Provavelmente ela não se recorda da primeira vez em que nos
vimos. Coisa rápida, fração imensurável de tempo. Milésimos de milésimos de
segundos. Um olhar distante, despretensioso, algo muito comum para dois
desconhecidos.
Como chegamos até aqui permanece uma incógnita. Caminhos que
se cruzaram naturalmente, almas que se abraçaram com muita força, corações que
se tiraram para dançar, ao fim de noites que poderiam se estender pela eternidade, de uma fração de segundo qualquer, como aquele, em que nos conectamos. Segundo
o amor, é assim que tais coisas funcionam.
E o amor, este, ao qual partilhamos, é um oceano. Não por ser
imenso, ou por não ter fim. É questão de ser um lapso, de sentimento fácil,
algo que simplesmente acontece, como uma onda. O amor, ao qual me refiro, não
se planeja, nem dele muito se espera. Tem a ver com sensações, como as
surpresas, os anseios e o frio na espinha.
Provavelmente ela não se recorda da primeira vez em que nos
vimos, e admito, seria absurdo demais guardar tal lembrança. Um milionésimo de
segundo, onde seus olhos encontraram os meus. Onde o sorriso saltou ao rosto, fazendo minhas bochechas passarem a um tom levemente avermelhado.
Pulso intenso, batimentos desenfreados, confusão mental e a respiração afetada
por algo inexplicável.
Como o gelo de suas mãos ao tocar as minhas, enquanto assistimos a um filme qualquer. Gelo este, que derrete
aos poucos, a cada toque, a cada beijo, a cada novo bom motivo para seguir
adiante. A cada novo bom motivo para esquecer o frio e aquecer os pés debaixo das cobertas. A
cada novo bom motivo para somente a observar enquanto cozinha seu bolo inglês.