domingo, 23 de setembro de 2012

O Som do Silêncio

Percebo o cair da noite enquanto fumo meu cigarro, mais um dia que se encerra, outro findar de luz que me apavora e me despe por completo. Estou nu. Distante de conceitos alheios e de meus ideais tolos e absurdamente utópicos.

A chuva veio para lavar as ruas, as telhas da antiga casa, veio para lavar minha alma. Doce ilusão. A chuva deu o ar da graça e logo se pôs a seguir seu caminho, deixando um frio intenso e inesperado.

Observo a cidade dormir, enquanto a temperatura baixa e congela lentamente meu corpo. Nunca a solidão pareceu tão perturbadora.  As janelas ao redor apagadas, nenhum sinal de vida caminhando pelas calçadas. Acredito estar, de fato, completamente sozinho.

Procuro um caminho de estrelas, que me levem para um lugar onde eu possa flutuar e me abster de tal sensação. A lua. Grito por ela, mas ela não me escuta. A distância é muita e, mesmo que eu quisesse, jamais poderia estabelecer qualquer tipo de contato.

Tem alguém aí? Alguém! Minhas pernas tremem, mal consigo mover os pés. Hipotermia não me apetece, estou totalmente submisso. Mas, ao que tudo indica, não existe calor que dê conta de tal compromisso. Derreter o gelo que me transforma em pedra neste exato momento.

Gelo em meus olhos. E olhos gelados não se movem. Não posso observar o raiar do dia que se aproxima. Minha boca se calou há algum tempo. Estou estático. Constatação tão óbvia quanto um tilintar de copos em dia de ano novo.

Na festa funerária à qual me aproximo, a ausência de ruídos atordoa e se faz extremamente ensurdecedora. Como um cadáver louco eu me movo em pensamento. Imóvel, porém capaz de dançar ao som do silêncio.