terça-feira, 1 de outubro de 2013

Como Cair de Bicicleta

Quando eu era apenas um menino, gostava de andar descalço e morria de medo de bicicletas. Sempre tive a convicção de que cairia na primeira tentativa. Estava certo, não caí, somente. Estatelei-me pelo chão de terra e guardei - para sempre na pele - a lembrança daquele feito incrivelmente frustrante.

Não me recordo da primeira vez em que finalmente consegui trilhar uma linha reta sem maiores acidentes. Sei apenas que tal persistência surtiu longo e permanente efeito. Hoje em dia, sempre que posso, sigo a caminhar descalço, mas não em falso, e ainda arrisco algumas pedaladas pelas ruas da cidade histórica, mesmo sabendo do perigo das pedras mal encaixadas.

Agora, a exatidão em relação às primeiras linhas escritas é parte de um passado distante. Não posso dizer quando foi que comecei a poetizar o dia a dia. Talvez por necessidade, afinal, minha timidez é intrínseca - como que só pudesse fazê-lo por outra via que não a oral - escrevi um bilhete para uma menina que jamais o respondeu. Experiência muito menos traumatizante que os tombos da velha magrela, enfim, plenamente compreensível e contornável.

Dali em diante, um restante de histórias e mais histórias pra contar. Um bom punhado de sentimentos descritos em versos e parágrafos intermináveis. Da menina linda dos olhos azuis à menina linda dos cabelos castanhos. Das tantas andanças e mudanças, imprescindíveis. Dos amores passados, aos amores presentes.

A vida é feita de encontros, desencontros e reencontros, disse-me certa vez, aquela que invade meus envelopes. Um longo percurso, inacreditavelmente surpreendente e repleto de tudo um pouco; provavelmente impossível para a capacidade motora de um menino em seu veículo de duas rodas, mas absolutamente factível para a eternidade de suas folhas em branco.