terça-feira, 14 de maio de 2013

Um Imenso Desperdício

Não consigo entender qual é a graça. Qualquer tentativa de compreensão a respeito dos sorriso alheios é completamente vazia. Parabéns aos que sorriem.  Não bato palmas porque julgo desnecessário para com os mesmos. Já basta toda essa felicidade. Ainda que pudesse sorrir de encontro, mas nem isso.

Na vida de um homem existem diversos parâmetros. A cama vazia e a garrafa cheia. A cama vazia e a garrafa pela metade. A cama vazia e a garrafa vazia. A cama ocupada, por um projeto de alcoólatra ao findar de suas madrugadas  razoavelmente poéticas. Litros e mais litros de uísque desperdiçados por um frustrado qualquer. Ainda que vomitasse tudo, mas nem isso.

E qual é a graça? Tal contexto. Um total idiota aos trancos e barrancos, dando tragos em cigarros intermináveis e goles em garrafas que parecem brotar do chão. A graça reside neste viver miserável. Ainda que fosse um grande escritor, um grande cronista, um grande poeta. Ainda que fosse um grande qualquer coisa, mas nem isso.


Com o tempo, desenvolvi um horror imenso em relação à madrugada. Esse silêncio preenche a minha cabeça, como que alertando sobre a solidão que domina a minha rotina e destrói as possibilidades de equilíbrio mental. Ainda que tivesse um cão pra dormir aos pés da cama, mas nem isso.

Acredito no amor. Acredito nessa coisa louca. Quantas vezes me joguei, me espatifei, me levantei e tornei a repetir a ordem de tais fatores. Acredito no arrepio. Na ansiedade. Levo muita fé na falta de sono, na saudade. Gosto de gostar dos outros. Ainda que a recíproca não seja sempre verdadeira.

Qual é a graça? Não sei. Cama vazia, garrafa pela metade. Ainda que esse uísque tombasse e esparramasse sua tranquilidade pelo chão, ainda que a madrugada acelerasse para logo raiar o dia, ainda que um vira-lata moribundo tocasse minha campainha, ou meu coração. Ainda que os sorrisos passassem a fazer sentido.

Certa vez disseram-me que eu era um imenso desperdício, porém, ao que tudo indica, nem isso.