quinta-feira, 18 de abril de 2013

Uma Mulher Que Escute The Cure

Acho que do ponto de vista masculino, o que está prestes a ser escrito pode parecer um tanto estranho. Coisa de mocinha, alguns pensarão. Melhor que pensem, nossa sociedade está abarrotada de pessoas incapazes de admitir qualquer lapso de sensibilidade.

Robert Smith é um cara safo, desde sempre escreve letras inacreditavelmente originais e fora dos padrões de qualquer mainstream. Eu as escuto desde que me conheço por gente. Letra por letra, acorde por acorde. Suas melodias são para mim algo muito próximo a uma benzetacil, um remédio, um quê de conforto, cura ou Cure, como o nome já diz.

Uma mulher que escute Close To Me, Lovesong, In Between Days. Uma mulher que saiba distinguir Pornography e Disintegration. Não sei o que faria com uma mulher dessas. Fico imaginando aquelas coisas de casal, fim de noite, um som pra rolar e ela com o Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me nas mãos, louca para ouvir Just Like Heaven e sorrir em sequência.

Nunca a encontrei. Talvez nunca a encontre. A vida seria perfeita demais, e não sei se haveria espaço para dois aficionados numa mesma casa, num mesmo quarto. Melhor não. Alguém poderia se machucar.

Os gatos voariam pela janela. Os pratos estatelariam-se pelo  chão. A tampa do vaso amanheceria encharcada. A cama viraria cabide de toalhas molhadas e todos os apetrechos de maquiagem surgiriam sobre a pia do banheiro. Imagine a quantidade de calcinhas penduradas no box. Não, definitivamente não.

Talvez seja esta uma coisa para eu aprender. Expectativas musicais são demais. Já basta tudo aquilo que esperamos a respeito do próximo. Entretanto, sou daqueles que se contentam em saber que a mulher conhece algum álbum dos Smiths.

Caráter? Idoneidade? Ficha limpa? Não me importa! É carinhosa? Vai cuidar de mim? Ela só precisa saber que Heaven Or Las Vegas é o melhor disco do Cocteau Twins.

Hum, melhor deixar pra lá...