Poucos sabem o quanto eu penei, o quanto aguardei. Levei um bom tempo
esperando pelas flores, que timidamente e preguiçosamente, brotavam aos
poucos, esplêndidas como poesia, a cada raiar de dia.
Como numa espécie de dança, vi suas pétalas desabrocharem e seu brilho
radiante se misturar com a luz do sol. Luz que agora invade meu quarto pelas
frestas da janela, se aconchegando num fio intenso e arrebatador, fio que me
desperta, me esquenta e me introduz à uma nova manhã.
E num momento tão conturbado como esse, onde penso estar diante das
questões mais sem respostas da história, elas simplesmente se revelam, como
quem vem para salvar a minha vida e me trazer um pouco mais de alento.
Como o vento, que sopra o indesejável aroma das lamentações, a mais
bonita das estações chega para cobrir-me de amor e lembrar-me de que é preciso
persistir. Plantar tudo aquilo que se espera colher e aguardar, com a paciência
mais paciente possível. Nossos sonhos são frutos, conseqüências daquilo que
depositamos na terra.
Nossos sonhos são como a beleza das flores, que anunciam, para o meu
imenso deleite, mais uma primavera.
As flores voltaram.
As flores voltaram.
Bonitas...
Bonitas como sempre.