segunda-feira, 6 de maio de 2013

A Carta Mais Linda da História

A carta mais linda da história desapareceu. Meus parágrafos voaram para longe, se é que voaram. Minhas ideias sobre o amor ao qual contemplo dissiparam-se numa turbulência de fatos inexplicáveis ou num extravio de bagagens do aeroporto mais próximo à tua casa. Andam roubando bagagens nos aeroportos. Eis um possível destino torto para a carta que lhe escrevi com tanto carinho.

Não era para ser lida. Sequer sentida, nas entranhas do teu peito. De tão linda, perdeu-se. Gerou incômodo nas demais correspondências e fora jogada para fora. Descartada, por assim dizer, dos outros tantos envelopes não tão bonitos. Ou então, o rapaz esqueceu-se da tua morada, passou reto na tua rua sem saída e deixou de entregar a bendita. Pode ter parado para pensar, no pecado que seria, entregar de mão beijada tamanha sensibilidade. Ironias à parte, outra possibilidade. Vai que a carta deixou-se esquecer no fundo da mala. 

Sabendo ser a carta mais linda de todos os tempos, escondeu-se no tempo, e ficou marcada, num ponto qualquer da história. A carta que sumiu entre os dias xis e ipsilon. Quem a encontrou certamente morreu de amores. Imaginou-se em seu lugar e transportou-se para um reino de contos de fadas, onde só existem coisas lindas de se admirar, como a distância que nos separa. E que nos aproxima.

Penso nos olhares perdidos deste leitor, ou leitora. Deliciando-se com cada frase, um orgasmo literário para sujeito algum botar defeito. Não seria surpresa receber uma resposta, uma proposta, tampouco uma visita ou uma investida voraz. A carta mais linda encontrou-se em outras mãos, que não as tuas. Estas mesmas, que acariciaram meus cabelos há poucos instantes. Seu lacre fora rompido cuidadosamente por mãos alheias e isto parece-me um tanto intrigante.

Meus sentimentos detalhados com todo o cuidado, meus oitenta e poucos centavos, espalhados, por um canto desconhecido de qualquer lugar. Não há como negar, uma certa culpa pela negligência ao envio registrado. Monitorado, por computadores de última geração, meu conjunto de palavras-sonhos não perder-se-ia. Tanta tecnologia, para nada. Envelope lacrado, devidamente encaminhado, para as mãos de um entregador, vulgo carteiro.

Outro horizonte. De certo, ficarei atento. Daqui em diante, para com a próxima. Levarei flores à mulher do caixa. Acenarei com um sorriso ao segurança. Levarei dinheiro trocado. Aguardarei o tempo que for necessário na fila, assim como conversarei mais com os frequentadores locais,  possíveis remetentes de cartas tão importantes quanto as minhas. Porém, não tão lindas quanto as que escrevo a pensar em ti.

E aí é que está a beleza das mesmas.