A gente nasce, e a partir disso,
precisamos de total atenção. E como não somos capazes de saber nem por quê
choramos, dispomos de pessoas que, de prontidão, assumem tal responsabilidade e
passam a atender todas as nossas necessidades. É o caso das mães, dos pais, dos
tios, dos avós e demais agregados.
E a gente cresce
substancialmente, ano após ano, e nos tornamos crianças lindas, e brincamos,
corremos soltos, sentimos o frescor da melhor época da vida em brisas leves que
bagunçam nossos cabelos. Não há qualquer compromisso, somos o que queremos ser,
somos heróis de capa vermelha e bonecas de pano amarrotadas.
E a gente segue ficando um
pouquinho maior, dia após dia, e vamos gostando de coisas diferentes, passando
a observar o mundo de um ângulo totalmente novo, aprendendo que existem
caminhos para seguir, coisas importantes para fazer, e outras que simplesmente
tendem a ser evitadas. Passamos a furar a orelha, pintar o rosto.
Quando nos damos conta, compramos
os primeiros soutiens, as primeiras cuecas boxer, esparramamos amor pelas ruas,
pelas redes sociais, vivemos a vida loucamente, com amigos loucos e ressacas
memoráveis. Jogamos o tempo para o alto e apenas desejamos ser livres,
eternamente jovens. Surgem as primeiras namoradas, os primeiros ficantes e é
claro, as primeiras desilusões e dores de cabeça.
O tempo voa e logo tudo muda um
pouco de figura. Nos formamos, procuramos os mais variados empregos, desejamos
ter mais tempo. Caçamos um buraco qualquer na agenda para tentar ver os amigos
e fazemos um esforço tremendo para nos reunirmos com a família nos fins de
semana. Qualquer diversão parece um imenso quebra-cabeça. A saudade das brisas
leves e dos cabelos bagunçados começam a rondar o cotidiano dos mais novos
empreendedores da vida.
E sem que sejamos capazes de
perceber, nos despedimos pouco a pouco daqueles que um dia foram fortes o
suficiente para que um dia nos tornássemos menos frágeis. O ciclo da vida é uma
coisa louca. Nos tornamos fortes o suficiente para cuidar daqueles que enfim,
vão seguindo o ritmo dos fios de cabelos esbranquiçados, cada vez mais e mais
frágeis.
Se a vida puder ser comparada ao
teatro, e eu acredito que possa ser, de fato, vejam, que tudo não passa de uma
progressiva inversão de papéis.
Reparem, os avós são os mesmos.
Os avós são e sempre serão os mesmos. Os avós já nos recebem velhinhos, e
durante os tantos anos que nos acompanham, mudam relativamente pouco. Alguns
encolhem, outros perdem a elasticidade da pele, assim como a capacidade de
enxergar ou ouvir. Muitos sequer se lembram das brisas leves e qualquer lapso de
cabelo bagunçado.
Mas jamais perdem o brilho nos
olhos. A magia. Entendam, a dica que eu deixo é simples, para todos nós que
temos uma vida inteira pela frente: aproveitem seus avós, suas mães, seus pais,
seus tios e demais agregados mais velhos.