Eis que chega o entregador
de pizza - sujeitinho estranho, meio metro de altura, cofrinho de fora - com
duas caixas na sua mochila quadrada.
- Foi daqui que pediram
pizza? Indagou, rabugento que só.
Alguns jovens do
movimento anti fios de cobre o fitaram por alguns instantes e logo responderam
à pergunta do rapaz.
- Foi daqui sim! Uma de
alumínio e outra de nanotubos de carbono.
- Tá certo não! Nem
alumínio nem nanocarbonos, não trouxe nenhuma dessas duas. Respondeu
encabulado.
- Pois bem. Acredito
que o pedido fora feito para outra pizzaria. Fique tranqüilo, iremos aguardar,
portanto.
O entregador continuou
procurando, levantou as mãos, acenou, botou pra cima a mochila quadrada, até
avistar um outro grupo que se mostrou.
- É a pizza? Perguntou,
um dos representantes do movimento em prol das sacolinhas biodegradáveis.
- É a pizza sim.
- Uma de ecobag e outra
metade lona, metade papel?
- Hum, não. Acho que
vocês pediram em outro lugar, eu não trouxe nenhuma pizza disso aí que vocês
estão dizendo.
- Ok. Então a gente espera!
O local abarrotado de gente
oferecia pouca ajuda ao entregador, que perseverante, seguiu em busca dos
sócios majoritários das pizzas que trazia consigo. Perto de um stand desses, o
rapaz se surpreendeu com uma legião de peitos incrivelmente visíveis,
balançando bem à sua frente. Nunca vira antes uma marcha de perto. Alguns
instantes depois, braços erguidos, chamando-o finalmente.
- Ô da pizza, tava
demorando hein? Se esse negócio estiver gelado eu não pago! Disse o japonês
magrelo, rindo feito uma hiena manca, em seguida.
- Se estão geladas ou
não eu não sei, só abrindo pra ver. Mas se abrir e as pizzas não forem suas,
vai ter de ficar com elas mesmo assim. Normas da casa.
- E é? Tá, confere
então o pedido, mais fácil. Meia de pneu e pára-lama. Outra inteira de guidão.
Garantiu o japonês, do movimento das bicicletas em favor de uma cidade menos
automobilizada.
- Olha só, tem nada disso
aqui não. Terceira vez que isso acontece. Deixa eu conferir o local de entrega
pra ver se era aqui mesmo que eu deveria estar.
O entregador revirou um
bolso microscópico dentro de sua mochila quadrada, a fim de encontrar o canhoto
do pedido com o endereço de entrega. Pronto.
- Avenida Salvador
Allende, 6555. Correto? Aqui não é a tal da Rio +20? Onde serão realizados os
diálogos para o desenvolvimento sustentável?
- É, é aqui mesmo. Mas
só o endereço, porque o lance de diálogo rolou pra caramba, promessas à rodo,
metas à míngua, e de sustentável por enquanto só os copos descartáveis. Vai uma água aí?
- Não, não. Bom, já que
estou de bobeira aqui, vou dar outro rolê, se não encontrar o dono dessa pizza,
parto de volta pra cozinha, deve ter uma tonelada de pedidos me aguardando.
O entregador foi então
rodando pela Riocentro, de um canto a outro, no intuito de cumprir com o seu
objetivo principal, efetuar com total presteza a solicitação. Aqui, ali, lá e
acolá, sujeito bom de caminhada, acabou adentrando uma sala cheia de mais um
bando de gente. Superpopulação, pensou. Prosseguiu timidamente e, na base da
esperteza que lhe é de costume, pegou o microfone e proferiu as seguintes
palavras:
- Eu não tô pra
brincadeira! De quem é essa porra dessas duas pizzas? Interferiu, solenemente.
- Meu nobre confrade, pizza
de quê? Averiguou o homem do terno mais alinhado da história dos ternos super
bem alinhados. Senhor Ban Ki Moon.
- Uma de descrença,
outra de nariz de palhaço. Argumentou o pobre rapaz.
- Era pra nós mesmo,
mas não vamos ficar com ela não. Faz o seguinte então, pica bem picadinha essas
duas pizzas e manda servir lá no saguão, tem bastante gente pra se servir desta
refeição.
O entregador, agora,
dispunha de duas opções. Ou mandava faca na pizza e cumpria com a sua tarefa subseqüente,
ou, partia pra ignorância. Vontade de fincar a faca nos alinhadinhos da porra
da cúpula não lhe faltava.
- A hora é agora. Bravo
e retumbante, pensou o da mochila quadrada.
Botou as pizzas no chão
e disse "NÃO, chega dessa enganação", arriou as calças e bem como um
canhão, olhou pra cara dos pingüins ali, de plantão, e deu um belo dum cagão.
- Merda pra vocês... E
pau no cu do gato.
Subiu as calças e saiu
pela mesma porta por onde entrou. Já do lado de fora, espiou abismado, pelo
vidro em forma de círculo, como todo mundo gosta. Um monte de Zegnas, Chanéis e
Armanis, sorrateiramente, comendo bosta.