Não sei dizer ao certo o que está havendo comigo. Sinto querer voltar
no tempo. Para um lapso de memória distante, onde meus problemas eram tão
insignificantes quanto minha própria existência.
Procuro explicações em filtros esbranquiçados. Dezenas de cigarros
alucinados. Adoraria saber rebobinar calendários. Estender horários, parar o
relógio nos momentos mais propícios, sem me preocupar com os segundos
subseqüentes.
Nostalgia. Dos tempos de amor louco e desmedido. Alegria estampada no
rosto, alma pura, banhos de chuva e um baseado para relaxar. Nada poderia ser
mais interessante que um fim de tarde à beira mar, ou uma roda de amigos sem
maiores pretensões.
A idade traz consigo o peso da mudança. Aquilo que fui ontem já não
corresponde ao que sou agora. Amanhã é amanhã e não sou capaz de traçar
previsões.
Não tenho medo do futuro, nem de suas incríveis peripécias. A vida
vive me pregando peças, e à essa altura, estou mais que calejado. Porém, minhas
costas parecem não suportar mais as toneladas de bagagem acumuladas.
Preciso saber que diabos está acontecendo comigo. Sinto querer demais.
Quero tanto e tantas coisas, que acabo não chegando a lugar algum. Ando, ando e
não caminho um centímetro sequer.
Talvez querer demais seja o preço a se pagar. E eu pago, em absurdas e
inúmeras prestações. Querer e não obter. Correr atrás de algo que se julga
necessário e não conquistar mais do que simples fragmentos.
Fecho os meus olhos, deito no canto da cama. Espero pelo dia
amanhecer, outra chance de ser um pouco melhor. Outra chance de pisotear os
argumentos supracitados. Outra chance de alcançar o inalcançável.