quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Futuros Amantes

Sono interrompido, de ímpeto, por uma imensa vontade de escrever. Sobre ela, sobre os lábios dela, sobre os olhos dela, sobre a pele e os cabelos dela, sobre suas pernas, sobre seu corpo, sobre a delícia de seus beijos, sobre seus abraços, sobre sua voz, sobre seus olhares misteriosamente penetrantes...

E nada, nada mais é como antes. E nada, nada mais faz sentido, exceto este deslize, esta falta de controle, este despertar literário mais que bem-vindo. Uma coisa é levantar em plena madrugada para falar de política, das dores do mundo, dos erros alheios, outra, completamente diferente e incrivelmente prazerosa é levantar, em meio à escuridão das três horas, para falar sobre ela.

Não temo represálias, não tenho papas na língua. Falo o que penso e quando penso em falar, já disse. Ela sabe o quanto cerceia meus pensamentos, sabe como se faz presente em meus sonhos, sabe como e quanto a degusto, em goles absolutamente curtos. Ela sabe que ressaca de amor não se cura com aspirina, ou melhor, ressaca de amor não se cura, e é assim, desde que o amor descobriu-se sentimento.

Meu cigarro é cúmplice, de cada bater de tecla, de cada nova ideia, e de todos os segundos gastos em frente à tela deste computador. Tarde da noite, luzes apagadas, vizinhos dormindo, cidade se preparando para dar início aos trabalhos costumeiros. E eu aqui, escrevendo. Será que disso ela sabe? Se não tiver certeza, há de pelo menos imaginar, pois boba eu sei que ela não é.

Não tenho facilidade para voltar a dormir. E daí? Não estou nem aí para isso. Posso simplesmente passar o resto do dia de pé, sabido que sonho com a sua pessoa ainda acordado. Olhos fechados e pronto, estou diante de tudo aquilo que preciso, sem mais. A beleza de um amor como este reside nas eternas possibilidades de uma imaginação fértil.

Lembranças boas. As melhores, das pouquíssimas noites às quais nos amamos sob as estrelas. Amanhã é outro dia, outro possível despertar, assim, de repente. Amanhã é hoje, posto que após meia-noite se calcula outro dia.

O que houver de ser, será. Será? Espero que sim. E também espero, presente do indicativo, ansiosamente, por um pouco mais. Futuros deslizes, futuras lembranças, futuras noites estreladas, para que o nada continue não sendo mais como antes, futuros sussurros, futuros suspiros, futuros amantes.