Ela fala da leveza dos meus versos,
acho bonito. Discorre sobre uma inexistente proximidade com Bukowski, à qual surpreendentemente admiro. Repete, diz que acha bonito. Aparentemente gosta bastante do que digo e
soa um tanto menos maléfica do que parece ser.
Meia luz. Apenas um abajur, para
ser exato. Ela é um colírio para os olhos e não demanda qualquer esforço para
ser percebida diante à semi-escuridão da madrugada em questão.
Observo seu corpo nu, esparramado
delicadamente sobre a cama. Meus olhos penetram profundamente os seus. Lentamente,
caminho em sua direção e não desvio o olhar por um segundo. Sei do pecado que
seria fazê-lo.
Imóvel, ela aguarda e sucumbe à
investida que não tarda. Amor e fúria. Desbravo sua carne e me delicio, sem
pressa alguma.
Diante dos fatos, como que a
alertar sobre um possível desfecho, ela acena com um misto de gemidos e
sussurros, aos quais não procuro compreender. Finalmente satisfeito, recolho
meu corpo ao seu lado. O silêncio sugere infindáveis conclusões.
De repente, um beijo.
E agora sou eu quem não se move.
A paralisia me consome subitamente e não sinto sequer minha respiração.
Paranóia? Não. Busco recobrar meus sentidos, em vão. Muito além dos sintomas
tetraplégicos, nesse momento, sou mais que um simples cretino. Sou um qualquer
cretino totalmente entorpecido.
Quando o beijo finda, seus lábios
tem gosto de morte. Enfim, minha sorte fora lançada. Ela acende um cigarro e se
acomoda na poltrona. Intercala cada trago com um breve sorriso, risada, de
menina travessa. Por Deus, como é
bonita!
Estou a um passo da eternidade e
por incrível que pareça, um desejo, absurdo e derradeiro: outro beijo, tão
intenso e mórbido quanto o primeiro.