Tudo começou com duas doses de
uísque. Duas pedrinhas de gelo, uma em cada copo. Nossos olhos não se desgrudam
e nossos lábios sabem fazer bom proveito dos repentinos intervalos entre um
devaneio e outro.
Madrugada. Quando não se espera
mais nada, ela surge sorrateira, com seu véu de escuridão sugestivo, como que
quisesse fazer daqueles copos no balcão, apenas um pretexto para que um e outro
se tornassem dois.
Ela olha fixamente para os meus
dedos, enquanto trago impiedosamente meu último cigarro. Era de se esperar que
me oferecesse outro, o que não acontece. Surpresa. Quer preservar a pouca saúde
que em mim ainda resta.
Vento frio. Certo que faria frio.
Desde muito cedo, o dia acenou com tal possibilidade. E incapaz de me
resguardar, fui procurar me esquentar em seus braços, tão arrepiados quanto os
meus. Dois desprevenidos, quando se juntam, se aquecem, porque é isso que os
corpos pedem.
Uma dose a mais, em qualquer
copo, de preferência descartável. Essa é a deixa para levantar e ir para outro
lugar, buscar calor, fazer calor, torrar de amor até raiar o dia. Paraty tem
dessas coisas.