Saída pela direita, pela esquerda. Certas vezes é necessário
ter em mente um bom plano de fuga. Saída à francesa, literalmente. Um ruído em
falsete, no terceiro degrau da velha escada de madeira. A hora é agora.
Como disse anteriormente, tal plano deve estar perfeitamente
pronto para ser colocado em prática. Não há tempo para improvisos. Qualquer
lapso de criatividade momentânea torna-se descartável, por completo.
Os segundos subsequentes são determinantes. É como um filme em câmera lenta, onde cada passo
requer muito cuidado. O processo é milimetricamente calculado e demanda muita
precisão. Seja qual for o destino final, imprescindível é o afinco para com
todas as etapas. Um deslize pode custar caro e, em certos casos, até a vida.
Os possíveis paradeiros são muitos. Variam de acordo com o
contexto, se estiver no banheiro, escorra pelo ralo ou esprema-se para dentro
de um frasco de shampoo; se estiver na cozinha, esconda-se num pote de
biscoitos ou abaixo da pia. Nunca no forno, nunca no microondas, os motivos são
mais que óbvios.
Caso o local seja o quarto, fuja, mas fuja também dos
clichês. O armário soa ridículo. Não vá para de baixo da cama. Procure
alternativas viáveis e se necessário, perca a classe. O disfarce de abajur é
sempre uma ótima alternativa. Vista uma fronha, camufle-se junto aos demais
travesseiros ou, em último caso, torça para a cama ter um belo gaveteiro. Do
contrário, corra para o telhado, para a
sacada. Todo quarto possui ao menos uma janela.
Se não houver saída, entregue-se. Esqueça o que eu disse no segundo
parágrafo, proponha um ménage à trois, use e abuse de sua imaginação. Voe alto,
mas lembre-se, truco não é jogado à três e não ouse de maneira alguma dormir em
meio ao casal. A sinfonia de roncos pode ser ensurdecedora.