quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Minha Casa

Numa dessas tantas ruas perdidas pelo emaranhado da cidade, existe uma casa. Uma casa construída muito antes de eu pensar em nascer. Uma casa em meio à verticalidade dos prédios e construções cada vez mais altas. Mas isso não vem ao caso, vou ater-me à velha casa e suas janelas rústicas e suas portas rústicas e sua rusticidade inteiriça.  

Essa é uma casa de chão sujo, porcelana italiana gasta e imunda. Onde piso, onde caminho, onde trafego em perfeita harmonia. Uma casa de chão sujo e paredes sujas. Descascadas pelo tempo, pedaços de tinta que teimam não permanecer junto à estrutura. Uma casa de chão sujo, paredes com camadas de tinta pendurada e goteiras no velho telhado de telhas quebradas, por onde o sol raspa e adentra os mais variados aposentos.

Aqui não me sinto sozinho. Esse é um lugar ao qual posso chamar de lar. Como se cada centímetro desse imenso quadrado me completasse de maneira singular. Como se a sacada do quarto fosse uma espécie de trampolim para a eternidade. O que não escapa de ser, de fato. Basta debruçar-me em seu parapeito para avistar a imensidão cósmica de uma noite maravilhosamente estrelada.

Milhares de histórias, de um bocado de gente diferente, ligadas apenas pela sua presença. Aqui, aprendi a ser homem. Aqui aprendi a amar. Fora aqui que aprendi a esquecer e a perdoar. Nessa boa e velha casa, aprendi a cozinhar, a escrever e a suspeitar, de coisas que pudessem não ser tão incríveis do lado de fora, como eram em seu interior.

Aqui vivi boa parte da minha vida. E daqui levarei lembranças para todo o resto dela. Percebo o olho brilhar e se banhar de lágrimas a cada trecho deste texto. E sinto que estejam longe de ser lágrimas vãs. Sei que mais uma etapa está se encerrando, e que meu tempo aqui será cada vez mais curto. Bom saber que anos e mais anos de convivência criaram um respeito mútuo e uma boa quantidade de lembranças inesquecíveis. Textos infindáveis, fotografias diversas, muita coisa pra contar.

Grato por tudo, inverto o jogo e faço dessa pequena folha de papel, seu trampolim, para uma eternidade gloriosa, descrita por alguém que amou, acertou e errou diversas vezes sob seu olhar de alvenaria. Quem diria, minha casinha, quem diria.