amo tudo ao meu redor. Meus amigos, se os tenho e os amo tanto, agradeçam a essa senhorinha linda. Dona Maria de Nazareth Dias Kresiak, vovó Naná, ou apenas vó, como a chamo desde que me conheço por gente.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Mensagens Para Leituras Matinais

É que eu me sinto muito bem, como se fosse uma válvula de escape. Não tenho meios para explicar de uma maneira simples e direta. Meus horários não coincidem, é tão difícil estabelecer um contato simultâneo, tão impossível, que a alternativa mais próxima e eficaz, por incrível que pareça, é essa.

Mensagens para leituras matinais. Chego do trabalho sempre no outro dia, entendam, não é complicado, saio de casa ao fim de cada tarde e retorno em plena madrugada. Por isso escrevo minhas mensagens de bem querer enquanto ela dorme. E enquanto eu me recupero e durmo feito criança, ela finalmente lê e brinca com as palavras.

Uma pitadinha de calor, para aquele que tempera a vida alheia, enquanto pensa numa solução um tanto quanto flambada para as noites de frio em baixo do velho edredom.

domingo, 14 de julho de 2013

Vida Louca, Vida

A vida é uma loucura completa. Um ininterrupto desenrolar de fatos, acasos, um circo voador, que voa e voa e finalmente pousa, ou repousa, no fechar dos olhos, no ponto final. Todo mundo sabe que a morte é uma certeza. O que ninguém imagina, ou se dá conta, é como ela pode ser simplesmente uma boa dose de alívio e conforto instantâneo, a ponto de se fazer desejada acima de qualquer outra coisa.

Conforto alucinante, tranquilidade na clareira do caos.

O ponteiro, ele rodou mais rápido no mesmo relógio de ontem.

O quê as horas guardam nos espaços do contratempo?

Vida, bonito saber aproveitar cada segundinho dela, cada instante, cada momento como se fosse único e o último. Nunca saberemos qual a distância que nos separa de um plano maior, qual o tempo que ainda teremos até tudo acabar. É tudo muito complexo, partindo desse ponto de vista. Melhor não ter ideia, melhor viver.

Levar a vida. Sorrir mais. Agradecer mais. Ser generoso, ter prazer em fazer alguém feliz. Não ser arrogante, não ser falso. Falar a verdade, olhar nos olhos, abraçar apertado. Dizer que ama quando ama, dizer que existe saudade. Estender as mãos, saber ouvir, mais do que falar. Falar, quando as palavras forem substancialmente pertinentes.

Uma única chance. É tudo o que temos. Uma única oportunidade, para aprendermos a ser bons, felizes, e grandes o suficiente para levarmos essa mesma vida de sempre até seus últimos capítulos.

O desejo é um tempo parado;

É quando se trocam as datas dos bichos e das flores.

É quando aumenta a rachadura da velha parede.

É quando se vira a folha, a folha da história.

É quando se pinta um fio branco na cabeleira preta.

É quando se endurece o rastro de sorriso no canto dos olhos.

Eu sei que a viagem é longa.

A voz vai e vem.

Você tá aí?

Você tá aí?

Ei, você está aí?

Que seja intensa, que seja louca, que seja uma porrada na cara. Que seja o que bem quiser, que seja. Vida louca vida, cazuzeando o decorrer do tempo, que passa, passa e nunca pára. Que dure o quanto tiver de durar, infinita que é. Somos apenas passageiros.  

O que fica é a saudade do que poderíamos ser.

Um gostinho amargo de quero mais, de quero muito mais.

Entretanto, haverá espaço para o teu sorriso em minhas lembranças. Sempre.

Uma longa pausa para os batimentos angustiados.

Enfim, um descanso para as cãibras e para a cabeça, por muito atordoada.

Vontade de caminhar para trás, voltar no tempo;

Nos vemos pelas esquinas, pelos copos quase vazios, pelas fumaças de cigarro. Nos vemos por aí. Não dá para esquecer, não dá para apagar. O caso é tentar perdurar algo perecível, um caminho de pedras, ou uma imensa aventura, essa é que é a vida meu irmão, uma loucura.

Vontade de abraçar o infinito.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Convite

Tudo começou com duas doses de uísque. Duas pedrinhas de gelo, uma em cada copo. Nossos olhos não se desgrudam e nossos lábios sabem fazer bom proveito dos repentinos intervalos entre um devaneio e outro.

Madrugada. Quando não se espera mais nada, ela surge sorrateira, com seu véu de escuridão sugestivo, como que quisesse fazer daqueles copos no balcão, apenas um pretexto para que um e outro se tornassem dois.

Ela olha fixamente para os meus dedos, enquanto trago impiedosamente meu último cigarro. Era de se esperar que me oferecesse outro, o que não acontece. Surpresa. Quer preservar a pouca saúde que em mim ainda resta.

Vento frio. Certo que faria frio. Desde muito cedo, o dia acenou com tal possibilidade. E incapaz de me resguardar, fui procurar me esquentar em seus braços, tão arrepiados quanto os meus. Dois desprevenidos, quando se juntam, se aquecem, porque é isso que os corpos pedem.

Uma dose a mais, em qualquer copo, de preferência descartável. Essa é a deixa para levantar e ir para outro lugar, buscar calor, fazer calor, torrar de amor até raiar o dia. Paraty tem dessas coisas. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Quero Gozar

Tarde de frio e chuva. Andando pela avenida principal, sinto que poderia apertar o passo. Mas não o faço. Prefiro servir de bucha, para as inúmeras gotas que escorrem por mim e inundam meu trânsito. Sigo pulando poças e sorrio, para os que procuram um lugar para se abrigar.

Estranho como tudo pode acontecer perfeitamente como se espera. Raios e trovões são substancialmente bem-vindos, meu peito está pronto para tudo. Até para essas sensações loucas que me invadem do nada, vontade absurda de mostrar os dentes, de gargalhar, de contar a piada mais sem graça da história para a pessoa que mais detesta piada no universo.

A felicidade não exige uma trepada com uma mulher maravilhosa. Isso é coisa para os galãs de calçada, que insistem no ideal foda-realização.

Eu quero gozar sim. Eu quero gozar e muito. Mas muito mais que simplesmente ejacular em vaginas alheias, hoje eu quero gozar a beleza da vida, o prazer de uma repentina alegria, um sorriso sincero no rosto encharcado, em uma tarde away da rotina.

Sem mais.