sexta-feira, 4 de março de 2016

Scarlett Johansson

Ela abre a porta do quarto e entra devagar, para não fazer barulho. Fecha a porta e caminha em silêncio, ao redor da cama, tateando o armário de canto, a parede perpendicular, a janela semiaberta. A noite escura não permite observar a cena com muita nitidez, somente seu vulto e seu percurso, realizado com perfeição. Ela finalmente chega ao canto da cama, acende a luz da pequena luminária e se deita. Ao seu lado, um corpo estático. Ele dorme um sono profundo. Cansou-se, esbaforiu-se, gozou e apagou. Ela olha fixamente para o teto. Pega o celular, começa a escrever, desiste, o coloca em cima do criado mudo e, no que se inclina para apagar a luz, escuta um grunhido. Ele desperta. Completamente sonolento, mas enfim, desperto.

ELA
Foi mal, não queria te acordar.

ELE
De boa, quanto tempo eu dormi?

ELA
Uns quarenta minutos, uma hora.

ELE
Tá sem sono?

ELA
Tentei dormir um pouco, mas não rolou. Fiquei pensando naquilo que você me falou, sobre a Scarlett Johansson.

ELE
Quê que tem?

ELA
Não sei, acho que você me trocaria por ela sem pensar.

ELE
Provavelmente sim.

Ela começa a rir. Ele começa a rir. Então começam a se beijar. Ela monta sobre ele, segura seus braços e, delicadamente, mergulha sua língua em seu pescoço. Ele a ajuda a retirar a camisola, ou qualquer roupa de dormir feminina, ao qual o nome simplesmente desconhece. Ele gira seu corpo por cima do corpo dela e a agarra firmemente. Lá fora a chuva cai, torrencialmente. A luz da luminária pisca diversas vezes. Ambos não dão a menor atenção. Raios e trovões. Nada demais, perto do calor que se insinua. Ele desliza seu corpo até a altura da cintura dela e então começa a chupá-la, vigorosamente. Ela se contorce toda e procura se segurar na cama. Algum tempo depois, num salto quase circense, ele se levanta e a puxa, colocando-a de costas, ou melhor, de quatro. Penetração forte e constante, intercalada por alguns espaços de respiração contida e sexo lento.

ELA
Mais forte, mete mais forte!

Ele acelera. Ela gosta. Ambos estão prestes a gozar novamente. Ele acelera ainda mais. Ela emite ruídos. Um misto de gemidos e bufadas, enquanto morde o travesseiro. Ele passa a respirar de maneira ofegante. Ela percebe o andar da carruagem. Logo os dois passam a respirar de maneira intensa. Ela goza. Ele goza. Esgotados, deitam um do lado do outro. A chuva continua, agora, sem muito estardalhaço. É possível ouvir cada gota quicando no telhado. Ela acende um cigarro.

ELA
Scarlett Johansson. De agora em diante, eu me chamo Scarlett Johansson.

ELE
É pra te chamar assim?

ELA
Ué, você não gosta? Ela tem aquela carinha de puta...

ELE
Foi só um filme! Tá com ciúmes?

ELA
Nem um pouco, ciúmes eu tenho é da vizinha. Tu acha mesmo que eu não sei que você come a boceta dela quando eu passo uns dias sem vir aqui?

Ela apaga o cigarro e apaga a luz. Ele senta na beirada cama. É impossível prever seus próximos passos. Por enquanto, apenas observa a noite pela janela do quarto. Se fosse possível ler seus pensamentos, arriscaria um palpite! Não, nada de vizinha. Muito menos dessa, que agora repousa do lado direito da cama. Scarlett, Scarlett...