sexta-feira, 12 de julho de 2013

Convite

Tudo começou com duas doses de uísque. Duas pedrinhas de gelo, uma em cada copo. Nossos olhos não se desgrudam e nossos lábios sabem fazer bom proveito dos repentinos intervalos entre um devaneio e outro.

Madrugada. Quando não se espera mais nada, ela surge sorrateira, com seu véu de escuridão sugestivo, como que quisesse fazer daqueles copos no balcão, apenas um pretexto para que um e outro se tornassem dois.

Ela olha fixamente para os meus dedos, enquanto trago impiedosamente meu último cigarro. Era de se esperar que me oferecesse outro, o que não acontece. Surpresa. Quer preservar a pouca saúde que em mim ainda resta.

Vento frio. Certo que faria frio. Desde muito cedo, o dia acenou com tal possibilidade. E incapaz de me resguardar, fui procurar me esquentar em seus braços, tão arrepiados quanto os meus. Dois desprevenidos, quando se juntam, se aquecem, porque é isso que os corpos pedem.

Uma dose a mais, em qualquer copo, de preferência descartável. Essa é a deixa para levantar e ir para outro lugar, buscar calor, fazer calor, torrar de amor até raiar o dia. Paraty tem dessas coisas.