domingo, 2 de setembro de 2012

Trilogia de Amor

I - Descoberta

Quando dei por mim, estava sem chão. Como numa queda brusca de um prédio de intermináveis andares. Vôo livre,  rumo ao asfalto duro e sujo dessa cidade que me cerca e finge me acolher.

Senti a força do impacto quebrar todos os meus ossos, romper todos os meus ligamentos, desfazer todos os meus elos corporais e meu sangue, se espalhar pela calçada. Arte. Visto de cima, meu momento era incrivelmente expressionista, abstrato.

Estava morto, finalmente.

Quando dei por mim, um sorriso afastou os cantos dos meus lábios, mostrou meus dentes para o mundo e mudou completamente meu ponto de vista. Desta vez, estava no topo do arranha céu, desejando apenas sentir a brisa do vento. Desprendimento. Alegria.

Senti o arrepio se apossar de minha pele, um frio imenso na barriga, um misto comum, porém, inexplicável. Meus olhos, antes abertos, se fecharam. Não se enxerga o que se sente, a felicidade é invisível.

Estava vivo, como sempre.

Meu sangue correndo pelas veias, não pelas vias. Coração batendo acelerado. Braços abertos, mente escancarada, amor batendo à porta. Entre. Entre e não se acanhe, a casa é humilde mas tem espaço de sobra para suas intenções. Demonstrações ininterruptas de carinho e vontade de ser melhor do que ontem.

A delícia de estar vivo é viver sem desejar nada mais do que apenas isso. Descoberta, se dar conta de que nem tudo que termina, por si só e ao pé da letra, tende a acabar de fato comigo. Algumas coisas são fáceis de compreender.

O fim morrer e eu renascer.