quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Raios Ultravioleta

Uma bela manhã, raios de sol cortam o vento e ardem em minha pele branca. Caminho pela areia, ninguém ao meu redor. Molho meus pés na espuma das ondas, o frio da água é um verdadeiro alento para o calor infernal.

Plena quarta-feira, e eu aqui refletindo profundamente. Praia, esse é o nome que demos para tal conjunto de fatores. Água, areia e sal. Água, areia e sol. Demonstração gratuita de grandeza, exibição impecável de uma natureza que busca a cada dia um pingo, para não dizer uma gota, de sobrevida.  

Respeito sua existência, faço um minuto de silêncio. Sinto um imenso pesar, queria que tal local permanecesse deserto. Pelo conjunto de pegadas, percebo não poder levar tal devaneio à diante. Muitas pessoas gostam de se refrescar à beira mar. E se aqui agora estou, não posso simplesmente proibir que outros também estejam.

Mas não há ninguém. Estou só. E isso é muito interessante, de uma maneira bastante peculiar. Atrás de mim, toneladas e toneladas de concreto. Arranha-céus mal localizados, repletos de gente e mais gente e mais concreto. Olho novamente para todos os lados, duas pessoas há alguns bons metros de distância, apenas.

Descuidado, estou sem protetor solar. Minuto a minuto percebo a alvura de minha tez dar lugar a um rosa cada vez menos tímido. Paulistano vai à praia para sofrer as conseqüências. Isso provavelmente irá me incomodar e muito, mas não dou tanta importância, prossigo junto às minha ideias, não me movo um centímetro sequer.

Sou pequeno, diante de tanto conteúdo. O mundo é grande e eu não sei se dou conta. Fico pensando no porquê de estar aqui. Como cheguei, de que maneira vim parar justamente nesse pedacinho de chão. Deve haver um bom motivo. Talvez, por força do destino, estava escrito em algum lugar, que na manhã dessa quarta, não poderia estar em qualquer outro. É aqui e agora. E provavelmente não haveria de estar fazendo outra coisa. Eu, meu caderno e minha caneta, escrevendo uma porção de abstrações desconexas. Ou quem sabe, muito bem conectadas.

Não trouxe meu celular. E por falar em conexões, creio que não existam ondas de sinais wi-fi nesse pouquinho de chão.  Nem preciso. Faço questão de não ser encontrado. Às vezes o ser humano carece de tais situações. A solidão não deve ser encarada como um momento de tristeza ou raciocínios vãos. A solidão e o silêncio são de imensa serventia, quando se quer chegar a algum lugar, mesmo que dentro de si próprio.

Minhas conclusões são várias. Penso em diversas outras possibilidades. Me energizo com o passar do tempo e agora de pé, trilho o caminho de volta. Hora de retornar ao mundo real, ao qual me acostumei. Hora de arder à beira do asfalto, hora de dizer adeus ao contraste radiante de água, areia e sal. Hora de partir. São dez horas e ainda não comi.

A única vantagem de toda esta concretude, nesse momento, é a padaria de esquina e seus pãezinhos na chapa. Nada melhor que um pão na chapa e um cafezinho. Bom dia.