sábado, 27 de outubro de 2012

A Rainha do Deserto

Sem mais delongas, ela chega e me abraça. Nada consegue superar o calor de seu corpo, de seus braços entrelaçados a mim. Melhor cartão de visita não existe. Não digo nada, ninguém diz nada. O silêncio diz tudo o que há para ser dito entre nós. Um momento de troca, um momento de paz e de repente, nada mais importa.

Ela repara em cada simples alteração feita em meu quarto, nos quadros a menos nas paredes, nos penduricalhos novos espalhados por pregos recém batidos, nas roupas jogadas para todos os lados, nos montes de bitucas de cigarro e garrafas alcoólicas perdidas pelo chão. A cara é outra, mas o lugar é o mesmo de sempre, e isso soa perfeitamente suficiente para fazê-la permanecer.

A estadia é rápida, ela não veio para ficar. De passagem pela minha vida, deixa saudade a cada minuto que passa e aproxima sua partida. Não me contenho, quando menos percebo, estou acariciando seus longos e negros fios de cabelo.

Minhas mãos percorrem seu corpo e arrepiam sua pele. Sem nenhum compromisso, nos entregamos ao calor da noite e esquecemos os ponteiros. Esquecemos absolutamente tudo. Incrível como nada parece ser relevante diante de sua presença. Prosseguimos em sintonia, enquanto o tempo se encarrega de pintar de branco o escuro do céu.

Olhos nos olhos, palavras voam pelos ares de uma manhã indescritivelmente recompensadora. Agradeço por tudo. Finjo não estar ciente da sua iminente debandada, sorrio por um breve período, disfarçando a tristeza que me consome.

Ela é maravilhosamente linda. E sua beleza é capaz de me fazer perder a noção por completo. Ela é maravilhosamente cheia de vida, e por mais que nem se dê conta, consegue me invadir e me fazer feliz por alguns instantes. Ela é a rainha do deserto dos meus sonhos, deserto onde desperto a cada vez que fecho os olhos.