As luzes da cidade escondem um céu repleto de constelações. As luzes
da cidade escondem absolutamente tudo que se propõe a brilhar. Não existe
qualquer possibilidade de ser autêntico o bastante para ofuscar os olhos
alheios em um lugar como esse.
O que sobra são partículas de insanidade, vontade tremenda de fazer
fogueira, sem ter, de fato, fogo para atear. Há quem tenha, mas a cegueira
imposta pela claridade da megalópole procura fazer de tudo para impedir tal
ocorrência.
Repulsa, violência, medo. Não há esperança. Céu cinzento, noite e dia,
com algumas pequenas brechas de ilusão momentânea. Nada demais.
Olhos abertos. Luzes apagadas. Nenhum sinal de eletricidade. A
felicidade reside em situações incrivelmente inesperadas como essa. Queda de
energia, estrelas brilhando sobre a selva de pedras e metais retorcidos.
Quem me dera considerar sua ausência um evento maravilhoso.
Capitalista iluminado, mero pagador de contas em bancos quase falidos. A
cortina de reflexos retoma sua atividade habitual e, como numa espécie de
ritual, é possível observar quadradinho por quadradinho se acender, janelas de
prédios distantes da minha velha sacada.
Plena madrugada, nem assim. Queria você aqui, perto de mim. Estrela
visível e palpável, único corpo que, além de celeste, se veste de amor e se faz
possível de enxergar mesmo com os olhos fechados.