quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Muito Mais

Primeiro foi o meu amor. Alegando motivos inadiáveis e inaudíveis ao primeiro contato com meus ouvidos. Juntou suas coisas, deu-me um beijo demorado, um abraço apertado, desceu as escadas com pressa e bateu a porta com uma firmeza invejável.

Na seqüência, partiram juntos o brilho nos olhos e a alegria de viver. Foram embora sem mais nem menos. Deixaram-me à mercê. Tudo bem, não tenho capacidade de manter ninguém ao meu lado. Aprendi cedo a ser sozinho no mundo. Pobre diabo...

Pensei não poder perder nada mais. Ledo engano, ingenuidade, perdi minha identidade, meu senso, meu físico, minha verdade. Percebi não estar diante de mim defronte ao espelho. Quem é você? Perguntei-me diversas e diversas vezes.

Digo perguntei-me. Pois já não pergunto-me mais.

Agora quem se vai é o cigarro. Vício antigo, prazer diário. Objeto tragável, fez-me refém por anos e, por mais que quisesse permanecer, desta vez, fora minha a iniciativa de abandoná-lo. Tchau amigo. Vá queimar em outras bocas. Vá rolar em outros bueiros. Vá feder em outros dedos...   

Estou diante de uma nova oportunidade. Não sou cobra, talvez por isso tenha adquirido um novo par de asas. Voar, voar. O céu é o limite. Longe daqui, longe de tudo. Vícios agora fazem parte de um passado não muito distante. É o tal do desapego.

Não vou mais lamentar. Não há razões pertinentes para isso. Vou comemorar, estou vivo, estou pronto. Preparado para tudo, temendo nada. Quero um gole a mais de vida, um trago de felicidade, algumas piteiras no cinzeiro, eu quero amar de verdade, não procuro adversidade, eu quero mais, eu quero muito mais.

sábado, 27 de outubro de 2012

A Rainha do Deserto

Sem mais delongas, ela chega e me abraça. Nada consegue superar o calor de seu corpo, de seus braços entrelaçados a mim. Melhor cartão de visita não existe. Não digo nada, ninguém diz nada. O silêncio diz tudo o que há para ser dito entre nós. Um momento de troca, um momento de paz e de repente, nada mais importa.

Ela repara em cada simples alteração feita em meu quarto, nos quadros a menos nas paredes, nos penduricalhos novos espalhados por pregos recém batidos, nas roupas jogadas para todos os lados, nos montes de bitucas de cigarro e garrafas alcoólicas perdidas pelo chão. A cara é outra, mas o lugar é o mesmo de sempre, e isso soa perfeitamente suficiente para fazê-la permanecer.

A estadia é rápida, ela não veio para ficar. De passagem pela minha vida, deixa saudade a cada minuto que passa e aproxima sua partida. Não me contenho, quando menos percebo, estou acariciando seus longos e negros fios de cabelo.

Minhas mãos percorrem seu corpo e arrepiam sua pele. Sem nenhum compromisso, nos entregamos ao calor da noite e esquecemos os ponteiros. Esquecemos absolutamente tudo. Incrível como nada parece ser relevante diante de sua presença. Prosseguimos em sintonia, enquanto o tempo se encarrega de pintar de branco o escuro do céu.

Olhos nos olhos, palavras voam pelos ares de uma manhã indescritivelmente recompensadora. Agradeço por tudo. Finjo não estar ciente da sua iminente debandada, sorrio por um breve período, disfarçando a tristeza que me consome.

Ela é maravilhosamente linda. E sua beleza é capaz de me fazer perder a noção por completo. Ela é maravilhosamente cheia de vida, e por mais que nem se dê conta, consegue me invadir e me fazer feliz por alguns instantes. Ela é a rainha do deserto dos meus sonhos, deserto onde desperto a cada vez que fecho os olhos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012