sexta-feira, 10 de maio de 2013

Yakissoba de Rua

Nem sempre quando se é chef existe a obrigatoriedade de comer em casa. Fazer tudo o que for comer, tampouco ficar saindo para restaurantes caríssimos, bistrôs e coisas do tipo. Quem inventou esse tabu precisa ser atualizado dos fatos. Fome é fome, e para matar a fome basta qualquer coisa mastigável. 

Que fique claro, isto não é um incentivo aos fast-foods, o que em geral abomino. Porém, não é assim que funciona, bateu a vontade de comer vai lá e bota o macarrão na água, pica a cebola, pulveriza a salsinha, faz uns quatro ou cinco tomates concassé e beleza, tá na mesa. Certas vezes o tempo é curto e tal desejo de cozinhar simplesmente não desabrocha.

Para isso existem as soluções rápidas (vejam, soluções rápidas; nada tem a ver com fast-foods), como o chinês do yakissoba, todas as noites no mesmo ponto, fazendo a mesma coisa. Ele aquece o wok, joga um cubinho de manteiga, dá uma fritada no frango, adiciona o macarrão pré-cozido junto dos legumes, rega com o molho de soja e pronto. Da embalagem pro prato, do prato pra boca, da boca pra satisfação imediata.

Engraçado esse china. Mal entende o que eu falo, quando digo para caprichar no molho de soja, ou até mesmo quando pergunto se  tem troco pra vinte. Certamente está no país há pouquíssimo tempo. Não dá para saber se é de Xangai, se tinha algum afeto por Mao ou se costumava frequentar as óperas de Pequim.

Certo é que o mesmo convive com a minha cultura, e me oferece um punhado da sua, preparando o meu jantar, ao lado de um ponto de ônibus qualquer. São Paulo não ostenta a pompa de uma Cidade Proibida, ou coisa do gênero, mas tem dessas coisas.

Aqui é possível encontrar um chef de cozinha comendo numa carrocinha, e ai daquele que se opor às soluções rápidas. O ritmo da cidade deveras contribui para tais escolhas. Mas que se dane, nada se compara ao sabor do macarrão tostadinho do fundinho da panela.