A noite o chama para um passeio.
Vestido com suas botas grossas e sua blusa de frio, ele caminha pelas ruas da
cidade, que descansa. Pouca luz, ausência de ruídos, o contexto remete à solidão de
um oásis em meio ao deserto. Apenas ouve o som dos próprios passos, enquanto
pisoteia cascalhos e folhas, junto às velhas calçadas de pedras brutas.
...
O maço de cigarros funciona como orientação
para futuras ações. Se há cigarro, há companhia. Numa noite desprovida de
calor, se há cigarro, há um quê de presença. A brasa e a fumaça acalmam e
acolhem ao seu coração solitário. Inconscientemente, ele compreende, que cada
trago revela uma proximidade com o dia seguinte, o amanhã.
...
Olha para o céu e faz pequenas ligações, pontinho por pontinho, como que estivesse a desenhar com estrelas. Já que não pode alcançá-las, brinca, por alguns instantes, com a remota possibilidade de construir constelações partindo do amor. A lua, em forma de sorriso, parece acenar positivamente. Ele então sorri de volta, entorpecido.
...
O caderninho vai acumulando páginas e mais páginas de devaneios diversos. Frases tão soltas quanto a brisa do mar. Versos sobre amor platônico, traços sobre o papel em branco. Páginas coladas, que escodem segredos para a eternidade. Dentre tantas opções, ela escolhera o amor e rasgara o papelzinho. Love, Love... And all she need is love.
...
Seus pensamentos migram como gaivotas. Voam para qualquer lugar sem fazer referência a qualquer hipótese de retorno. Vão e voam e somem no mundo. Lembranças de infância, ideias sobre o presente e uma boa dose de ansiedade pelo futuro, que reside nos segundos subsequentes. O tempo passa e ele nem se dá conta.
Já é dia.