quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Jantar a Dois

Não me considero nem de longe caloteiro. Meu histórico acena positivamente com a fama de bom pagador. Posso cometer certos deslizes, vez em quando. Questão de atraso, má fé jamais. Melhor atrasar do que deixar de pagar. Um bom economista, talvez, defenderia minha teoria. Talvez. Melhor pensar que sim.

Também não me considero nem de longe, desta vez, um bom atendedor de telefone. Basta ouvi-lo tocar para ignorar completamente sua presença, seu ruído ameaçador, e seja lá quem for do outro lado da linha. Mas que tamanha ingenuidade a minha.

Não pude escapar. Sozinho em casa, não havia outra alternativa senão ir de encontro aos meus preguiçosos princípios  e atender o dito cujo. Surpreendentemente, ouço uma voz agradável o suficiente para manter-me conectado por algum tempo. Sim. Outra ligação cobrando meus milhares de centavos atrasados.

Prometo a transferência, assim como o envio de seu comprovante. Nos dias de hoje, basta enviá-lo por e-mail e pronto, fim de papo, caloteiro deixa de ser caloteiro e passa a ser uma pessoa qualquer. Melhor ser um qualquer, nesse caso. Como disse anteriormente, não sou desses que negam uma dívida até que a mesma se torne lenda.

Prestes a desligar, porém, para a minha surpresa, me vejo numa situação completamente nova. Quem me cobrava até poucos minutos atrás, agora, me convida para um jantar. Um jantar a dois. Sob os meus cuidados e meus possíveis dotes culinários. Qualquer pessoa poderia simplesmente recusar, tomar o convite como mera brincadeira e possivelmente dizer até logo.

Eu não. Há algo dentro de mim incrivelmente capaz de fazer-me aceitar tais propostas. Não resisto, do outro lado existe alguém de uma criatividade imensa. Não espero por coisas do tipo, e acho que isso foi fator preponderante para dizer sim.

Na minha casa ou na sua? Óbvio que na minha. Um bom chef de cozinha conhece bem seus aparatos e melhor do que ninguém, os prazeres que um bom prato pode proporcionar. E se para um bom entendedor, meia palavra basta, para um mal pagador, finalmente, saí no lucro.