domingo, 31 de outubro de 2010

Cliente Mais

Cliente Mais


Incrível como a gente pode viver cercado de gente por todos os lados e ainda assim, sentir-se solitário.

Nunca parei para pensar nisso. Não de forma profunda. Talvez por isso tenha me surpreendido tanto nessa última semana. Não havia pensado na solidão entre aspas tantas vezes em apenas sete dias.

Minha namorada sai cedo, pra faculdade, junto comigo, volta pra casa e vai direto pro trabalho. Tudo bem, trabalho é bom. Ruim é ver todas as outras pessoas que dividem o teto também irem trabalhar e você ali, sentado na mesa, tomando o café com a colherzinha, pra ver se o tempo corre mais rápido.

Eu nunca pensei que fosse sentir tanta falta do meu antigo emprego como tenho sentido ultimamente.

E só fui capaz de perceber isso quando me peguei desabafando com a caixa do supermercado, depois de passar uma hora andando de um lado pro outro, olhando estante por estante, fileira por fileira, comparando preços e tudo mais, pra no final das contas, voltar pra casa com um pacote de arroz, dois sabonetes e uma coca-cola.

- Boa noite!
- Boa noite!
- Cliente Mais?
- Não, não...
- Nota Fiscal Paulista?
- Também não.

Acho que estava escrito na minha cara. As pessoas quando se sentem infelizes e carentes de um certo diálogo, fazem sempre a mesma cara. Cara de cão sem dono. Mas eu tenho dona, ela só não estava presente naquele momento. Cara de bunda. Cara de “alguém me ajuda” ou cara de merda - pra não dizer outra coisa - também vêm bem a calhar nessas horas.

- Faz tempo que você trabalha aqui?
- Seis anos.
- Engraçado, nunca te vi.
- Acontece. É tanta gente passando compra, com pressa, fica difícil lembrar.
- Pois é. E é bom trabalhar aqui?
- Melhor do que ficar desempregada.
- Eu estou desempregado. Na verdade, faz um mês que eu estou desempregado. Será que depois de um mês sem trabalhar eu já posso me considerar vagabundo?
- Se fosse lá em casa sim. Mas você não tem cara de quem precise muito.
- É né, acho que todo mundo deve pensar assim. Deve ser por isso que ninguém me contrata. Talvez seja o caso de mudar o visual e ir pedir emprego bem maltrapilho, não?
- Maltrapilho atrás de grana é mendigo.
- Mas eu não sou um mendigo. Você simplesmente disse que eu sou boa pinta e que por isso talvez não precise de dinheiro.
- Toma! Leva pra casa, preenche e traz para mim da próxima vez que você vir aqui. Assim você ganha um descontinho nas tuas compras e me conta se conseguiu ou não arranjar um emprego.

O cartão de benefícios do supermercado me garantia, na pior das hipóteses, um retorno ao caixa daquela mulher. Desconto nas compras, para um desempregado, na maioria das vezes soa melhor que uma gozada.

Voltei pra casa, preenchi o formulário e me lembrei da mocinha estranhamente simpática que me acolheu em seu caixa, num fim de noite escroto de um sábado qualquer.