quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ciclo da Vida

A gente nasce, e a partir disso, precisamos de total atenção. E como não somos capazes de saber nem por quê choramos, dispomos de pessoas que, de prontidão, assumem tal responsabilidade e passam a atender todas as nossas necessidades. É o caso das mães, dos pais, dos tios, dos avós e demais agregados.

E a gente cresce substancialmente, ano após ano, e nos tornamos crianças lindas, e brincamos, corremos soltos, sentimos o frescor da melhor época da vida em brisas leves que bagunçam nossos cabelos. Não há qualquer compromisso, somos o que queremos ser, somos heróis de capa vermelha e bonecas de pano amarrotadas.

E a gente segue ficando um pouquinho maior, dia após dia, e vamos gostando de coisas diferentes, passando a observar o mundo de um ângulo totalmente novo, aprendendo que existem caminhos para seguir, coisas importantes para fazer, e outras que simplesmente tendem a ser evitadas. Passamos a furar a orelha, pintar o rosto.

Quando nos damos conta, compramos os primeiros soutiens, as primeiras cuecas boxer, esparramamos amor pelas ruas, pelas redes sociais, vivemos a vida loucamente, com amigos loucos e ressacas memoráveis. Jogamos o tempo para o alto e apenas desejamos ser livres, eternamente jovens. Surgem as primeiras namoradas, os primeiros ficantes e é claro, as primeiras desilusões e dores de cabeça.

O tempo voa e logo tudo muda um pouco de figura. Nos formamos, procuramos os mais variados empregos, desejamos ter mais tempo. Caçamos um buraco qualquer na agenda para tentar ver os amigos e fazemos um esforço tremendo para nos reunirmos com a família nos fins de semana. Qualquer diversão parece um imenso quebra-cabeça. A saudade das brisas leves e dos cabelos bagunçados começam a rondar o cotidiano dos mais novos empreendedores da vida.

E sem que sejamos capazes de perceber, nos despedimos pouco a pouco daqueles que um dia foram fortes o suficiente para que um dia nos tornássemos menos frágeis. O ciclo da vida é uma coisa louca. Nos tornamos fortes o suficiente para cuidar daqueles que enfim, vão seguindo o ritmo dos fios de cabelos esbranquiçados, cada vez mais e mais frágeis.

Se a vida puder ser comparada ao teatro, e eu acredito que possa ser, de fato, vejam, que tudo não passa de uma progressiva inversão de papéis.

Reparem, os avós são os mesmos. Os avós são e sempre serão os mesmos. Os avós já nos recebem velhinhos, e durante os tantos anos que nos acompanham, mudam relativamente pouco. Alguns encolhem, outros perdem a elasticidade da pele, assim como a capacidade de enxergar ou ouvir. Muitos sequer se lembram das brisas leves e qualquer lapso de cabelo bagunçado.

Mas jamais perdem o brilho nos olhos. A magia. Entendam, a dica que eu deixo é simples, para todos nós que temos uma vida inteira pela frente: aproveitem seus avós, suas mães, seus pais, seus tios e demais agregados mais velhos.

Dedico esse texto à minha avó. A pessoa mais valiosa da minha vida, meu maior tesouro. É por ela que escrevo, é por ela que cozinho, é por ela que amo tudo ao meu redor. Meus amigos, se os tenho e os amo tanto, agradeçam a essa senhorinha linda. Dona Maria de Nazareth Dias Kresiak, vovó Naná, ou apenas vó, como a chamo desde que me conheço por gente.